As quatro ondas invisíveis e permanentes na saúde do Brasil

Para o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, as doenças ‘invisíveis’, a falta da realização de exames de rotina, a interrupção de tratamentos e a violência doméstica ‘são tão graves quanto a Covid-19’

  • Por José Maria Trindade
  • 22/12/2020 13h53 - Atualizado em 22/12/2020 13h56
Carolina Antunes/PR Eduardo Pazuello

A quarentena provocou dificuldades na saúde que estão sendo esquecidas. O ministro Eduardo Pazuello alerta para a quarta onda, ou melhor, as quatro ondas. O mais grave é que as novas ondas não estão por vir, mas já são uma realidade no Brasil. São simultâneas. O afastamento levou pacientes em tratamento contra o câncer a interromperem as idas às clínicas. O ritmo foi reduzido. Os exames de rotina foram suspensos e os diagnósticos precoces, fundamentais no tratamento, não aconteceram. Quando a doença é diagnosticada a situação já está grave demais e provoca mais mortes, mais internações e perdas evitáveis. Outra onda, segundo o ministro, é formada pelas chamadas doenças invisíveis, como diabetes e hipertensão arterial. A situação está crítica segundo fontes do Ministério da Saúde. A quarta onda, segundo enumera Pazuello, é a de violências domésticas. Problemas psicológicos, agressões entre familiares e crimes entre familiares aumentaram e muito, enquanto o foco total está na quarentena e no combate ao novo coronavírus.

“E as ondas não são para o futuro, mas o presente, são simultâneas e tão graves quanto a Covid-19”, segundo alerta o ministro. A prioridade está mesmo agora na vacinação. O presidente Jair Bolsonaro assinou medida provisória para liberar R$ 2 bilhões. O ministro conversa diariamente com os representantes dos laboratórios e a lógica foi invertida. Os executivos procuravam o governo para vender os seus produtos – agora, no entanto, o governo é que procura os representantes dos laboratórios. Como o fluxo se inverteu as exigências estão crescendo.

Os laboratórios querem ficar livres de responsabilidades. A Pfizer chega a exigir do governo brasileiro uma blindagem inédita em termos de mercado. Quer legalmente uma garantia de que não será responsabilizada no futuro por consequências de possíveis danos provocados pela vacina e mais, qualquer judicialização não pode acontecer no Brasil, ou seja, qualquer demanda seria nos Estados Unidos. Pazuello me diz que não pode assinar esta cláusula sem o envolvimento de outros setores do governo e até de outros poderes, como Judiciário e Ministério Público, além da participação do Congresso Nacional.

Esta exigência da Pfizer joga ainda mais dúvidas sobre a vacina experimental. Se o produto é bom e acima de qualquer suspeita, porque a dúvida e o medo das repercussões judiciais futuras? Ao fazer o pedido de blindagem, o laboratório não desmente os comunicados considerados como notícias falsas de que o produto é seguro sob ponto de vista médico para o futuro. O argumento do grupo que atua no governo sobre vacina é de que esta fase considerada emergencial é mesmo insegura. Quem se vacinar deve assinar um termo de responsabilização. Isso para a vacina emergencial. Para as vacinas testadas e comprovadas depois de anos de pesquisa, fica livre desta formalidade. No mais, garante o ministro, cinco dias depois da entrega das vacinas, as primeiras dozes chegam aos braços dos voluntários brasileiros. A vacina não será obrigatória. Por determinação do presidente Jair Bolsonaro, não haverá restrições para os não vacinados. Nada de reter documentos, suspender pagamentos de funcionários púbicos ou restrições de viagens para os não vacinados. O governo pensa inclusive em evitar o termo “não vacinados” para não dividir os brasileiros em mais estes dois grupos.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.