Putin e Poroshenko viajam para Minsk para negociar com mediação da UE
Boris Klimenko.
Kiev, 25 ago (EFE).- Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da Ucrânia, Petro Poroshenko, se reunirão nesta terça-feira em Minsk pela primeira vez em quase três meses com a presença de representantes da União Europeia (UE), mas poucos esperam o fim das hostilidades no leste ucraniano.
“Há muito que falar. A crise ucraniana, a terrível situação humanitária no leste do país e a necessidade de um cessar-fogo”, adiantou nesta segunda-feira Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin.
O esperado encontro entre os presidentes acontecerá dentro da reunião entre a UE e a União Aduaneira, que é integrada por Rússia, Belarus e Cazaquistão, na qual serão tratados tanto o conflito ucraniano como a segurança energética, o que mais preocupa Bruxelas.
No entanto, todos os olhares estarão nos presidentes de Rússia e Ucrânia, que se sentaram na mesma mesa em uma única ocasião, durante as comemorações do 70º aniversário do desembarque da Normandia, que ocorreram no início de junho.
A reunião na capital bielorrussa acontecerá em um ambiente de extrema desconfiança, já que Ucrânia e Ocidente acusam a Rússia de fornecer armamento aos rebeldes do leste ucraniano, enquanto Moscou acusa Kiev de massacrar a minoria russa.
Por enquanto, ainda não se sabe se haverá um tête-à-tête entre Putin e Poroshenko, que na Normandia se reuniram na presença da chanceler alemã, Angela Merkel, e do presidente francês, François Hollande.
Tanto o Kremlin como o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, não descartaram hoje tal encontro, mas matizaram que esperam que o mesmo se concentre na crise humanitária no leste da Ucrânia.
Lavrov destacou que Moscou reconhece Poroshenko como o presidente legítimo da Ucrânia e que pediu que o mesmo utilizasse seu poder “para conter a guerra e não para instigar o conflito”.
“Estamos dispostos – e o presidente (Vladimir) Putin disse isso – a participar de qualquer formato que traga resultados e que sirva para avançar do confronto armado, da guerra civil na Ucrânia, para o diálogo nacional”, assinalou.
Por outro lado, Poroshenko garantiu que “a Ucrânia quer a paz”, mas não “em detrimento da soberania, da integridade territorial e da independência da Ucrânia”.
Transgredindo os desejos do Kremlin, o governo de Kiev não parece disposto a suspender a ofensiva contra os redutos rebeldes de Donetsk e Lugansk, e se propõe a vencer a guerra no campo de batalha, e para isso anunciou o rearmamento de seu Exército.
Para os analistas, Putin insistirá em Minsk na necessidade de um cessar-fogo, no fornecimento de ajuda humanitária e na abertura de um diálogo entre Kiev e o leste da Ucrânia.
Em relação a esse assunto, Lavrov anunciou que Moscou planeja enviar um segundo comboio com ajuda humanitária ao leste da Ucrânia e, ao contrário do que ocorreu com o que cruzou a fronteira na semana passada, espera contar com o consentimento de Kiev.
“Ontem enviamos uma nota oficial ao Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia informando sobre o propósito de preparar um segundo comboio humanitário. Estamos convencidos de que é preciso fazer isso no decorrer desta semana”, disse.
A entrada na última sexta-feira de 262 caminhões russos em um setor controlado pelos separatistas foi considerada por Kiev como uma violação do direito internacional, enquanto Putin justificou a ação devido aos muitos impedimentos impostos por Kiev.
A chanceler alemã, Angela Merkel, que apoiou no sábado em Kiev a integridade territorial da Ucrânia, mas descartou sua entrada na Otan, deu hoje um banho de água fria nos mais otimistas ao negar que a reunião de Minsk represente um “avanço” para a solução do conflito.
Contudo, acrescentou, “não haverá uma solução militar para o conflito. Por isso, as conversas políticas são absolutamente necessárias”.
Merkel insistiu na necessidade urgente de uma solução pacífica para o conflito armado, para o que considerou imprescindível um cessar-fogo e o controle sobre a fronteira, porta de entrada de armas e mercenários russos.
A UE, que pensa apresentar a Moscou argumentos positivos sobre a associação entre o bloco e a Ucrânia, estará representada em Minsk pela chefe da diplomacia europeia Catherine Ashton e pelos comissários de Comércio, Karel De Gucht, e Energia, Günther Oettinger.
Enquanto isso, os combates continuam nas regiões de Donetsk e Lugansk. Nesta última, a capital vem sofrendo há 20 dias com a falta de água, luz e combustível, mas os milicianos pró-russos continuam mantendo suas posições.
Kiev denunciou hoje que um destacamento de blindados russos cruzou a fronteira rumo à cidade litorânea de Mariupol, onde teria se envolvido em combates com as forças governamentais, o que foi negado categoricamente pelos insurgentes. EFE
bk-io/rpr
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.