Setor de cana-de-açúcar do RJ resiste em meio a um ambiente de crise

  • Por Agencia EFE
  • 24/09/2014 00h21

Marco Antonio Pereira.

Campos dos Goytacazes, 19 set (EFE).- O setor de cana-de-açúcar passa por um momento cheio de dúvidas e apresenta um cenário de crise, mas no norte do Estado do Rio de Janeiro a luta de uma iniciativa tenta manter viva a principal vocação econômica da região.

A Cooperativa Agroindustrial do Estado do Rio de Janeiro (Coagro) foi constituída há 11 anos – fruto da união de 57 produtores de cana – com o objetivo de salvar o setor do momento ruim, cujos principais reflexos foram a evasão de mão-de-obra, a queda de produção e o fechamento de usinas.

Gerando cerca de 1.600 empregos diretos, a cooperativa deve processar este ano 800 mil toneladas de cana, produzindo 1,3 milhão de sacas de açúcar e 28 milhões de litros de etanol em sua usina localizada na cidade de Campos dos Goytacazes.

Alinhada com a preocupação global com o meio ambiente, este ano a unidade foi a primeira a receber a licença ambiental do Governo, das 22 que chegaram a existir no estado. A Coagro atendeu a 92 itens exigidos, após investimento de R$ 6 milhões para atingir essa meta.

A cooperativa está incentivando o produtor através do subsídio do corte de cana mecanizado, ou seja, aquele que não utiliza a queima para sua colheita. Com preços menores, mais barato até do que se gasta, o produtor sabe dos benefícios para a lavoura, como a redução de adubação e a conservação da umidade do solo, além da redução da fuligem que tanto incomodava a população local.

Segundo o presidente da Coagro, Frederico Paes, a meta é chegar à produção de cinco mil hectares até o fim deste ano. “Estamos incentivando o cooperado com linhas de financiamento através da Caixa Econômica Federal. No momento de crise temos que investir para que quando sairmos dela possamos ter produção”.

Em 2015, as expectativas de beneficiamento da cooperativa são ainda maiores, pois entra em atividade uma nova usina, com previsão de moagem de dois milhões de toneladas de cana, e que vai substituir a atual.

A Coagro disponibiliza aos cooperados para esta safra, 12 colheitadeiras. O equipamento corta a cana em pedaços que medem cerca 50 cm e o veículo de transporte recebe uma tela para que o material não se perca pelas laterais.

Por outro lado, a colheita manual continua, empregando centenas de homens e mulheres. Por isso, a dignidade do trabalhador do campo também é uma preocupação da cooperativa, que assinou e cumpriu os termos do Compromisso Nacional para Aperfeiçoar as Condições de Trabalho na Cana-de-Açúcar, junto à Secretaria Geral da Presidência da República.

Francisco de Assis Correia Mendes trabalha há um ano e cinco meses para a Coagro e se diz satisfeito com as condições: “Me sinto bem e feliz com o serviço, a gente é bem tratado graças a Deus, respeitado por todos”.

Para todo o processo, investimentos para a cooperativa vieram através de parcerias com os governos federal, estadual e municipal. Como exemplos, foi viabilizado em 2013 um financiamento de R$ 12,5 milhões, entre a cooperativa e a Caixa Econômica Federal, para plantio e custeio de insumos.

Com 34 anos dedicados à atividade, o coordenador agrícola da Coagro, Ricardo Monteiro Santiago, acompanhou a EFE na plantação e mostrou todas as etapas do cultivo.

Com relação à atividade de corte manual, as condições mudaram muito nas últimas duas décadas em termos de segurança e pagamento do trabalhador: “Ele é feito com total segurança para o trabalhador, e eles são pagos por produção, mas a cooperativa garante a remuneração mínima ao cortador de cana estabelecido por lei”, disse Ricardo.

Após o processo de preparação do solo e plantio da cana, e também da colheita mecanizada e manual, na usina ela chega em grandes caçambas transportadas por caminhões, passam por um processo de lavagem – a que é colhida manualmente – sendo em seguida encaminhada para moagem e tratamento final do caldo, para se transformar em açúcar e etanol.

Mas apesar do esforço da Coagro, dos investimentos e melhorias para os trabalhadores, uma política nacional mais clara de apoio ao setor parece ser necessária para que seu futuro seja diferente.

“O Governo Federal abandonou o setor, que já perdeu mais de 300 mil empregos. Mais de 70 usinas foram fechadas nos últimos seis anos e só aqui seis usinas em sete anos. A política de abandono não pode ficar pior do que já está”, lamentou Frederico.

Com um horizonte ainda obscuro, o futuro do setor de cana de açúcar no estado e no país é uma incógnita, mas iniciativas de coragem como a da Coagro podem manter o nível e inclusive aumentar a produção da planta e de seus derivados, precisando para isso, pelo menos, que as autoridades reconheçam sua importância econômica. EFE

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