Não nos enganemos: nova fase do auxílio amenizará muito pouco a situação caótica do país

Segundo o governo, cerca de 17 milhões de pessoas ficarão completamente desprotegidas no pior momento da pandemia, que parece seguir sem barreira nenhuma

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 16/03/2021 13h10 - Atualizado em 16/03/2021 13h11
Itaci Batista/Estadão Conteúdo Avanço de dois pontos percentuais em preços monitorados puxou revisão de alta da inflação em 2021 De acordo com o governo, o auxílio de R$ 250 será pago a apenas um membro da família durante 4 meses

Milhões, muito milhões de trabalhadores poderão ficar sem os benefícios da Previdência Social. Essa é outra face da pandemia que segue sem os cuidados necessários de combate. A Covid-19 está livre para continuar sua trajetória de doentes e mortes que, no Brasil, é uma das maiores do mundo, a ponto de o país tornar-se motivo de preocupação internacional. A pandemia completou um ano e sem um enfrentamento sério, tratada com descaso, arruinou a economia do país diante dos discursos que não cabem mais na cabeça de ninguém. São 14 milhões de desempregados, gente que deixou de receber o auxílio emergencial e, sem emprego, poderão perder os direitos aos benefícios da Previdência Social, como auxílio-doença, salário-maternidade, auxílio-reclusão e pensão por morte. Esse é o quadro brasileiro neste momento, distante do olhar de governantes ausentes de uma questão crucial. O trabalhador que deixa de recolher a contribuição do INSS por mais de um ano perde o direito a esses seguros. No último trimestre de 2020, pelo menos 4 milhões de trabalhadores que tinham carteira assinada deixaram de contribuir. Isso significa que essas pessoas estão entregues à própria sorte. Some-se a isso os trabalhadores sem carteira, que contribuíam como autônomos e não conseguiram mais pagar. Somam 3 milhões que se declaram desocupados sem esperança alguma de arrumar qualquer trabalho. Resumindo, são milhões de pessoas que já perderam ou estão prestes a perder a condição de segurados. Não têm mais a quem recorrer, no caso de invalidez, por exemplo.

O professor da Fundação Getúlio Vargas Educação Executiva de Previdência, Gilvan Cândido, falando à imprensa neste domingo, 15, observou que a retomada do emprego vai demorar. Não adiantam as promessas feitas diariamente pelas chamadas autoridades do país. Esse quadro sombrio só poderá melhorar em 2022, se o governo conseguir vacinar pelo menos 70% da população ainda neste ano de 2021. Mas a expectativa é tímida, pelo que se vê no país quanto à vacinação que segue lentamente por falta de vacinas. Quando a vacina estava disponível, oferecida ao país em julho/agosto de 2020, o governo se negou a comprar, até por questão ideológica. Quando decidiu comprar a vacina, qualquer vacina, já em 2021, os laboratórios internacionais já tinham assinado compromisso com outros países. Os R$ 44 bilhões para a nova fase do auxílio emergencial deixará de fora uma parcela significativa dos trabalhadores informais. De acordo com o governo, o auxílio de R$ 250 será pago a apenas um membro da família durante 4 meses. Mulheres com filhos terão direito a um benefício um pouco maior, de R$ 375. As pessoas que vivem sozinhas receberão nesse período de 4 meses uma parcela de R$ 150.

Cálculos do próprio governo revelam que 1 em cada 4 trabalhadores que receberam o benefício em 2020 deixará de receber neste 2021. A expectativa assusta: cerca de 17 milhões de pessoas ficarão completamente desprotegidas no pior momento da pandemia, que parece seguir sem barreira nenhuma, até porque quando os governadores e prefeitos decidem restringir a circulação de pessoas, os grandes sábios do país saem em campo com suas espadas contra qualquer medida de isolamento, utilizada no mundo inteiro. Para esses, todo mundo tem que sair às ruas, o que resultará num país de gente doente sem atendimento nos hospitais saturados. O novo auxílio emergencial começará a ser pago em abril, depois das imensas discussões desde 31 de dezembro de 2020. Aquelas reuniões realizadas somente para marcar outra reunião na semana que vem. Nada se resolve com seriedade neste país. É tudo muito devagar. Não nos enganemos. Esse novo período de auxílio emergencial apenas amenizará o mínimo desta situação caótica que chega ao desespero para milhões de pessoas que vivem à margem. Desta vez, o auxílio alcançará cerca de 46 milhões de famílias que vivem na penúria. Brasileiros esquecidos, que pertencem àquela sombra dos que apenas observam o mundo passar em sua volta com uma perversidade que, no Brasil, assumiu um patamar que assusta o mundo.

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