Partidos do Centrão foram os grandes vencedores destas eleições

Os eleitores não mudaram, os políticos é que se enquadraram ao novo momento; o centro, com maior número de votos, leva nomes tradicionais da política

  • Por José Maria Trindade
  • 30/11/2020 11h09 - Atualizado em 30/11/2020 11h56
JONNE RORIZ/ESTADÃO CONTEÚDO urna eletrônica Segundo turno das eleições aconteceram neste domingo, 29; partidos do Centro saem fortalecidos

O político é como camaleão, se disfarça e imita o ambiente para se proteger. As eleições municipais marcaram definitivamente o fim do bipartidarismo e os políticos criaram uma espécie de federação partidária chamada Centrão. Só que este nome é genérico demais para resumir a política. O centro é que continua mandando com nomes diferentes. Em determinados momentos o PSDB, DEM e PSD se integram e não fazem parte deste grupo que até virou pensamento nefasto e não assumido por ninguém. Uma busca mostra que o setor que manda não existe, não tem líder ou representante. Mas a força mora nas entrelinhas da política. Aí está o verdadeiro poder, os donos dos votos nos municípios. Para se ter poder é preciso ter o próprio poder ou demonstrar força. Mesmo sem existir, o Centrão tem e demonstra ter o mando político. A aposta é de que, em 2022, os prefeitos e vereadores serão os grandes eleitores, famosos cabos eleitorais. A briga é para o domínio do Congresso, o velho cenário de guerra no mundo político. Aí cabe aquela máxima machadiana, “mudaria o Natal ou mudei eu?”. No caso, mudou o Natal. Os eleitores continuam com o mesmo sentimento e os partidos é que se adaptaram para a convivência entre a política e o eleitor. O quadro indica que a existência de 35 partidos é imprópria e o caminho é para a redução para menos de 10 a longo prazo, mas por enquanto a existência da pulverização partidária é a realidade.

O PT perdeu e está mesmo no caminho da redução. Tancredo Neves se referiu ao PDS, como partido dos grotões. O PMDB se sentia imbatível elegendo todos os governadores e controle total do Senado e da Câmara dos Deputados. O PDS dos grotões agora é DEM e volta a crescer. O PT, que nasceu como apêndice mais radical da esquerda dominada pelo PMDB foi ao Palácio, se queimou e está no caminho dos grotões. Antes era só PDS e PMDB. Do PMDB nasceram partidos importantes, como PSDB que sempre atuou como o MUP, Movimento de Unidade Progressista antes de criar a nova sigla. O PDT de Leonel Brizola sonhou em representar os trabalhadores e apareceu o Lula para criar o PT. O partido ganhou o simbolismo de esquerda com o nome trabalhadores na legenda enquanto Brizola sonhou com o trabalhismo que criou a CLT e marcou o início da regulamentação do trabalho no governo Getúlio Vargas. Foi a unificação das leis trabalhistas reforçando o PTB, que já tinha dono na reabertura. Os nomes mudam, mas os discursos e demandas dos eleitores continuam os mesmos.

O retrato atual da política é de que os partidos que apoiam o presidente Jair Bolsonaro e os chamados “independentes”, que tem pastas na Esplanada dos Ministérios, foram os grandes vencedores das eleições. A tropa está unida e o presidente Bolsonaro não apostou forte nas eleições e, por isso, não pode ser considerado derrotado. Deveria apostar, mas não tem um partido forte para fazer esta articulação. Os partidos de centro falaram em nome do governo nas cidades e a decisão do eleitor foi mesmo de aumentar o poder da racionalidade. Em política, o ritual é parecido com a gestão de uma casa. Logo depois do almoço a movimentação de lavar os pratos é apenas um preparativo para o jantar e, logo depois do jantar, o café da manhã do dia seguinte já estará sendo preparado. O calendário mudou e os donos do poder já estão pensando em 2022. Não há inocentes nesta história e tudo é muito bem estudado e avaliado. O eleitor, a grande figura, só aparece para apertar o botão e confirmar os acertos das raposas. Quando estes líderes não se entendem, o povo toma a frente e aí sim, elege um nome que não é fabricado pelo grupo que manda. Portanto, entre os poderosos 2022 já começou.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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