Por vitória em primeiro turno, campanha de Lula foca no Sudeste e tenta evitar abstenção

Integrantes do PT avaliam que eleitor de baixa renda, que apoia majoritariamente o ex-presidente, é o mais suscetível a não comparecer às urnas, o que pode influenciar resultado final

  • Por André Siqueira
  • 20/09/2022 12h53
Reprodução/Partido dos Trabalhadores/Ricardo Stuckert Lua e Alckmin Pesquisa Ipec divulgada na segunda-feira, 19, mostra que, se eleição fosse hoje, Lula venceria a eleição no primeiro turno

A pesquisa Ipec divulgada na noite da segunda-feira, 19, voltou a mostrar a possibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vencer a eleição presidencial no primeiro turno, marcado para o dia 2 de outubro. De acordo com o levantamento, o petista tem 52% dos votos válidos, quando são excluídos brancos e nulos. O dado deu novo fôlego à campanha do PT, que definiu uma estratégia para os 12 dias que antecedem a primeira etapa de votação. Segundo apurou o site da Jovem Pan, três pontos são tratados como fundamentais: intensificar agendas no Sudeste, que concentra três dos cinco maiores colégios eleitorais do país (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro), consolidar a votação nas regiões onde o ex-presidente tem ampla vantagem, como no Nordeste, e tentar evitar a abstenção.

Nas duas últimas semanas, Lula vai intensificar os atos de campanha no Sudeste. Na sexta-feira, 23, por exemplo, o ex-presidente deve realizar um comício em Ipatinga, município do interior de Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país. No domingo, 25, o petista vai ao Rio de Janeiro, berço político de seu principal adversário, o presidente Jair Bolsonaro (PL). Nos próximos dias, de acordo com relatos feitos à reportagem, Lula também deve cumprir agenda na periferia de São Paulo ao lado de Guilherme Boulos, candidato a deputado federal pelo PSOL e um dos coordenadores da campanha petista no Estado. Boulos tem alertado a cúpula do PT sobre como o eleitor da periferia é mais propenso a não votar, em razão do deslocamento e de questões financeiras.

A atenção ao eleitor das classes C e D é defendida por Jilmar Tatto, secretário nacional de comunicação do PT. “Nos últimos tempos, abstenção se dá nas classes C e D. Então, o foco é esse. A mensagem para esse povo tem que ser essa é a oportunidade de mudar de vida. Se o cara não vai votar, é porque ele está desiludido. A mensagem vai ser nesse sentido: para vidar de vida, tem que votar no Lula. Vamos focar bastante nessa ideia da importância de votar, tanto do ponto de vista da democracia quanto do ponto de vista de mudar a vida deles. Esse deve ser o foco daqui para frente, porque o voto no Lula e no Bolsonaro estão consolidados, não tem mais o risco de deslocamento do eleitor [de um para o outro]. Por isso, o desafio é buscar esse eleitor que pode, eventualmente, deixar de votar”, disse Tatto ao site da Jovem Pan. Na avaliação de um dirigente do PT próximo a Lula, a abstenção pode ser maior justamente entre os mais pobres, em que a vantagem do ex-presidente sobre Bolsonaro é maior. Entre quem recebe até um salário mínimo, o petista vence por 58% a 20%; entre os que ganham de um a dois salários mínimos, a dianteira é de 24 pontos (51% a 27%).

“Nessa reta final, uma vitória no primeiro turno passa por dois pontos fundamentais: de um lado, consolidar a liderança que nós temos e garantir que, nas regiões em que Lula ganha muito na frente de Bolsonaro, a gente não tenha abstenção. Isso passa pela mobilização nas redes, na campanha de TV, mobilização dos candidatos a deputados, aos governos de Estado, por facilitar o acesso ao transporte público, sobretudo, à população mais pobre, que pode ter dificuldade de chegar até o local de votação. Em segundo lugar, dialogar com esse sentimento de rejeição a Bolsonaro, que só aumenta, isso é muito forte na região Sudeste, para tentar resolver a eleição já no primeiro turno”, afirmou à reportagem o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), um dos interlocutores da campanha de Lula com o mercado financeiro.

A pesquisa Ipec divulgada na noite da segunda-feira mostra que 52% dos eleitores do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) ainda podem mudar seu voto. O PT trabalha com a possibilidade de a maioria deste grupo votar em Lula. Padilha diz, no entanto, que os petistas não farão “campanha direcionada para o eleitor de nenhuma outra candidatura”. O foco, afirma, será abordar “a importância estratégica da eleição em primeiro turno”. “Se ganharmos a eleição no primeiro turno, Bolsonaro terá menos condições de questionar o resultado eleitoral, porque [ele] vai ter que questionar o resultado de 27 governadores, 27 senadores, 513 deputados federais e milhares de deputados estaduais”, explica.

O ex-governador do Piauí Wellington Dias, um dos coordenadores da campanha de Lula, diz que o segredo para a reta final é “apresentar argumentos firmes, com paciência, com muito jeito e respeito”. Dias também faz outro prognóstico: “Em todas as eleições nós conquistamos, no mínimo, mais quatro pontos percentuais na semana final. Por isso estamos otimistas e trabalhando muito para consolidar a vitória no primeiro turno”, afirmou ao portal da Jovem Pan. Dentro do partido, porém, petistas de proa dizem que, apesar de as pesquisas apontarem a possibilidade de Lula liquidar a fatura ainda na primeira etapa de votação, “é importante conter o clima de já ganhou”. A ideia, diz um aliado do ex-presidente, é evitar que uma eventual confirmação de disputa em segundo turno sirva de munição para a campanha do presidente Jair Bolsonaro. “Vão tentar dizer que não resolver no primeiro turno foi uma derrota para nós. Isso é balela, mas precisamos ficar atentos”, afirma. “Nossa campanha está preparada para ganhar as eleições no primeiro ou no segundo turno. A gente não entra em campo para jogar um tempo apenas. Estamos preparados para jogar os dois tempos”, resume Alexandre Padilha.

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