Jovem Pan
Publicidade

O velho PT precisa aprender mais com o novo cientista político Lula

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou durante evento no BNDES

Partido mais relevante, amado e odiado do país desde a redemocratização, o PT passou dos 40 anos. O currículo é cinco estrelas, se a constelação for associada ao número de eleições para presidente que venceu. Por sinal, desde que o voto direto para o cargo de principal mandatário foi restabelecido o quarentão PT jamais deixou de ter um candidato entre os dois mais votados. Mas apesar da história de êxitos, o partido precisa se preocupar com o futuro. E as ameaças não estão apenas à direita. Uma das inequívocas tradições do PT nessas mais de quatro décadas de vida é o convívio com o fogo amigo. Nem mesmo Lula, o político mais votado e vencedor da história do país, escapou dele. Nunca é demais lembrar que em 2002, mesmo na condição de favorito à disputa presidencial, o ex metalúrgico e líder sindical foi desafiado dentro do partido e obrigado a encarar prévias contra Eduardo Suplicy. No atual momento, não tem sido diferente. As críticas até que não são diretamente direcionadas a ele, mas à relação do seu governo com o Centrão, que desde que as caravelas de Pedro Álvares Cabral aportaram por aqui a partir do “terra à vista” jamais escondeu o apetite por cargos e verbas.

Publicidade
Publicidade

O insaciável Centrão não faz cerimônia quando reivindica abertamente bilhões em emendas, ministérios com porteira fechada e estatais dotadas de verbas suculentas. É assim ou não tem apoio. No passado, prevalecia o discurso do “é dando que se recebe”, eternizado pelo veterano deputado paulista Roberto Cardoso Alves, na época da Constituinte. Mais tarde, ainda no Lula I, Severino Cavalcanti, que saiu do baixo clero para presidir a Câmara dos Deputados, exigiu nomear um aliado para aquela diretoria “que fura poços” da Petrobras. Tanto um quanto o outro eram Centrão, de versões diferentes, mas ambos sem medo de serem felizes na hora de exigir vantagens. De lá para cá, o que mudou foram os valores. Tudo ficou mais caro, especialmente para um PT que acabou levando de novo a presidência graças ao prestígio de Lula, mas que não conseguiu eleger mais do que 13% da Câmara. Com os agregados, a base fiel mal chega a uns 25%. Então, como governar sem o casamento de conveniência com o Centrão?

Essa foi a conta que Lula apresentou aos companheiros petistas no final de semana. E mais. Lembrou que o PT precisa se reconciliar com a classe média, que abandonou o partido quando passou a ganhar mais. Lula na verdade alerta o PT que sem a reconquista daquela classe C, que no início da década lotava os cruzeiros marítimos, comprava pacote de TV a cabo e matriculava filhos em universidade, não haverá futuro. Ele também cobra do partido a reaproximação com os evangélicos. Está mais do que correto. Talvez para não parecer muito personalista e não melindrar os companheiros, não disse com todas as letras que o PT precisa se preocupar com a sobrevivência no pós-Lula. E nem precisava! Por sinal, análise no conjunto digna de um estudioso cientista social. O recado é claro. Ou o PT alarga sua base eleitoral com a reconquista desses públicos, ou vai definhar. Mesmo à esquerda, a sangria é considerável. O partido do presidente ficou menor que o PSOL em capitais importantes como São Paulo, Rio de Janeiro e Belém. Em Porto Alegre, não tem nome tão robusto quando é o de Manuela D’Ávila (PCdoB).

Talvez o velho PT precise olhar um pouco para a França. Lá, o Partido Socialista, que um dia elegeu Miterrand e Hollande, naufragou em 2022 com apenas 1,75% dos votos conferidos à prefeita de Paris, Anne Hidalgo. À esquerda, o candidato mais votado foi Jean-Luc Mélenchon, com 21,95%. Ficou de fora do segundo turno por míseros 1,20% dos votos. Seu partido é o França Insubmissa, uma versão local do nosso PSOL. É esse o risco que o PT quer correr? Se não quiser, que ouça mais o novo cientista político da praça. O velho Lula!

Publicidade
Publicidade