Inflação de janeiro anima o mercado, mas até quando?

IPCA divulgado nesta terça, embora mais baixo, não exclui a ideia de aumento de juros no curto prazo, e tampouco me deixa confortável com os preços para 2021

  • Por Fernanda Consorte
  • 09/02/2021 14h41
Pixabay/Csaba Nagy gráfico genérico O IPCA registrou alta de 0,25% em janeiro

Hoje tivemos a primeira divulgação da inflação de 2021. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 0,25% em janeiro, bem abaixo do observado em dezembro (1,35%). O mercado, ansioso e imediatista que só ele, já começou a questionar a alta de juros, que até então estava escrito em pedra – haja paciência com esse menino mimado. Birras à parte, uma rápida leitura desse número não me trouxe muito conforto. Primeiro que o item que mais contribuiu para a desaceleração do indicador foi a conta de energia elétrica, que por causa das chuvas permitiu que voltássemos à bandeira amarela, ou seja, os consumidores seguiram pagando um adicional, mas o valor será inferior ao vigente em dezembro. Segundo que houve uma despencada nos preços de passagens áreas, que embora seja um serviço, não é o item mais usado e essencial, ainda mais nessa crise. 

Feitas essas considerações sobre o IPCA de janeiro, vale mencionar que é complicado se apegar tanto a um único resultado, sobretudo quando o acumulado em 12 meses está acima da meta de inflação (4,56% versus a meta de 2021, que é de 3,75%). E olhando para os próximos meses, também fico um pouco na dúvida em relação à projeção do mercado de 3,60% para o final do ano (segundo a pesquisa Focus do Banco Central). O que pode ser uma fonte de aumento de preços em 2021: deveremos ter novas rodadas de auxílio emergencial, e hoje já se fala que não haverá contrapartida em corte de gastos. Ou seja, mesmo que em menor montante, haverá expansão fiscal (ou seja, dinheiro nas mãos da população) para incremento de consumo. Isso gerou inflação em 2020, e deve gerar mais um pouco em 2021. 

Outra fonte de inflação é a taxa de câmbio que, diante do cenário conjuntural ruim, deve seguir pressionada. Lembrando a máxima de que se o Brasil não tiver uma história boa para contar, não teremos fluxo de capital aqui, e consequentemente a taxa de câmbio seguirá alta (qualquer coisa acima de US$/R$ 5,0 é alta na minha visão). E após mais de um ano nesse patamar, fica difícil o custo dos importadores não ser repassado ao consumidor final. Veja o IGP-M (índice de preços no atacado) como está. E fora que se houver mesmo algum aumento no ritmo da atividade econômica conforme a vacinação avançar no país, os pontos acima serão exacerbados. Assim, na minha humilde visão, a inflação de janeiro, embora mais baixa, não exclui a ideia de aumento de juros no curto prazo, e tampouco me deixa confortável com os preços para 2021. Não escrevo nada em pedra, mas sim o que os números me contam. 

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