A candidatura de Rodrigo Pacheco só é surpresa para quem olha para um jacaré e enxerga uma capivara
Após comer o pão que o diabo amassou nas mãos de Maia e Alcolumbre, Bolsonaro apadrinhou os atuais presidentes das casas legislativas, mas ganhou como adversário um Rodrigo ainda pior
Alguns fatos são tão evidentes que só não vê quem não quer. Já dizia o “filósofo” Leonel Brizola: “Se tem rabo de jacaré, couro de jacaré, boca de jacaré, olho de jacaré, corpo de jacaré e cabeça de jacaré, como é que não é jacaré?”. Pois é, só não viu o jacaré quem não quis. Rodrigo Pacheco, com suas atitudes afáveis e seu jeito escorregadio de se expressar, dava toda a pinta de quem estava de olho na cadeira presidencial. E não estou fazendo essa afirmação agora que ele foi confirmado como candidato à Presidência da República nas próximas eleições, pelo PSD. Quando Gilberto Kassab, presidente nacional do partido, no último sábado, dia 23, fez o anúncio da candidatura de Pacheco em evento realizado no Rio de Janeiro, pensei: “Eu sabia”! Vamos aos fatos.
O corpo do jacaré. Quem acompanha meus textos aqui nesta coluna, vai se lembrar do que eu disse recentemente: Rodrigo Pacheco, com aquele jeitão mineiro de ser, circula com fala mansa e escorregadia. Quem olha para ele, vê logo um rapagão com cara de bom moço, que passa a impressão de ter sido criado em apartamento fechado, mais pela avó que pela mãe. Fica difícil perceber que, por trás de seus trajes impecáveis e modos de um verdadeiro lorde, se esconde uma vontade obstinada de chegar lá.
O olho do jacaré. Quando político desconversa, está dizendo sim. Ele afirmou que não discutiria agora o processo eleitoral para 2022, pois seu compromisso era com a estabilidade do país e que isso demandaria foco nos muitos problemas em 2021. Comentei no texto que essa declaração era sinal claro de que não descartava a ideia de concorrer. Além disso, o jacaré também abriu a boca em outras lagoas. Rodrigo Pacheco, mesmo tendo sido apoiado por Bolsonaro para ocupar a presidência do Senado, não hesitou em trabalhar para minar a imagem do chefe do Executivo. Nem discutiu quando o ministro Barroso exigiu que a Casa aceitasse o pedido para instauração da CPI da Covid-19.
Ok, vamos imaginar que ele não poderia dizer não à interferência do poder Judiciário no Legislativo. Por baixo das águas mansas e serenas de um regaço, há turbulências desconhecidas, mas não a um jacaré. Então, tudo bem. Só que o presidente do Senado não parou por aí. Nem pestanejou ao dizer sim para a prorrogação da CPI quando todos já haviam constatado que as sessões haviam se transformado em palanque político, com o objetivo claro de enfraquecer Bolsonaro. Outra demonstração de que agia para minar a figura do presidente da República e, assim, aumentar suas chances de vestir a faixa, foi sua impassividade na campanha do voto auditável. Não moveu uma vírgula para apoiar a proposta do presidente. E para reforçar os argumentos de que Pacheco pretendia jogar casca de banana na passarela de Bolsonaro, podemos relembrar quando defendeu Omar Aziz na contenda contra o ministro da Defesa, Braga Netto. É só uma amostra. Não há dúvida de que o presidente do Congresso trocou de trincheira.
Como eu disse em outra análise sobre o atual momento político: Bolsonaro comeu o pão que o diabo amassou nas mãos de Rodrigo Maia e David Alcolumbre. Por isso, apadrinhou Arthur Lira e Pacheco. E, em pouco tempo, descobriu que ajudou a eleger para a presidência do Senado um possível adversário, um Rodrigo ainda pior. Identificando o jacaré em todas as suas dimensões, eu disse no mesmo texto: Pacheco só perambula na moita. Articula aqui, conversa ali e vai aplainando a estrada para conquistar seu objetivo de chegar ao Planalto. Já que ando acertando no alvo nas minhas previsões, aqui vai mais uma. Por mais articulado e estrategista que seja Pacheco, embora as eleições sejam apenas no final do próximo ano, para cair nos braços do povão terá de percorrer muita estrada. E com as pernas curtas do jacaré, sei não. Nessa corrida presidencial, acho que essa terceira via nem paga placê. Siga pelo Instagram: @polito.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.