Patrimônio declarado por alguns políticos não dá nem para pagar os carros que usam

A declaração dos bens dos políticos esconde a fraude, o dinheiro some e contrasta com a vida de ostentação de cada um deles

  • Por José Maria Trindade
  • 02/12/2020 11h40
ALLISON SALES/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO Bruno Covas, atual prefeito de São Paulo e que foi reeleito neste domingo, declarou patrimônio de R$ 104.966,68

Constrange saber que temos mais patrimônio do que políticos famosos. Será incompetência deles em lidar com os próprios recursos ou pura malandragem para fugir de ações de recuperação de bens? A resposta não é difícil, as aparências, neste caso, não enganam. Costumo dizer que não há nada no mundo mais difícil de esconder do que dinheiro. Ele grita. Quem fica rico muda tudo, o carro, a casa, a roupa, o salão de beleza, o sabonete e a pasta de dente. Tudo é diferente. Os vizinhos sabem e desconfiam. “Se não for para ostentar, não adianta roubar”,  diz um amigo meu sobre os ricos da política. Mas onde está o dinheiro? Fica difícil responder. Ele some como poeira, mas está em todo lugar.

É assim que constatei que o meu patrimônio é maior do que o declarado por Romero Jucá. Homem forte em todos os governos, foi ministro e senador. Líder do governo em todos os governos recentes e declarou um patrimônio de R$ 194.802,49.  O patrimônio do presidente do MDB até ficou menor com o poder. Caiu 80,3% da última declaração, ou seja, ficou mais pobre com a atividade política. É sempre assim. Quem conhece os senadores e visita as casas, conhece a estrutura com funcionários, carros, barcos e aviões, e se assusta com a pobreza nas declarações. Parece muito, um patrimônio de quase R$ 200 mil, mas a realidade é diferente. Este patrimônio não seria suficiente para pagar o carro que ele usa. Apartamento, nem pensar. Casa, nem a do funcionário dele seria comprada por este valor. Tomei a declaração do ex-senador Romero Jucá por ser ele conhecido, mas é assim na política. 

Vamos aos prefeitos eleitos agora. A exigência legal para declaração de bens não é só para políticos, mas também para funcionários públicos. O objetivo é comparar o antes e o depois do poder. A pobreza na política é tão grave que o candidato a prefeito de Goiânia, Vanderlan Cardoso, do PSD, declarou prejuízo. Depois de um mandato, a declaração dele apresenta um buraco de R$ 12 milhões. Isso mesmo, Vanderlan declara que perdeu quase R$ 12 milhões exercendo o poder. Ele tinha um patrimônio de R$ 26 milhões e ficou com R$ 14,7 milhões. Mas o comum é o prefeito já entrar pobre. O prefeito de Boa Vista, em Roraima, Arthur Henrique, declarou zero. Não tem nada. Nem uma bicicleta, aparelho de som, canoa ou carro e muito menos casa. Zerado, entra para quatro anos de mandato como prefeito da capital. Não é crível, ou é no mínimo estranho que o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, tenha um patrimônio de R$ 104.966, 68. Um profissional como ele, economista, advogado, foi deputado federal e vice-prefeito e depois prefeito e não tenha dinheiro para comprar um bom apartamento é de dar pena. Ou é altruísmo demais ou incompetência financeira. Esse patrimônio é inferior ao valor de um carro médio. Não estamos falando de um cidadão comum, mas de um integrante da elite financeira de São Paulo

João Campos acaba de ser eleito prefeito de Recife, em Pernambuco. O patrimônio declarado por ele é de R$ 242.769,80. Só que, apesar de jovem, com seus 26 anos, ele já foi secretário municipal e é deputado federal com um bom salário. Herdeiro de um ex-governador e influente político que morreu a bordo de um jatinho próprio e deixou uma herança respeitável. Onde está o dinheiro? Sabe-se lá. Pelo menos o patrimônio do João Campos é mais do que o dobro do patrimônio do prefeito de São Paulo, Bruno Covas. 

O prefeito eleito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, também já está com uma vida profissional longa. Foi secretário de estado, deputado federal e duas vezes prefeito. O patrimônio é um pouco maior, R$ 478.358,42.  Um valor insuficiente para uma casa própria. Um apartamento, por menor que seja, não pode ser comprado com este valor num local bom do Rio de Janeiro. O bom mesmo é Porto Velho. Por lá, no estado de Rondônia, a situação muda. O prefeito eleito, Hildon Chaves não se envergonha do patrimônio e exibe a declaração de mais de R$ 20 milhões. Ele administra um complexo educacional que evidentemente vale mais, mas pelo menos não está tão longe da realidade. Hildon Chaves chegou na cidade como promotor. Para se ter uma ideia, o ex-presidente Lula, quando registrou a candidatura à presidência da República, marcou lá que tinha um patrimônio de mais de R$ 7 milhões. A maior parte em aplicações. Este cresceu o patrimônio que consta ainda apartamentos de R$ 80 mil reais. A conclusão que o melhor negócio do mundo é comprar patrimônio de político pelo valor declarado e depois vender por metade do valor real. 

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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