Bolsonaro sempre aparece para salvar Paulo Guedes da turbulência e das perseguições

Ministro está isolado com suas ideias e o apoio que vem recebendo é só jogo de cena para uma plateia que deseja vê-lo afundando cada vez mais

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 26/10/2021 12h53 - Atualizado em 26/10/2021 14h29
DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO Bolsonaro e Paulo Guedes Presidente esteve ao lado de ministro durante pronunciamento na última sexta-feira para falar sobre os rumores de saída de Guedes do governo

O ministro da Economia Paulo Guedes aparentemente teve um dia bom, sem atropelos. O trator que vinha passando por cima dele dentro do governo desacelerou um pouco. E o fogo da frigideira que está fritando o ministro também baixou um pouco. Tanto que Paulo Guedes estava até saltitante nesta segunda-feira, 24, demonstrando mais ânimo quando discursou no lançamento do Programa Nacional do Crescimento Verde, no Palácio do Planalto. Guedes falou para o presidente Jair Bolsonaro e ministros e criticou aqueles que estão revendo para baixo as projeções para o resultado do PIB. O ministro adiantou que o país vai crescer de novo, dizendo que a “conversinha” é sempre a mesma. Primeiro dizem que o PIB vai cair, vai ficar lá embaixo e não voltar. “Aí volta em V”, disse o ministro que, por várias vezes falou em “crescimento em V”.

Paulo Guedes aproveitou o momento para agradecer Bolsonaro pelo apoio que tem recebido, dizendo que o presidente sempre aparece em momentos de crise para renovar a confiança do comandante da área econômica. Está havendo uma debandada no ministério, mas Guedes diz que está tudo sob controle. Disse até com um pouco de emoção que quando parece que está morrendo afogado, o presidente aparece e renova sua confiança para caminhar nessa aliança de conservadores e liberais por um futuro melhor para o Brasil. O ministro não disse, mas deu a entender, que parece um momento mágico, porque Bolsonaro surge sempre nos momentos mais delicados, como o Chapolin Colorado com seu martelo que surge sempre na hora em que alguém em dificuldade pede socorro. “Óh, e agora, quem poderá me salvar?”, diz quem está sendo perseguido. E nesse instante ouve-se a voz: “Eu, o Chapolin Colorado!”. Não, não vamos chamar o presidente de Chapolin Colorado, o herói dos fracos e oprimidos da televisão mexicana. Não. Mas a verdade é que sempre Bolsonaro aparece como o Chapolin e salva Paulo Guedes da turbulência e das perseguições que sofre dentro do próprio governo. Cada vez é uma coisa. O ministro está sempre envolvido em intrigas, diga-se, injustas, da ala política do governo que quer gastar no ano da eleição todo o dinheiro que o  governo nem tem.

Guedes afirmou que está gerindo a recuperação da economia brasileira pós-pandemia e criticou algumas vezes aqueles que andam por aí desacreditando as projeções de crescimento. Guedes chegou a dizer que atualmente o Brasil é o país que mais cresce no mundo. Mas o mercado está desconfiado. Não é fácil acreditar numa conversa assim. O ministro quer distância do pessimismo do mercado e dos economistas que acreditam num crescimento muito aquém do que vem sendo anunciado pelo governo para o ano que vem. Só que entre os que andam por aí dizendo que o PIB será baixo estão os mais importantes bancos do mundo. E isso começou quando Paulo Guedes apoiou a decisão do governo em flexibilizar o teto de gastos. Agora ele diz, até dando ênfase às palavras, que o teto de gastos tem um objetivo de proteger as pessoas abaixo da linha da pobreza por meio do Auxílio Brasil. Nada contra. Absolutamente nada. Mas o ministro Paulo Guedes também está precisando de proteção. Não por pobreza. Não. Proteção porque ele está isolado com suas ideias e o apoio que vem recebendo é só jogo de cena para uma plateia que deseja ver o ministro afundando cada vez mais. Seja como for, o ministro da Economia escapou mais um dia dos seus inimigos dentro do governo. Bolsonaro, na verdade, está só observando no que vai dar. Assiste de camarote. Faz um afago aqui, outro ali, e a situação vai seguindo. Mas vai chegar um dia em que, sem afago nenhum, a peça vai terminar. O teatro não é para sempre. 

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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