Ricardo Barros vai lutar arduamente para conseguir levar seus parentes para o Congresso

Para o líder do governo na Câmara, a palavra ‘nepotismo’ não existe; os parentes têm direito a um bom emprego e a um bom padrinho na vida pública, aí ninguém reclama de ninguém

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 24/02/2021 11h57
Agência Brasil Deputado Ricardo Barros durante sessão de votação na Câmara Líder do governo na Câmara quer contratar parentes para o serviço público

Olha que lindo: líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros, do PP, defende ardentemente, sem qualquer constrangimento, a contratação de parentes para ocupar cargos públicos. Para ele, a palavra “nepotismo” não existe. De alguma maneira, o nobre parlamentar tem razão. É tudo uma zona mesmo. Qual é o problema? Só que o nepotismo é proibido por lei. Foi proibido pelo STF, que observa tratar-se de uma violação do princípio constitucional da “impessoalidade” na administração. O senhor deputado Ricardo Barros está longe dessa conversa. Ele quer discutir o assunto no Congresso. Em entrevista ao Estadão desta terça-feira, 23, Barros garantiu que, com parentes dos políticos, o serviço público estaria melhor servido. Faz questão de dizer que, nesse caso, é um parente qualificado, não desqualificado. Não. Nada disso. O deputado quer gente boa ao seu lado e nada melhor que um filho, a filha, a esposa, o tio da esposa, o irmão, os cunhados, o avô, o sobrinho, a namorada do filho, o pai da namorada, os três primos e a tia. Tem que ser gente da família. Convicto, o deputado afirma: “O cara não pode ser onerado porque é parente!”. A prática proibida pelo STF atingiu também o chamado “nepotismo cruzado”, quando um deputado contrata a mulher e o filho de outro parlamentar e assim por diante. Ficava uma maçaroca de parentes por todos os lados, todos com bons salários, emprego de dar inveja.

O deputado já teve um caso de nepotismo em 2018. Sua mulher, Cida Borghetti, então vice-governadora do Paraná, na chapa de Roberto Richa, contratou o irmão do marido, Silvio Barros, como secretário do Desenvolvimento Urbano. Deu muita discussão, muito falatório na imprensa de jornalistas mal intencionados, que só desejam o mal para o país, essas coisas. Agora o líder do chamado centrão, Arthur Lira, do PP, foi eleito o presidente da Câmara. Lira está disposto a aprofundar a discussão sobre o nepotismo, dando uma afrouxada na lei de improbidade administrativa, de 1992, na qual as cortes superiores se baseiam para punir a contratação de parentes. Lira quer dar uma afrouxadinha na lei porque entende que a prática do nepotismo não configura crime no Brasil.

Basta retirar o artigo 11 da lei, o que já consta de um relatório como texto substitutivo do deputado Carlos Zarattini, do PT, com o apoio do líder do governo Ricardo Barros. Carlos Zarattini é incisivo: “Se querem que o nepotismo seja crime, façam uma lei e aprovem”, diz ele. Então fica assim. O deputado Ricardo Barros vai lutar arduamente para conseguir levar seus parentes para o Congresso Nacional ou outros órgãos do governo em Brasília ou em qualquer lugar. Afinal, o parente tem direito a ter um bom emprego e um bom padrinho na vida pública. E fica tudo em família, ninguém reclama de ninguém. Por isso que o amor é lindo. As pessoas se amam fervorosamente. E depois a família precisa permanecer unida. O trabalho será mais prazeroso. E todos poderão manter a conversa em dia e falar mal de quem quiser. Quanto a mim, se sobrar uma vaguinha qualquer, eu quero indicar o meu cachorro.

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