Bolsonaro é um fenômeno eleitoral semelhante a Trump?

Expressão ‘procurar pelo em ovo’ poderia esclarecer de forma definitiva o que tentam fazer o tempo todo com os dois ex-presidentes

  • Por Reinaldo Polito
  • 24/08/2023 09h00 - Atualizado em 25/08/2023 08h05
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Alan Santos/PR Jair Bolsonaro acompanhado do Senhor Presidente dos Estados Unidos Donald Trump, posam para fotografia Jair Bolsonaro visitou Donald Trump nos Estados Unidos em 2020

O que fazem com Trump nos Estados Unidos é, para muitos, bem semelhante à situação enfrentada por Bolsonaro no Brasil. A expressão “procurar pelo em ovo” poderia esclarecer de forma definitiva o que tentam fazer o tempo todo com os dois ex-presidentes. Deixam de discutir as questões mais importantes do país para procurar aqui e ali detalhes que os desgastem ou incriminem. São mencionadas algumas das ações movidas contra o líder republicano. A mais recente foi a de ser acusado de tentar alterar na Geórgia o resultado da eleição de 2020. Nesta quinta-feira, 24, ele se entregou à Justiça do Estado, foi fichado e liberado após pagar fiança equivalente a quase R$ 1 milhão. Para sustentar sua tese, a procuradora Fani Willis escarafunchou uma daquelas leis que só vêm à tona depois de certo malabarismo intencional. E ele foi incluído em uma lei aplicada contra quadrilhas. A pena para esse crime é pesada. Varia de 5 a 20 anos.

Segundo os acusadores, “o grande crime de Trump”, juntamente com os outros aliados, foi o de ter se negado a reconhecer a derrota nas eleições. Além disso, de acordo com a procuradora, o grupo participou de conspiração para mudar a seu favor o resultado do pleito. Esse Estado é obstinado no combate ao ex-presidente. Ali já são 13 acusações de tentativa de fraudar as eleições. Outra ação conhecida, e que mereceu ampla repercussão ao longo dos últimos anos, foi movida pelo procurador especial Jack Smith. Ele acusa Trump de enfraquecer a democracia americana. Segundo sua peça de acusação, em 6 de janeiro de 2021, ele instigou seus seguidores, que se reuniam nas proximidades do Capitólio, a “lutar como demônios” para rechaçar os resultados da eleição em que fora derrotado. 

A lista de bombardeios é longa. Em um rápido retrospecto, houve o caso dos “Arquivos da Casa Branca”, pelo fato de o FBI ter encontrado 30 caixas de documentos em seu poder, e que, de acordo com eles, deveriam ter sido devolvidos assim que deixou a presidência. Também houve o episódio Stormy Daniels, em que Trump foi indiciado por programar pagamentos para fechar a boca de três pessoas na época em que concorreu e venceu as eleições de 2016. Inclui-se nesse pacote o episódio da tentativa de comprar o silêncio da atriz pornô Stormy Daniels. Trump se defende e nega todas as acusações. 

Por mais que essas questões sejam discutidas por apoiadores ou oposicionistas de Trump, o fato inegável é que, quanto mais se aproxima a data da eleição, esses temas ganham corpo e voltam a ser requentados na tentativa de minar a imagem do líder das intenções de votos à corrida pela Casa Branca em 2024. Embora as pesquisas mostrem empate entre Trump e Biden, além do histórico desses institutos que apuram a vontade dos eleitores não mostrar muita exatidão e até um certo viés, há os 17% das intenções de votos para o republicano Ron DeSantis. Por mais que esses eleitores não gostem de Trump, entre ele e Biden, não há dúvida de que a preferência não recairá para o nome do atual presidente.

Com Bolsonaro, o cenário político no Brasil guarda, de fato, muitas semelhanças com o americano. O ex-presidente tornou-se inelegível por causa da reunião que fez com os embaixadores. Além disso, há empenho evidente para condená-lo por algum crime. A impressão que fica é a de que gostariam de equipará-lo a Lula. Se o ex-presidente for preso, seja pela venda de um relógio, ou por outra causa qualquer, poderão dizer que os dois são iguais, pois ambos foram encarcerados. Com a vantagem para o atual presidente de ter sido descondenado.

A pergunta final é esta: o que os governistas ganham atacando Bolsonaro se ele não poderá concorrer a nenhum cargo eletivo? Algumas hipóteses: primeiro, porque o mundo dá muitas voltas, e nada garante que amanhã, por um ou outro motivo, ele reverta a situação e possa ser elegível novamente. Basta analisar o que aconteceu com Lula. Depois, porque o ex-presidente é hoje o mais forte cabo eleitoral do país. Se o deixarem livre, leve e solto poderá ser o responsável pela maior vitória conservadora da nossa história. Por isso, lutam para destruí-lo de uma vez por todas.

A guerra política é agressiva e, muitas vezes, até inescrupulosa. Aguentar essa pressão exige forte resiliência e couro duro. Bolsonaro disse desde o princípio que sabia que esse jogo seria jogado assim. Talvez não tivesse ideia de que a peleja fosse com essa dimensão. Afinal, como ensina Maquiavel: “O príncipe deve estar sempre alerta para evitar que outros ganhem poder e prestígio às suas custas”. Toda e qualquer ação se realiza tendo em vista um propósito, um objetivo a ser alcançado. Os dois ex-presidentes são bons exemplos do funcionamento do sistema e mostram, por suas atitudes, como participar e sobreviver a ele. O jogo do poder é duro. Só aguenta quem é do ramo. Siga pelo Instagram: @polito.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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