CPI da Covid-19 não vai dar em nada e oposição parece que não tem mais o que buscar

Comissão começou empolgando, mas interesse despencou; esperanças oposicionistas passaram a ruir quando Calheiros abandonou sessão com cientistas que dariam esclarecimentos sobre remédios para o coronavírus

  • Por Reinaldo Polito
  • 24/06/2021 09h00
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Jefferson Rudy/Agência Senado Médicos em comissão do Senado Os médicos Ricardo Zimerman e Francisco Cardoso depuseram na sexta-feira, 18, na CPI da Covid-19

Todas as vezes que tem início uma CPI, os comentários são uníssonos: é mais uma que não vai dar em nada. Salvo algumas poucas exceções, a voz do povo tem razão, pois o que parecia não levar a lugar nenhum, não levou mesmo. Com a atual CPI, parece que a história se repete. Sinto cheiro de pizza no ar. A CPI começou empolgando. Com o passar das semanas, o interesse nas sessões despencou. Pela medida do Google Trends, a procura por informações a respeito do tema caiu de 100 para 41. Uma queda vertiginosa de 59%! Com a decepção daqueles que supunham descobrir nas palavras do deputado gaúcho Osmar Terra alguma contradição com relação aos depoimentos anteriores, a oposição parece que não tem mais o que buscar.

As esperanças oposicionistas começaram a ruir na sexta-feira, dia 18. Nesse dia, estariam presentes dois renomados cientistas, Francisco Cardoso Alves e Ricardo Ariel Zimerman. Eles se dispuseram a dar esclarecimentos a respeito do uso de medicamentos iniciais para combater o coronavírus. Era uma excelente oportunidade para que os senadores tirassem suas dúvidas sobre um tema tão relevante. Para surpresa de todos, entretanto, o relator Renan Calheiros, acompanhado dos senadores oposicionistas, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Humberto Costa (PT-BA), abandonou a sessão alegando que não iria fazer perguntas aos depoentes. O circo pegou fogo. Os senadores Luiz Carlos Heinze (PP-RS) e Marcos Rogério (DEM-RO) não engoliram a atitude dos “desertores” e disseram tudo o que “estava enroscado na garganta”.

Marcos Rogério, por exemplo, afirmou que “não interessa a busca da verdade […] o relator tem uma sentença debaixo do braço”. Heinze, por sua vez, depois de ser acusado de ter tido uma atitude deprimente, disse que “deprimente é vossa excelência, relator da matéria, parcial. Vossa excelência faz o que quer. O senhor não é um promotor para condenar o tratamento ou as pessoas no Brasil”. Esses lamentáveis acontecimentos fizeram com que a CPI da Covid-19 protagonizasse um dos episódios mais deploráveis da história política brasileira. Essa atitude do relator e dos senadores oposicionistas enfraquece a credibilidade da comissão, e dá condições aos senadores que apoiam o governo de ratificar o que eles têm afirmado desde o princípio: que Renan já está com o relatório pronto. Que ele busca nos depoimentos apenas as informações que possam contribuir com a decisão que deseja tomar.

Mesmo com a ausência dos senadores da oposição, os médicos deram seus depoimentos, contrariando as críticas feitas por aqueles que combatem o uso de medicamentos no tratamento precoce. São cientistas que têm muita contribuição a dar para a compreensão de um assunto tão complexo, e sobre o qual a maioria das pessoas possui informações controversas. O Dr. Cardoso Alves, por exemplo, foi firme em suas considerações, e demonstrou convicção no que disse: “A ciência é dinâmica. Ela muda. Temos que ter sempre abertura para ouvir todos os lados. Nem sempre aquilo que parece é verdade”. São ponderações isentas, sustentadas no conhecimento científico, comprovadas com estudos profundos e larga experiência. Será que as informações transmitidas por esses dois cientistas constarão na sentença final de Calheiros? Parece que não, pois como ele poderá considerar esses depoimentos se nem sequer quis estar presente durante a sessão? Esse descaso com a análise séria e descompromissada poderá prejudicar muito a tarefa do relator, que, por sinal, tem sido contestado antes mesmo do início dos trabalhos da CPI.

Por essas e outras, eu que, por dever de oficio, tenho acompanhado pacientemente a maioria das sessões, ando meio desanimado com os rumos dados a essa CPI. Fazendo uma retrospectiva de todos os depoimentos tomados até aqui, passei a ter uma vontade incontrolável de que tudo termine o mais rápido possível. Alguns chegaram a dizer que o prazo inicial de 90 dias deverá ser prorrogado. Pelo que temos visto, é muito tempo perdido e muito recurso desperdiçado. Quem consegue analisar com isenção cada uma das sessões já percebeu que o objetivo final, como disse o senador Marcos Rogério, é o de atacar o presidente da República, e tentar enfraquecer o governo. São muitos aqueles que afirmam estar a CPI com os olhos voltados para as eleições do próximo ano. Se o objetivo for esse mesmo, ao que tudo indica, estão ajudando a promover a reeleição do atual governo, pois a cada dia deixam mais claro que a intenção é essa. E os eleitores percebem. Vamos aguardar. Temos muito ainda pela frente. Como começaram a reconvocar aqueles depoentes que imaginavam tirar deles o que precisavam, nada mais relevante deverá acontecer. Só uma grande virada, um acontecimento inesperado, um depoimento bombástico, poderia balançar o destino da CPI. Siga no Instagram @polito.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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