Trindade: Já em campanha, Bolsonaro tem plano traçado para reeleição

O presidente Jair Bolsonaro é candidato à reeleição e já está em campanha. Mais do que discursos, o governo elabora projetos para dar sustentação política

  • Por José Maria Trindade
  • 10/08/2020 07h22
Isac Nóbrega/PR Enquanto os adversários não se organizam, Jair Bolsonaro corre sozinho na disputa eleitoral que só acontece em 2022

Forças políticas já se aglutinam para a disputa das eleições de 2022. Estamos ainda no ano das decisões municipais, mas o foco é mesmo para a sucessão presidencial. O presidente Jair Bolsonaro sai na frente e nada de ficar na defensiva, parte para a rua e lança projetos agressivos com objetivos claros de se fortalecer. A estratégia é parecida com a do ex-presidente Lula, que, encurralado pelo mensalão, abriu o processo sucessório para se defender e foi reeleito. A disposição do presidente Bolsonaro e aliados é de não se intimidar com as disputas abertas, inclusive contra veículos de comunicação e partir para a campanha antecipada.  A estratégia pegou de surpresa os adversários tradicionais.  Os partidos e grupos políticos de oposição ao governo não definiram candidatos. O ex-ministro Sergio Moro parece ser o adversário mais cotado do momento, mas o fôlego de uma campanha depende muito de variáveis que ainda não foram colocadas.

O presidente Jair Bolsonaro se prepara. Foi convencido a se afastar de forma cirúrgica do imbróglio do seu filho, o Zero Um, senador Flávio Bolsonaro e o “cheio de rolos”, Fabrício Queiroz. Depois, evitar choques com o Supremo e líderes no Congresso Nacional. A nova postura chamada de “Jairzinho paz e amor”.  O presidente assumiu a candidatura à reeleição para afastar qualquer possibilidade de aliado entrar na aventura. Orientado por pesquisas, adotou alvos certos de dois ex-ministros: Henrique Mandetta, que ocupou a Saúde no início da pandemia do coronavírus, e Sergio Moro, o ex da Justiça e Segurança Pública. O governo está direcionado para 2022, ou seja, a reeleição. Não necessariamente com o mesmo vice, o general Hamilton Mourão. A repaginação é visível e tem reflexos na economia. Os gastos aumentaram neste ano e os debates internos projetam um governo mais aberto a projetos sociais e com possibilidade de quebra do teto de gastos, uma espécie de seguro da política fiscal que, na Constituição, proíbe aumento de gastos obrigatórios acima da inflação.  A equipe econômica tenta resistir o que já é uma tendência na nova postura do governo.

No Congresso, os líderes do Centrão, gostam da ideia.  Uma linha de recursos para aliados no Congresso já está aberta.  O senador Major Olímpio fala claramente da oferta de R$ 30 milhões para turbinar a reeleição de aliados. Ele diz que quis saber se a liberação seria para todos e ouviu que era um privilégio de apoiadores do governo. A nova base do governo tem efeitos importantes. Primeiro, blinda o presidente contra aventuras, inclusive de pedidos de impeachment. Evita as chamadas pautas bombas e serve de apoio para o projeto reeleição. Cada eleição tem as suas características e a próxima pode depender muito de apoiadores de peso na política e é isto que a nova estrutura no Congresso pode definir.

No governo, dois eixos estão montados. Um na área social e outro de projetos na economia. Na Casa Civil, o Pró-Brasil já está montado e é ambicioso. Investimentos em R$ 40 bilhões de reais diretos do orçamento e mais R$ 60 bilhões de participação de investimentos privados.  Uma espécie de PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento, marca do governo petista. A proposta agora é dar rapidez ao processo. Concluir obras em andamento e investir em projetos rápidos com resultados até 2022. O ministro-chefe da Casa Civil, Braga Netto, já tem o cronograma pronto e quer uma esteira de inaugurações a partir de agora até 2022. O mapeamento mostra pequenas obras faltando pouco para conclusão e outras em andamento que podem ser inauguradas nos próximos meses.

Na área social é que está o trunfo maior. O presidente Jair Bolsonaro gostou dos dividendos eleitorais do salário emergencial de 600 reais. O projeto salvou a economia, segundo avaliações do governo. Mais do que isto, turbinou a popularidade do presidente que chegou a pontos inimagináveis invadindo territórios petistas no Nordeste. Isto arrasta apoio político no Congresso e agrega deputados e senadores em busca da reeleição. Ponto para o governo. O salário emergencial deve ser prorrogado até dezembro, embora em valor menor. No ano que vem deve ser implementado outro projeto que terá uma abrangência política forte, o Renda Brasil. O lançamento será a repaginação do Bolsa Família, que ficará maior, chegando a R$ 300 reais. O presidente, para o desespero da equipe econômica, descobriu o mapa da mina política e está lidando muito bem neste terreno.  Enquanto os adversários não se organizam, Jair Bolsonaro corre sozinho na disputa eleitoral que só acontece em 2022, mas que já está aberta agora. Paixões à parte, a reeleição é a lógica.

*José Maria Trindade é repórter e comentarista de política na Jovem Pan.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.