Rituais de despedida são essenciais para enfrentar o luto na pandemia

Processos acontecem por meio do diálogo, resolução de pendências, lembranças dos bons momentos compartilhados e pedidos de perdão; em São Paulo, hospital adotou visitas especiais para o adeus

  • Por Camila Magalhães
  • 06/05/2021 09h00 - Atualizado em 06/05/2021 12h51
Mateus Bonomi/Agif/Estadão Conteúdo - 29/04/2021 Cinco pessoas, sendo três homens e uma mulher, presenciam o enterro de um ente querido em um cemitério em São Paulo (três delas estão perto uma da outras, enquanto dois homens estão mais distantes) Ritual de despedida traz alívio, organização dos afetos e uma melhor elaboração do luto

Em uma pandemia, mortes em massa ocorrem em um curto espaço de tempo, afetando de modo muito importante o processo de terminalidade e morte. As medidas de distanciamento social adotadas para conter a rápida escalada do número de infectados pela Covid-19 agravaram ainda mais a interação presencial entre os doentes e seus familiares e amigos. A experiência de luto, entretanto, requer a realização de rituais de despedida e funerários entre doentes em estado grave e sua rede socioafetiva. Os processos acontecem por meio do diálogo, da resolução de pendências, das lembranças dos bons momentos compartilhados na vida, agradecimentos e pedidos de perdão. O ritual de despedida traz alívio, organização dos afetos e uma melhor elaboração do luto.

Neste difícil contexto em que o coronavírus mata uma pessoa por minuto no Brasil, me emocionou saber que o Hospital Municipal do M’Boi Mirim vem adotando a prática das visitas de despedida. Este é um dos hospitais com mais casos de internações e cuidados de pacientes com Covid-19 na zona sul de São Paulo. Sem dúvida, os profissionais de saúde, mesmo sobrecarregados e cheios de funções, têm oferecido um atendimento humanizado e apoio emocional às pessoas hospitalizadas na tentativa de aliviar o sofrimento dos pacientes. Não vamos deixar de nos atentar ao que realmente importa! No dia de hoje, já são mais de 400 mil brasileiros mortos e mais de 14 milhões de casos. É adequado termos medo de que nós mesmos, ou alguém que a gente ama, fiquemos doentes. É adequado sofrermos pela instabilidade social gerada pela pandemia e por nos colocarmos no lugar de pessoas próximas ou desconhecidas. Já perdemos tanto! É preciso buscarmos saídas em saúde mental para facilitarmos o processo de luto das famílias e para tentarmos trazer maior conforto aos pacientes em seus últimos momentos de vida.

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