Nada mais temido para um político do que a sua ex-mulher

Na história das CPIs, ex-esposas já revelaram esquemas, deduraram comparsas e lavaram a roupa suja em plenário; agora é Pazuello que fica apreensivo com o possível depoimento de Andrea Barbosa

  • Por José Maria Trindade
  • 28/06/2021 12h48 - Atualizado em 28/06/2021 14h45
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Sebastião Moreira/Estadão Conteúdo - 13/03/2000 de conjunto amarelo gema, Nicéa Camargo, ex-mulher de celso Pitta, deixa o prédio onde morava na época da foto; um policial militar aparece na imagem Nicéa Camargo, ex-mulher de Celso Pitta, revelou os esquemas dos quais o ex-prefeito de São Paulo participava

Os senadores da CPI da Pandemia do Senado querem espetáculo. Para sustentar o circo, desenrola-se nos bastidores um debate para aceitar a oferta e levar para o plenário a ex-mulher do general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde. O rancor de Andrea Barbosa é insistente, e ela assegura que tem fotos que mostram encontros suspeitos do ex-marido. Até o presidente da CPI, senador Omar Aziz, desconfia da qualidade das informações, do resultado prático para as investigações e avalia a possibilidade de danos na imagem da Comissão Parlamentar e do Congresso. A estratégia de ouvir ex-mulher não é nova e já produziu espetáculos constrangedores em CPIs. Nada mais íntimo do que uma mulher, ela sabe tudo (ou quase tudo). Quando se transforma em adversária, o estrago pode ser grande. 

A primeira vez que vi uma ex-mulher prestando depoimento em Comissão Parlamentar de Inquérito foi Marinalva Silva, ex-mulher do então deputado Manoel Moreira. Era a investigação sobre roubo no Orçamento (a CPI dos Anões do Orçamento do Congresso). Ela deu detalhes. Reuniões na sua casa, divisão do produto roubado e conversas. A então mulher servia café e ouvia atrás da porta todas as negociatas, sabia quem levava os nacos do dinheiro roubado. Ficou tão evidente que ela falava a verdade, por detalhes apresentados, que o deputado se encontrou sem defesa. Chamado para dar explicações em seguida, ele cunhou a frase: “Quem possuiu uma mulher como aquela, não precisa de inimigos”. Não é bem assim. Uma ex-mulher de um deputado honesto, que não esteja envolvido em falcatruas ou roubos, não pode fazer nada contra ele. 

A ex-mulher do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta também provocou estragos. Apontou contas no exterior, estratégias que ele adotava para saquear recursos públicos e nomes de aliados e comparsas. Foi um estrago tão grande que Pitta nem conseguia falar quando foi se defender na CPI do Banestado, uma investigação sobre evasão de divisas. Tempos depois o próprio ex-prefeito foi à Justiça pedir indenização à ex-mulher por danos morais. O depoimento foi um espetáculo cruel, derramando as intimidades do casal pelo plenário da CPI. Entre risos e constrangimentos, o progresso na investigação foi pequeno. Tudo contra Pitta já estava documentado e o relatório final da CPI do Banestado é um mapa de como o dinheiro roubado em todos os setores navega pelos bastidores da economia.

Outra ex-mulher que provocou confusão e mostrou detalhes sórdidos na lavação de roupa suja em público foi Cristina Caldeira. Conhecida nas rodas sociais paulistas, a ex-mulher de Valdemar da Costa Neto deu muito trabalho e pouco resultado na investigação. Além de depor na CPI, ela deu entrevistas falando de relações pessoais e até íntimas do ex-presidente oficial do PL. Mostrou que a casa do casal era mantida pelo partido político. Na separação, Cristina se recusou a sair do imóvel. “Mas a casa é do PL, o partido é que paga tudo”, diziam os deputados insistentemente. “Não estou nem aí, o meu casamento é com o Valdemar e não com o PL”,  reagiu ela, visivelmente um poço de mágoas. O PL, a mando de Valdemar, mandou cortar o fornecimento de energia. Cristina contratou geradores que ficavam na calçada a um custo absurdo para Valdemar pagar, provocando reclamações no nobre Lago Sul de Brasília. O cheiro do óleo queimado tomou conta e o barulho dos geradores incomodava. Um transtorno político e pessoal.

O entendimento agora na CPI da Pandemia é de que o depoimento de uma ex-mulher no plenário deve ser muito bem avaliado. Não há expectativa de detalhes novos e, para dar espetáculo, o presidente Omar Aziz não quer. A ex-mulher do general Pazuello quer conversar de forma reservada com o presidente e já procurou também outros integrantes da comissão, mas até agora não há decisão sobre ouvir Andrea. Os senadores, experientes, ficam na defesa. Afinal, no plenário da CPI, não falta ex-mulher para trazer a público os segredos das excelências. Recentemente, um deputado entrou em depressão ao cair num golpe no qual ele pretendia ser o protagonista. Programou a separação para ficar com a secretária do seu gabinete. Com antecedência, transformou a amante em testa de ferro. Todas as propinas foram canalizadas para as mãos da futura mulher. Quando o dinheiro já estava em um bom volume, o deputado se separou da mulher oficial, mas, quando achou que ficaria com a secretária, recebeu um fora. Ela se foi, levando todo o dinheiro amealhado durante anos. Ele ficou com os processos na Lava Jato e com o poço profundo do abandono. O pior de tudo é que ficou impedido de ir à Justiça ou mesmo dar queixa na polícia. Os colegas, conhecedores da desventura, só podem consolá-lo. O roubo de produto roubado não sai nos jornais.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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