Lula e Bolsonaro têm suas diferenças, mas o mesmo pai: ambos são filhos do populismo

Quando uma eleição se aproxima, os candidatos, sejam eles de qualquer espectro político, utilizam-se das mesmas armas para tentar sensibilizar o povo

  • Por Paulo Mathias
  • 31/10/2021 08h00
Vincent Bosson/Fotoarena/Estadão Conteúdo - 12/09/2021 Boneco do Lula e de Bolsonaro juntos, parcialmente encobertos pela bandeira do Brasil, durante manifestação contra Bolsonaro na avenida Paulista Muitos eleitores que não votarão nem em Lula nem em Bolsonaro no ano que vem acreditam que os dois têm muitas semelhanças

Nesta quinta feira, 28, o governo federal anunciou o fim do programa Bolsa Família, instituído pelo Partido dos Trabalhadores (PT), após 18 anos. Na sexta-feira, 29, o programa pagou seus últimos beneficiários antes de sair de cena. Porém, foi criado um substituto, o Auxílio Brasil. E aí eu me pergunto: qual a intenção por trás de medidas tão semelhantes em governos que se caracterizam como opostos, com crenças e valores distantes entre si? Para mim, há somente uma resposta, um conhecido de longa data: o populismo. Quando uma eleição se aproxima, os candidatos, sejam eles de qualquer espectro político, utilizam-se das mesmas armas para tentar sensibilizar o povo. E nada melhor do que um auxílio mensal par firmar esse compromisso com a população brasileira.

Porém, para os 14,8 milhões de beneficiários, de acordo com o Ministério da Cidadania, o que está por vir é a expectativa e a incerteza sobre esse novo programa. Quanto ao valor de R$ 400,00, estabelecido pelo governo, será pago a partir de dezembro deste ano. Em novembro, haverá apenas um reajuste de 20%, mantendo o calendário do Bolsa Família. Segundo a pasta, para que se cumpra o planejamento, o “ideal” seria que o Congresso aprovasse, até o fim de novembro, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios. Em uma declaração, de forma escancarada, o presidente Jair Bolsonaro chegou a comparar o programa Bolsa Família a uma forma de “condução coercitiva” do PT para a população mais carente e afirmou que o programa serve para “angariar votos”. Diante dessa afirmativa — e da decisão em continuar o programa, embora com uma nova vestimenta —, entendo que quem vence essa disputa partidária é o tal do populismo, presente nos governos que se sucedem no decorrer de nossa história.

Existem, para o populismo, diferentes interpretações. A propósito, nas últimas duas décadas, ele tem sido alvo de críticas. Aplicado em grande parte dos países, hoje em dia se faz presente nos diferentes continentes. Na América Latina, especialmente, retrata a realidade de seus países. Por exemplo, o governo de Hugo Chávez, na Venezuela. Ou Getúlio Vargas, aqui no Brasil. E Juan Domingo Perón, na Argentina. Contudo, quando se transporta essa realidade para nosso país, em especial, há ainda bastante controvérsia entre os estudiosos a respeito do termo, fazendo uma distinção entre o populismo clássico de Getúlio, nos anos 50, e o do governo de Fernando Collor de Mello, no início dos 90.

Quanto a Lula e Bolsonaro, pode-se dizer que são crias de um mesmo pai, o populismo. Lula, na década de 70, foi visto como o salvador da pátria que nos tiraria de uma ditadura militar e nos colocaria diante da democracia novamente. Pura balela. Com a sua prisão, esse espaço de um falso Robin Hood das camadas mais necessitadas precisou ser preenchido. Foi aí que Bolsonaro entrou em cena e se tornou uma força política extremamente significativa. Com isso, o Brasil continua vivendo em meio a governos ilusionistas, populistas e que não pensam a médio e longo prazo.

Por isso, podemos dizer que tanto Lula quanto Bolsonaro exercem descaradamente o populismo, pois, na realidade, nenhum deles, ao criar esses programas assistencialistas, como base para seus ideais populistas, pensou em projetos efetivos de distribuição de renda. Seus programas se tornaram meramente eleitoreiros, criando uma dependência maléfica dessa população mais pobre frente aos recursos disponibilizados ao longo dos anos. Enquanto que programas que abrissem um número maior de vagas de emprego, desburocratizassem a área pública e estimulassem o livre mercado no país seriam muito mais fundamentais para reestruturar a nossa nação. E nós, brasileiros, nos encontramos no meio dessa disputa há décadas, nas quais imperam o atraso e a desesperança. Ponto para o populismo, mais uma vez.

*

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.