Guerra e paz: em se tratando de política, atualmente, não está fácil ser política

Pessoas doces e gentis se tornaram agressivas durante as eleições, e nem os nulos, os brancos, os indecisos ou indefesos foram perdoados

  • Por Bia Garbato
  • 18/01/2023 09h00 - Atualizado em 31/01/2023 13h09
Miguel Schincariol/AFP - 30/10/2023 Vista de um prédio exibindo cartazes dos candidatos presidenciais brasileiros Jair Bolsonaro (para cima) e Luiz Inácio Lula da Silva (para baixo) em São Paulo Polarização causou brigas entre pessoas próximas e encerrou amizades duradouras

Nessas eleições, eu fui original. Não discuti, não briguei, não postei notícias chocantes, não compartilhei vídeos bombásticos, não usei cores simbólicas. Usei laranja (Holanda?), mas é que me cai bem. Pelo que eu vejo, nesse momento, existem dois tipos de Instagram. Tem o homogêneo, o mais tranquilo, e o heterogêneo, o mais desafiador. Adivinha qual é o meu? No primeiro, todos os seguidores são do mesmo time. É como jogar em casa. Você distribui curtidas à vontade e pode postar em paz, com a certeza de que os comentários serão bons. E tem o Instagram heterogêneo, ou rachado no meio, como o meu. Sim, eu sempre fui da amizade generalista, circulando por vários grupos, desde a escola. É bem legal, menos nessa situação. Então pensa: todo dia eu via uma metade agredindo a outra metade. Via pessoas doces e gentis se tornarem agressivas, grosseiras, sarcásticas, irônicas e até violentas. E eu, no meio, apanhando de todos os lados. No dia das eleições, se me fizessem um corpo de delito, tinha olho roxo, baço estourado e, principalmente, um coração em frangalhos.

Vou te dizer o pior: nem os nulos, os brancos, os indecisos ou indefesos foram perdoados. Nem os que travaram as costas, e não puderam votar, foram absolvidos. Omissos, cúmplices, covardes, dramáticos (no caso dos contundidos) e por aí vai. Ou seja, não existiu a opção “não entrar na briga”. Eu nunca fui da política. Não é que eu não me importe. É que às vezes meu microcosmo sensível, chegado a uma depressão, precisa de proteção e cuidados. Aconteça o que acontecer, aqui dentro vai continuar acordando comigo e tem horas que eu preciso votar em mim.

No final das contas, minha meta foi, e ainda é, continuar a ter as pessoas que eu amo a meu lado. Afinal, a vida vai continuar. Se vai ser melhor ou pior não sabemos, já que ninguém consegue prever o futuro (tirando a Lene Sensitiva). Então, nessas eleições, a verdade é que eu me recuso a perder. Me recuso a perder cada um de vocês.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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