‘Terceira via nasceu pulverizada e está fadada ao fracasso’, diz Carla Zambelli

Para a deputada federal, a disputa presidencial de 2022 ficará polarizada entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula, mas descarta a vitória do petista em primeiro turno

  • Por André Siqueira
  • 26/12/2021 15h47 - Atualizado em 26/12/2021 16h01
Michel Jesus/Câmara dos Deputados Deputada federal Carla Zambelli convoca apoiadores a participarem das manifestações no feriado de 7 de setembro Em entrevista à Jovem Pan, Carla Zambelli também falou sobre o ex-juiz Sergio Moro, aliança entre Lula e Alckmin e orçamento secreto

Ferrenha defensora do governo Bolsonaro no Legislativo, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) acredita que a disputa pela Presidência da República ficará polarizada entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas coloca em xeque o resultado das pesquisas eleitorais divulgadas pelo Datafolha e pelo Ipec no início do mês de dezembro. Os dois institutos apontam que, se a eleição fosse hoje, o petista venceria em primeiro turno. Para a parlamentar, a terceira via nasceu “pulverizada” e está “fadada ao fracasso”. À Jovem Pan, Zambelli também afirmou que o orçamento secreto é uma “narrativa” e atribuiu a rejeição ao nome do ex-juiz da Operação Lava Jato e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro ao fato de o ex-magistrado ter deixado o governo federal “pela porta dos fundos”. Confira abaixo os principais trechos da entrevista: 

O ano de 2021 foi marcado por uma série de episódios machistas no Congresso: na CPI, uma senadora foi chamada de descontrolada. Numa comissão da Câmara, um deputado disse para uma deputada ficar ‘quietinha e pianinha’. Como uma mulher parlamentar como a senhora enxerga isso? Eu também fui muito atacada e desrespeitada, mas não encaro esses episódios como um desrespeito por ser mulher. No meu caso, desrespeito acontece por ser conservadora. O Congresso é mais masculino, mas não machista. É desrespeitoso, mas não só como mulher. Não encaro como ambiente machista. Fui desrespeitada diversas vezes, mas em muitas vezes por mulheres. O maior ataque que recebi foi da Joice [Hasselmann, deputada que irá se filiar ao PSDB], que é mulher. Para ser respeitada, tenho que respeitar. Não gero ação grosseira, mas se uma pessoa for grossa comigo, tenho o direito de ser triplamente grosseira na resposta. Quando uma parlamentar começa a querer utilizar como argumento o fato de ser uma autoridade feminina ou feminista, ela tem que estar preparada para ser tratada como política. Quero respeito por ser uma pessoa.

Integrantes do PP diziam que havia um acerto para que a senhora e o deputado Eduardo Bolsonaro fossem os grandes puxadores de voto do partido. Para qual partido a senhora irá? Não bati o martelo porque ainda está muito cedo. A janela partidária ainda não abriu, então não é necessário antecipar essa decisão. A decisão de para onde vou tem que estar intrinsecamente ligada ao que é bom para o presidente Bolsonaro. Se ir para o partido dele for bom, ótimo. Se tiver uma composição para beneficiá-lo em tempo de televisão, estarei à disposição. Recebi convites do PL, do PTB, do PSC e do PP, mas não decidi nada ainda. 

Como a senhora explicará para o seu eleitor esta aliança com o Centrão? Já em 2017, na campanha, Bolsonaro dizia que não seria ditador e que, para governar, tinha duas opções: eleger uma bancada tão ampla a ponto de não depender tanto de outros partidos ou compor com outras siglas. Penso da mesma forma. Quando dizem que fui eleita na onda antipolítica, eu discordo. Sou contra a corrupção dentro de qualquer partido. Além disso, não existe nenhum partido de direita no Brasil. Tentamos criar o Aliança pelo Brasil, mas a pandemia e o fechamento dos cartórios nos inviabilizou e o sonho de criarmos um partido 100% limpo foi por água abaixo. Para governar, temos que conversar com todos, não dá para chegar com o pé na porta. Tem que haver diálogo.

Pesquisas do Datafolha e do Ipec mostram que, se a eleição fosse hoje, Lula venceria em primeiro turno. De acordo com o primeiro instituto, a rejeição a Bolsonaro chegou aos 60%… Segundo as pesquisas de 2018, Bolsonaro não passaria do primeiro turno. Nas simulações de segundo turno, Bolsonaro perderia para todos os candidatos. Depois de 2018, desconfio das premissas dessas pesquisas e vou além: acho que há interesse financeiro em cima dessas pesquisas. Pegam um perfil de pessoas para o resultado que eles querem ter. Sabe por que não acredito nessa rejeição? Recentemente, o presidente esteve no interior da Bahia, onde o PT reina há anos. Bolsonaro foi recebido por milhares. O governador [Rui Costa, do PT] passou por lá e foi xingado. O “Datapovo” é mais eficiente que o Datafolha. Não dá para colocar a mão no fogo por nenhuma pesquisa, porque elas são nichadas. Só vamos saber a real nas ruas e na hora da votação.

