Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco é mestre em dar respostas sem responder
Advogado experiente, ele fala de impeachment do presidente da República como se comentasse sobre os afazeres do final de semana, e não dá ponto sem nó
Você já deve ter ouvido muitas vezes que política não é para amadores. Essa afirmação indica que, para perambular nos meandros políticos, é preciso acumular boa quilometragem de mandato. Talvez você pense: mas tem gente ali na Câmara e no Senado que tropeça na própria língua e não consegue formular duas frases completas. Só que, para ser bom de política, não precisa ser necessariamente letrado. Na sua obra “Jornalismo político”, Franklin Martins revela que, um dia, Ulysses Guimarães, ao falar a respeito dos deputados, cunhou esta pérola: “Aqui não tem bobo. Os bobos ficaram de suplentes”. E isso só para falar dos políticos comuns. Imagine, então, quem chega à presidência da Câmara ou do Senado, como Arthur Lira e Rodrigo Pacheco. São verdadeiras águias. Não dão ponto sem nó. Quando alguém pensa que está levando vantagem sobre eles, já recebeu um troco de pelo menos duas voltas.
Rodrigo Pacheco, por exemplo, é um verdadeiro bagre ensaboado. Escapa das perguntas comprometedoras sem mover um único músculo. Advogado experiente, com aquele jeitão mineiro de ser, lembra os padres de antigamente, que se expressavam sem alterar o ritmo dos sermões. Fala de impeachment do presidente da República como se comentasse sobre os afazeres do final de semana. Logo depois de assumir a presidência do Senado, uma das primeiras entrevistas que concedeu foi para a Jovem Pan. Ali estavam os jornalistas tarimbados do “Os Pingos nos Is“. E a turma não apalpou. Na linguagem futebolística, deram voadoras da medalhinha pra cima. O primeiro petardo veio do Vitor Brown: “Senador, pretende colocar em análise o pedido apresentado pelo senador Jorge Kajuru para o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do STF?” Se correr o bicho pega. Se ficar… Essa foi uma tremenda casca de banana. Um sim poderia significar encrenca com o STF logo no início da sua gestão. Um não, talvez contrariasse a expectativa de boa parte da população. Era preciso, portanto, acender uma vela para Deus e outra para o diabo.
Haja jogo de cintura. A técnica recomendada para situações semelhantes é não responder diretamente à pergunta. Deve-se encontrar antes uma justificativa convincente. Pacheco seguiu à risca as orientações da cartilha. Aplicou a primeira regra para driblar o questionamento, dando uma longa resposta. Iniciou confirmando que tinha conhecimento dos pedidos de impeachment contra ministros do STF, e especialmente desse do ministro Alexandre de Moraes. Até aqui aparentemente respondendo, como manda o figurino. Justificativa para ninguém botar defeito. Em seguida sacou da manga uma justificativa matadora. São aquelas informações com as quais os ouvintes vão concordar. Disse que vivemos num momento atípico da vida nacional, e que pedidos de impeachment dos ministros, do presidente da República e CPIs não são prioridades nesse instante. Ressaltou, ainda, que o foco primordial do Senado e da Câmara dos Deputados é enfrentar a pandemia, além de considerar que seja dada atenção à saúde pública, à vacinação, à ampliação dos leitos de UTI e ao auxílio emergencial. Quem poderia discordar?
Observe que ele não se ateve à justificativa. Na sua resposta, quando falou de impeachment, incluiu no pacote o presidente da República e a CPI, para tirar a faca dos dentes dos bolsonaristas; e estendeu a preocupação prioritária à Câmara dos Deputados, para demonstrar que não estava em voo solo. Devido à extensão da resposta e da justificativa relevante que apresentou, não abriu frestas para que houvesse complementação da pergunta. Conseguiu dizer não, com um talvez distante, sem que os entrevistadores pudessem se mostrar contrariados. Como agora houve ação do STF na questão da CPI, parece que parte desse discurso foi alterado. Esse é Rodrigo Pacheco. Um político que escorrega como quiabo, mas consegue dar a impressão de atender às perguntas sem se comprometer com as respostas.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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