Sem crédito do BNDES, Odebrecht usa recursos próprios para concluir obras

  • Por Estadão Conteúdo
  • 06/05/2016 11h13
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A general view of the headquarters of Odebrecht, a large private Brazilian construction firm, in Sao Paulo in this November 14, 2014 file photo. Brazilian police on June 19, 2015, arrested Marcelo Odebrecht, the head of Latin America's largest engineering and construction company Odebrecht SA, local media said, pulling the most high-profile executive into the corruption investigation at state-run oil firm Petrobras. Federal officers had orders to arrest a total of 12 people in four states and bring them to the southern city of Curitiba where the investigation is based, according to a federal police statement that did not give the names of the detained. REUTERS/Paulo Whitaker/Files Reuters Odebrecht

Sem crédito na praça e com uma carteira bilionária de projetos para tirar do papel, a Odebrecht Transport, braço de transportes e mobilidade urbana do Grupo Odebrecht, tem feito uma via-sacra atrás de crédito, desde que a Operação Lava Jato foi deflagrada, em 2014. A busca, entretanto, não tem sido bem-sucedida. Exemplo disso é que o Aeroporto do Galeão (RJ) e a BR-163 (MT), ambos arrematados em 2013 pela empresa, até hoje não tiveram o empréstimo de longo prazo liberados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

No caso do Galeão, cujos investimentos são essenciais por causa dos Jogos Olímpicos, o banco estatal liberou, em 2014, um empréstimo-ponte de R$ 1,1 bilhão até que a linha de longo prazo fosse estruturada. Como isso não ocorreu, em especial por causa da Lava Jato, o BNDES aprovou, na última terça-feira, a renovação desse empréstimo. O vencimento, previsto para junho deste ano, foi ampliado para abril de 2017, informou o banco.

Ao lado dos sócios no aeroporto, a empresa desembolsou R$ 1,8 bilhão de recursos próprios para concluir obras previstas em contrato e não ser punida pelos órgãos reguladores. Outra concessão que teve de ter o empréstimo-ponte prorrogado foi o da concessionária Rota do Oeste, que administra a BR-163, em Mato Grosso. Nesse caso, porém, a empresa tem até hoje para fechar uma nova fiança para entregar ao BNDES, afirmou uma fonte do setor.

Na prática, isso significa ampliar os custos, já que taxas e juros são renegociados. Num momento extremamente delicado para o Grupo, até essa renovação, que teoricamente seria simples, pode representar um grande entrave. No total, a empreitera negocia financiamento de R$ 10 bilhões no BNDES.

Em nota, a companhia afirmou apenas que a carteira de projetos impacta todo o setor de infraestrutura no Brasil e que a dificuldade de conseguir crédito no mercado está associado ao travamento dos financiamentos do BNDES.

Venda de ativos

O fato é que a dificuldade para conseguir empréstimos diante da enorme carga de compromissos deve resultar na venda de vários ativos. Segundo fontes do mercado, no segmento de rodovias, alguns investidores estão fazendo due diligence (checagem de dados financeiros de ativos) e podem fazer propostas já em junho. Um fundo americano, por exemplo, esta avaliando se entra como sócio ou como financiador da Rota do Oeste. A Odebrecht já confirmou, em outras ocasiões, que busca um sócio na área de rodovias. O processo só não foi adiante por causa da Lava Jato.

Na área portuária, a empresa nega que a Embraport, terminal construído no Porto de Santos em parceria com a Dubai Port World, esteja à venda. Desde o ano passado, a empreitera tenta reestruturar a dívida de R$ 2 bilhões com seis instituições financeiras. A expectativa é que num prazo de até 90 dias haja uma solução para o problema. Especialistas do setor portuário explicam que o volume de investimento da Embraport foi muito alto e que exigia um retorno compatível. Mas o terminal entrou em operação justamente num momento de queda na movimentação de carga.

Outros ativos, com participação minoritária da Odebrecht, poderão ser vendidos nos próximos meses para fazer caixa (as negociações estão em andamento). Segundo fonte do setor, embora os ativos da empresa sejam bons, há uma preocupação com os efeitos da Lava Jato. Companhias de outras áreas do Grupo já estiveram prestes a serem vendidas, mas o processo não foi adiante por causa das regras de compliance.

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