Bolsonaro foi eleito como principal voz da pregação antissistema, mas se filiou ao PL, do Centrão. Na campanha, prometeu combater a corrupção, mas foi acusado pelo então ministro Sergio Moro de tentar interferir politicamente na Polícia Federal. O que o presidente tem a oferecer ao eleitor? Bolsonaro nunca foi antipolítica, era anticorrupção. A pauta anticorrupção foi cuidada no sentido de colocar técnicos nos ministérios. O presidente é honesto e correto, fala o que pensa. Reclamam da forma que ele pensa, mas não podem dizer que não sabem o que ele pensa. As promessas de campanha foram cumpridas. Ele quebrou o paradigma da aliança com o Centrão, mas não foi picado pela mosca azul. Não adianta votar só no presidente. Se não tivermos deputados, senadores e governadores que o apoiem, teremos problema.

O que a senhora pensa do agora presidenciável Sergio Moro? É natural que tenha pessoas que acreditem nele. Mas olhe para a forma como ele saiu do governo. Isso reduz o seu alcance. Ele saiu pela porta dos fundos e traindo pessoas. Não defendeu quem merecia e precisava ser defendido. Enquanto esteve no Ministério da Justiça e Segurança Pública, ele não bateu de frente com o sistema muitas vezes.

Ainda falando de 2022, como a senhora vê a possível chapa entre Lula e Alckmin? É totalmente plausível, visto que PT e PSDB, por muitos anos, atuaram em tesoura para fazer parecer que são oposição, mas nunca foram oposição uns aos outros. Em geral, petistas e tucanos pensam de forma idêntica. Um é social democrata e outro é socialista. Quando o PT fez aliança com banqueiros no governo Lula, ele mostrou que tem um pensamento parecido com o dos tucanos. Isso só serve para mostrar que Alckmin sempre foi mais do mesmo. 

A terceira via é uma iniciativa natimorta? Essa movimentação da terceira via é interessante. Espaço, tem. Mas esses candidatos não têm força para ganhar nem de Lula nem de Bolsonaro. A terceira via nasceu fragmentada, pulverizada, está fadada ao fracasso. É interessante pelo debate, porque, na democracia, todo debate é interessante, mas não vejo muito futuro para esses candidatos.

O orçamento secreto não é uma distorção do sistema político brasileiro? Não existe orçamento secreto. Esse tipo de emenda sempre existiu, mas em valores menores. Aumentou por decisão do Congresso e por desapego do presidente no sentido de controlar o Orçamento. Quem sabe melhor o que é melhor para aquelas pessoas que estão lá na ponta da linha: o presidente ou quase 600 parlamentares que têm contato permanente com suas bases? O problema está na narrativa de dizer que é secreto. Só falam que é secreto porque estamos no governo Bolsonaro. Eu sou contra emenda parlamentar. O deputado e o senador não deveriam ter poder de ordenamento de despesa. O recurso não deveria sair da ponta e vir para Brasília. Tinha que ficar na ponta para que o prefeito pudesse investir onde é necessário, mas, já que vem para Brasília, o deputado não pode indicar o melhor caminho?

Mas veículos de imprensa já noticiaram supostos esquemas de desvio desses recursos… A corrupção vai existir com aquele deputado que é ladrão e vai dar um jeito de roubar. Quando indico emenda, eu divulgo tudo. Agora, que tem deputado que pega 10%, 20% ou combina algo com quem vai receber o valor, a gente sabe que tem.

No Twitter, o ex-ministro Ricardo Salles disse que o ministro Tarcísio escolheu o empresário Paulo Skaf como seu candidato ao Senado. Este arranjo está definido? Salles se precipitou quando escreveu que o Tarcísio teria escolhido o Skaf. Quando o presidente Bolsonaro veio para São Paulo cumprir aquela agenda na Fiesp, fiquei ao lado deles [Skaf e Tarcísio] o dia todo. Tarcísio estar com Skaf na Fiesp não indica que ele será o candidato do governo ao Senado. Pode vir a ser? Pode. Vai ser o candidato dos bolsonaristas? Não, isso não foi dito em nenhum momento e em lugar nenhum. Ele também se precipitou quando disse que eu escolhi a Janaina Paschoal [como candidata ao Senado]. Os jacobinos perderam quando começaram a brigar entre si. Nós, os conservadores, não tivemos a oportunidade de ocupar espaço de poder no Brasil. Agora que temos essa chance, essa tentativa de brigar em público, infelizmente, só nos atrapalha. O que diria ao Salles? Vamos aguardar. Falta um ano para a eleição, temos mais três meses para ajustes partidários.

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