Cada país tem o Barroso que merece

Próximo presidente do STF foi flagrado aos papos com Joesley Batista em uma confraternização em Portugal

  • 29/07/2023 08h00
Carlos Moura/SCO/STF Luís Roberto Barroso Barroso deve assumir a presidência do STF em outubro, com aposentadoria de Rosa Weber

O show patético de nosso Judiciário parece não ter fim, a última foi a desastrosa fala de Barroso, dizendo literalmente “nós derrotamos o bolsonarismo” ‒ obviamente, mal interpretada por vocês, conservadores ineptos (contém ironia). Agora o mesmo Barroso foi flagrado aos papos com Joesley Batista em uma confraternização, em um hotel de luxo em Portugal, após um evento jurídico organizado por um instituto ligado a Gilmar Mendes. O momento do encontro foi filmado e, com aquela prudência dos jornalistas sob ditaduras, o ato foi questionado pelos pares de redação nessa semana passada. Com Barroso levando palmadinhas de plumas nas ancas de nossos aguerridos jornalistas imparciais, parte da mídia tradicional chegou até esboçar sua meia-revolta ao ver um ministro do Supremo com um público condenado por corrupção ‒ ou “ex-condenado”, sei lá, depende do humor dos caras lá de cima ‒; condenado esse que, com seu irmão Wesley, negocia seu acordo de leniência com a justiça brasileira. O Brasil, definitivamente, não é para amadores.

Não quero supor nada aqui, pois supor é coisa de bêbados e analistas na hora do banho, mas com o Barroso tudo sempre é um mal entendido, já notaram? Todos distorcem suas intenções, falas e posturas, os que o acusam de comunista militante ou progressista histérico, logo se enganam, pois, na verdade, jura ele, é antes um democrata resoluto e sofisticado. Quando o “nós” dito por ele às hienas socialistas da UNE foi interpretado como sendo uma confissão de compadrio de militância política, como uma saudação do tribunal militante que ele representa aos militantes que por eles são representados, logo surgiu aquela típica notinha à imprensa desmentindo a interpretação “obviamente errônea” de todo o país. Fato é que, ou Barroso se expressa muito mal, habita eventos muito tendenciosos, tem amigos e parceiros muito mal vistos pela sociedade civil, tudo isso sem culpa alguma por esses “males”, ou há, em curso, uma terrível conspiração para derrubar o nosso mais iluminado “iluministro” de todas as eras. Ingênuo imprudente ou vítima dos tios do zap?

Mas, sendo sincero, meus caros leitores, não vejo sequer um motivo para Barroso mudar de postura hoje, para buscar sensatez em suas aparições e discursos, afinal, nós nos acostumamos ao bizarro jurídico, ao inaceitável político, à normalização do absurdo na administração estatal deste país. Paremos de hipocrisia. Nosso atual presidente eleito, aquele louvado pelos progressistas, nunca escondeu seus fetiches por ditadores. Ultimamente até dedicou esforços políticos infindáveis a Maduro, ao mesmo tempo que escudava, como um irmão mais velho, o despotismo cada vez mais soviético de Ortega na Nicarágua. Vamos ser sinceros por um instante, o país que elegeu um presidente que sustenta Maduro e Ortega em seus ombros ideológicos, não pode reclamar ‒ em nome da coerência ‒ de ministros tendenciosos que agem como politiqueiros de boteco e animadores de palco em comícios. Quem planta mandioca não pode acordar esperando colher morangos, não é mesmo? Barroso é o tipo de ministro que durante décadas lutamos para ter aqui: o militante que guarda as liturgias jurídicas como penduricalhos de vestimenta, e não como princípio de regência de conduta.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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