Está na hora de alguns políticos se posicionarem e descerem do muro

Instigada a responder se votará em Bolsonaro ou Moro no primeiro turno, deputada se calou; ficar esperando o melhor momento para tomar uma posição pode ser visto como atitude oportunista

  • Por Reinaldo Polito
  • 06/01/2022 08h00
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Bruna Sampaio/Alesp - 16/11/2020 De blusa amarela com uma borboleta gigante estampada, Janaina Paschoal discursa no plenário da Alesp A deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) ainda não divulgou em quem vai votar no primeiro turno das eleições 2022

Alguns políticos se aperfeiçoaram na arte de dissimular. Escorregam daqui e dali, respondem sem responder, afirmam sem afirmar e, no fim, acabam se esquivando até das questões mais capciosas. Mostrei aqui nesta coluna como Rodrigo Pacheco, por exemplo, apresentou essa característica logo nas primeiras entrevistas que concedeu como presidente do Senado. Em um primeiro momento, a estratégia pode parecer engenhosa, mas logo passa a ser percebida, e a imagem talvez seja prejudicada. Outro comportamento que tem vida curta é o de tentar se equilibrar com um pé em cada canoa. Algumas pessoas, por oportunismo, esperam o instante mais conveniente para tomar uma posição. Dependendo de quem as observe, essa atitude é logo desvendada, e, também nesse caso, pode ser negativa para a reputação de quem age dessa maneira.

Há pouco tempo, a deputada Janaina Paschoal tomou a iniciativa de sugerir uma frente bolsonarista com os mais diversos candidatos para disputar as próximas eleições. Reservou para si o Senado Federal; para o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, o governo de São Paulo; para o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, a possibilidade de concorrer como deputado estadual; e para o ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, a chance de ser candidato a deputado federal. Nem acabou de abrir a boca para fazer a proposta e já recebeu ataques de todos os lados, especialmente de Weintraub e de Salles, que entenderam ser a sugestão inconveniente. O ex-ministro da Educação disse que ela é uma interesseira, enquanto o ex-ministro do Meio Ambiente pediu que a deputada saísse de cima do muro. Ele a instigou a declarar seu voto no primeiro turno, se Bolsonaro ou Moro. Ela não respondeu. Pelo menos não vi nenhuma manifestação de Janaina na mídia.

Pois é, há momentos em que é preciso ter lado. Não dá para acender uma vela para Deus e outra para o Diabo. Ficar esperando o melhor momento para tomar uma posição pode ser visto como atitude oportunista. Não estou dizendo que esse seja o caso de Janaina. Eu a admiro pelas posições firmes e corajosas que tem tomado ao longo de sua carreira. Há circunstâncias, entretanto, em que é preciso escolher o caminho a ser percorrido. Das duas uma. Ou se toma posição, demonstrando estar convicto de determinadas decisões, ou não se manifesta nunca, para não projetar essa face interesseira. Por pressão do momento, ou com a intenção de agradar ou de não desagradar, o muro passa a ser, aparentemente, o local mais apropriado.

Eu me lembro de quando a presidente de uma multinacional tomou posse no cargo. A empresa estava sediada no Sul do país. Ela foi alertada de que naquela região era preciso tomar cuidado, pois a população estava dividida entre torcedores azuis, do Grêmio, e vermelhos, do Internacional. Seguindo a orientação de algum “iluminado”, ela fez exatamente o que não deveria ter feito – compareceu no dia da posse vestida com a blusa dividida nas cores vermelha e azul. Nem é preciso dizer que conseguiu desagradar os dois lados. Levou muito tempo para apagar aquela impressão inicial negativa.

Outro exemplo de tomada de posição que não deu muito certo foi protagonizada por um dos mais importantes filósofos, teólogos e paleontólogos franceses, Pierre Teilhard de Chardin. Esse extraordinário pensador desenvolveu uma arrojada tentativa de integrar a teologia com a ciência. Seus estudos são admiráveis, especialmente os que foram abordados na obra “O Fenômeno Humano”.  Sua intenção era a de afastar com sua filosofia os equívocos que separavam a ciência da religião. O que ele não esperava, entretanto, é que, ao contemporizar, acabou por contrariar as duas partes. Foi rechaçado pela igreja e refutado pelos cientistas. Só recentemente, mais de 60 anos após a publicação de seus escritos, é que os religiosos aceitaram parte de suas teorias.

Certas decisões nem sempre são simples, pois a inadequada tomada de posição poderá comprometer de maneira irremediável o futuro de uma pessoa. A melhor saída, independentemente das consequências que poderão advir, é ser sincero e verdadeiro em sua opção. Às vezes, recebo como alunos candidatos em início de carreira, geralmente de família de políticos. Provavelmente por causa dessa convivência, fazem discursos com algumas inverdades. Chamo a atenção para o fato de que eles ainda estão construindo sua história na política e não possuem malfeitos para os preocupar. Por isso, se dissessem a verdade, jamais precisariam se pressionar em ter boa memória para se lembrar do que inventaram. Se a pessoa for autêntica nas decisões que venha a tomar, ainda que o amanhã mostre que os rumos poderiam ser outros, terá, pelo menos, a certeza de que agiu de acordo com a consciência. E não haverá arrependimentos. Siga pelo Instagram: @polito.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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