José Maria Trindade: Os próximos presidentes da Câmara e do Senado

Parece uma votação aleatória, mas a disputa pelo poder no Congresso reflete defesa de interesses que nem sempre são republicanos; os grupos já estão fechados e sucessão aberta para o desfecho em fevereiro

  • Por José Maria Trindade
  • 01/08/2020 11h14
Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados Arthur Lira Arthur Lira (PP-AL) é um dos favoritos à presidência da Câmara

A disputa pelas presidências da Câmara e do Senado está aberta. Este é um naco do poder importante e que não passa pela participação popular. Aos presidentes das duas casas do Congresso cabe a definição da pauta de votação, encaminhamento de projetos e vetos, mas o poder maior está no controle do sentido da política. Uma maioria na Câmara funciona como vacina contra a possibilidade de uma aventura chamada impeachment, mas um presidente da Câmara pode nem iniciar o debate. Presidentes da República com adversários nestes dois cargos tiveram dificuldades graves. O presidente Jair Bolsonaro aprendeu rapidamente esta lição e por isso quer participar de forma ativa desta disputa aberta.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), quer forçar a mão e se candidatar. Pelo regimento interno, não pode. O senador Lasier Martins (Podemos-RS) adianta que vai inviabilizar a candidatura de Alcolumbre. Esta situação acaba atrasando o processo aberto de debate na disputa pelo comando dos 81 senadores. Na Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) jogou a toalha. Sabe que é impossível votar uma emenda constitucional para permitir a reeleição e um quarto mandato. Os líderes na Câmara sentem o cheiro do poder e a disputa aumenta. A formação da base no Congresso com o acordo com o Centrão leva o presidente Jair Bolsonaro a uma situação de eleitor importante nesta disputa.

Apesar de não ser candidato, Rodrigo Maia decidiu fazer o sucessor. O grupo é forte, mas não tão hegemônico que possa simplesmente impor o líder da maioria na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). Ele está no páreo. A nova força do governo já tem candidato, o deputado Arthur Lira (PP-AL). A reação do grupo do deputado Rodrigo Maia foi imediata. Primeiro, fortalecer integrantes do grupo do presidente Bolsonaro que estão incomodados com esta situação. O deputado Arthur Lira é um líder informal do governo na Câmara e incomoda os aliados tradicionais.

O primeiro passo da reação foi implodir o Centrão. Saíram o DEM e o MDB, e o bloco perdeu importância, mas não a força orgânica. A disputa pelo poder no Legislativo está em disputa e o processo é montado passo a passo. A fotografia mostra que os dois mais festejados candidatos, Aguinaldo Ribeiro e Arthur Lira, estão na janela e serão queimados. A estratégia é fazer aparecer um nome novo, preservado e que represente uma maioria equilibrada. O DEM voltou a ser vitrine para este candidato e em caso de emergência pode emplacar um candidato viável. A surpresa maior é a volta do MDB à condição de viável para voltar a dirigir a Câmara. O líder do partido, Baleia Rossi (MDB-SP), não tem maioria para impor a candidatura, mas pode ser o nome reservado para representar os setores majoritários e seus interesses no Congresso. O apoio explícito demais do presidente Jair Bolsonaro pode funcionar como o famoso “beijo da morte” para a política de interesses que domina o poder que ainda não se modernizou.

No início de fevereiro as eleições dos presidentes da Câmara e Senado e suas respectivas mesas diretoras vão definir quem manda, mas a disputa já está aberta e corre pelos bastidores. Um jogo cuidadoso e é o momento onde o deputado e o senador, acostumados ao domínio do movimento se transformam em massa de manobra. Por aqui se diz que o menos esperto ficou na primeira suplência. Não é uma disputa de anjos, mas a escolha de um gestor de interesses dos senhores parlamentares. Objetivos republicanos e nem tão democráticos assim, que de tão paralelos, correm com o perigo das operações a caminho do xadrez.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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