Sem citar Bolsonaro, Rêgo Barros critica autoridade que não quer ser contrariada: ‘A soberba lhe cai como veste’

O ex-porta-voz da Presidência foi exonerado em outubro; no artigo, ele fala sobre promessas eleitorais não cumpridas e sobre o papel das instituições para barrar decisões do “imperador imortal”

  • Por Jovem Pan
  • 28/10/2020 11h06 - Atualizado em 28/10/2020 11h33
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Gabriela Biló/Estadão Conteúdo Ex-porta-voz da Presidência da República, Otávio do Rêgo Barros Ex-porta-voz da presidência teve sua exoneração anunciada em agosto deste ano

Um artigo publicado nesta terça-feira, 27, no jornal “Correio Braziliense”, pelo ex-porta-voz da Presidência da República, general Otávio do Rêgo Barros, traz uma série de possíveis críticas ao governo e ao presidente Jair Bolsonaro. Sem citar diretamente o chefe do Executivo federal, Rêgo Barros menciona a autoridade que “incorpora a crença de ter sido alçada ao olimpo por decisão divina” e que não quer escutar vaias ou ser contradita. Em “Memento Mori”, o ex-porta-voz lembra que “o poder inebria, corrompe e destrói” e fala sobre o risco da estabilidade política em um ambiente em que não há “escravos discordantes leais”, que seriam apoiadores presidenciais, para lembrá-lo “que és mortal”. “Sua audição seletiva acolhe apenas as palmas. A soberba lhe cai como veste. Vê-se sempre como o vencedor na batalha de Zama, nunca como o derrotado na batalha de Canas.”

Adiante, o texto de Rêgo Barros também fala sobre promessas eleitorais não cumpridas feitas como “peças publicitárias” e que elas valem tanto quanto uma nota de R$ 7. Por dificuldades políticas para implementação ou “outros interesses mesquinhos”, o artigo afirma que os planos eleitorais são esquecidos, o que também sugere uma crítica ao presidente da República. “É doloroso perceber que os projetos apresentados nas campanhas eleitorais, com vistas a convencer-nos a depositar nosso voto nas urnas eletrônicas, são meras peças publicitárias, talhadas para aquele momento. Valem tanto quanto uma nota de sete reais.”

Adiante, o artigo, ainda sem citar o presidente Jair Bolsonaro, fala sobre “assessores leais”, que seriam responsáveis pelos conselhos de humildade e bom senso. Ao longo do mandato, segundo o texto, alguns destes “escravos modernos” deixam de ser respeitados e são abandonadas “ao longo do caminho, feridos pelas intrigas palacianas”, o que pode ser uma alusão à exoneração de Otávio do Rêgo Barros do cargo de porta-voz da presidência, fato anunciado em agosto deste ano e oficializado em outubro, após meses de isolamento. O texto cita ainda que por sobrevivência – o que não aconteceu com Barros – os assessores leais assumem uma “confortável mudez” e, com isso, acabam não praticando, por interesses pessoais de se manter no posto, “a discordância leal”. Analisando os fatos, o trecho faz uma possível alusão à falta de posicionamento da ala militar da base do governo após a aproximação de Bolsonaro com o Centrão, estratégia utilizada para melhorar as relações do governo federal com o Congresso Nacional.

Para encerrar, o artigo intitulado “Memento Mori”, expressão latina que significa algo como “lembre-se de que você é mortal” – o que, na visão de Rêgo Barros, falta para essa autoridade – fala sobre o papel fundamental das outras instituições da República para “blindar-se contra os atos indecorosos, desalinhados dos interesses da sociedade, que advirão como decisões do ‘imperador imortal'”, que seria Jair Bolsonaro. “Deverão ser firmes, não recuar diante de pressões”, fala o artigo, lembrando que o povo deverá “demarcar um rio Rubicão cuja ilegal transposição por um governante piromaníaco será rigorosamente punida pela sociedade” e “sussurrar” nos ouvidos do políticos: “Lembra-te da próxima eleição!”, em uma clara menção à eleição de 2022, atual tema de disputa entre governadores e o presidente.

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