Além do Champagne, França produz espumantes de exímia qualidade e toques de criatividade incríveis
O interessante é que estas bebidas podem ser produzidas a partir de castas diferentes daquelas da histórica região francesa e, algumas vezes, por métodos diferentes dos tradicionais
O espumante mais famoso e sofisticado do mundo, inegavelmente é o Champagne, que tornou a França reconhecida como o país que produz o melhor espumante do mundo, cultuado e imitado em inúmeras regiões produtoras. Ocorre que a França não produz, de espumante, só champanhe. Há outros tantos de exímia qualidade, com toques de criatividade e tipicidade incríveis e a preços muito mais acessíveis. Mais ainda: eu ouso afirmar que têm versatilidade igual ou maior que o espumante de Reims. O interessante destes outros tantos espumantes é que podem ser produzidos a partir de castas diferentes daquelas da região demarcada de Champagne e, algumas vezes, por métodos diferentes dos tradicionais. A seguir vou declinar alguns outros espumantes, traçando pequenos comentários e trazendo sugestões de rótulos disponíveis no mercado nacional.
Crémant d’Alsace: aqui está uma bela denominação da Alsácia , pouco conhecida mas muito completa porque oferece aos viticultores a possibilidade de fazer crémants com quase todas as castas alsacianas: pinot blanc, pinot gris, pinot noir, chardonnay (exceção) e riesling. Apenas o Crémant d’Alsace genérico pode ser produzido como rosé. Estes vinhos espumantes são elaborados pelo método tradicional; apresenta uma cor amarelo pálido com reflexos dourados, as bolhas são finas e regulares e formam lindos cordões, a espuma é densa. O bouquet aromático evoca notas de frutos de polpa branca como pêssego, maçã e pêra, no segundo nariz estão presentes aromas florais como acácia e tília, seguidos de toques de frutos secos e aromas leitosos (manteiga, brioche). Na boca é um vinho com ataque vivo e bom volume, a bolha é cremosa, o final é fresco e mineral. É apreciado como aperitivo com gougères, à temperatura de 8°C. Minha sugestão de Crémant d’Alsace é o Domaine Jean-Marie Haag Crémant d’Alsace Brut, produzido a partir de um corte de Pinot Blanc, Auxerrois e Pinot Gris, sendo seco e delicado, e um ótimo acompanhante de salmão defumado.
Blanquette de Limoux: este espumante é produzido na região do Languedoc, região quente, é um dos maiores vinhedos do mundo com aproximadamente 250.000 ha (1/3 do vinhedo francês) e está situado no sul da França, entre o Maciço Central e o Mediterrâneo. Sua paisagem idílica, uma mistura de mar e montanhas, recebe vinhas que se desenvolvem em solos de cascalhos ricos em ferro, de areia, calcários, argilosos com bolsões de granito, de gnaisse e de xisto. Tudo depende de onde estão. A variedade de uva faz jus ao tamanho do vinhedo. Para as tintas, Grenache Noir, Carignan, Mourvèdre, Syrah, Cinsault e outras menos utilizadas como Fer Servadou, Lladoner Pelut, Piquepoul Noir, Terret Noir, Aspiran, Aramon, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot Malbec e Pinot Noir. Já para as brancas, a lista não é menor: Grenache Blanc, Grenache Gris, Bourboulenc, Clairette, Piquepoul Blanc, Rolle, Marsanne, Viognier, Roussanne, Maccabeu, Muscat à Petits Grains Blanc, Mauzac Blanc, Chardonnay e Chenin Blanc. Trata-se de uma AOC, assim há regras que devem ser seguidas, bem como castas autorizadas a compor este espumante que prima pela acidez. O espumante que sugiro é o Domaine Antech – Blanquette de Limoux Réserve Brut, de perlage fino, aromas de flores de primavera e frutas de pomar. E na boca, ataque vivo, redondo e harmonioso. Vinho muito gastronômico, pode acompanhar aves condimentadas e, até, carne de porco.
Mousseux de Bougogne (ou Crémant): nesta região, famosa por seus tintos e brancos monocásticos, bem barricados e de delicadeza especial, também se produz espumantes e, diga-se, excelentes. Alessandro Tommasi, do site “winefun”, nos conta que “os Mousseux de Bougogne ganharam maior espaço a partir de 1815, espalhados por três áreas distintas da Borgonha: Rully (na Côte Chalonnaise), Yonne (próximo a Chablis) e o vilarejo de Nuits (na época assim chamado antes da inclusão do nome de seu principal vinhedo)”. A denominação, que produziu 24.280.313 garrafas em 2021 (perdendo apenas para Crémant de Alsace), é surpreendentemente alongada. Uma antiga placa do produtor de Crémant de Bourgogne, Simonnet-Febvre, proclama corajosamente “Chablis et Champagne”. Parece provável que, no passado, Simonnet-Febvre adquirisse uvas de vinhedos hoje delimitados como Champagne. Para o espumante da Borgonha minha sugestão é o Espumante Henri Leblanc Blanc de Blancs Brut, 100% Chardonnay, de frescor especial e boa estrutura, pode acompanhar desde mariscos até uma massa com molho de queijo.
Sair do lugar comum pode ser uma grata surpresa, quando falamos de espumantes. Salut!
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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