Os discursos de Lula são promessas ou ameaças?

Será que agindo assim ele conquistará os votos de que precisa, ou já acreditou no resultado das pesquisas e se sente tão à vontade que ousa dizer o que lhe vem à cabeça?

  • Por Reinaldo Polito
  • 16/06/2022 10h00
HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO CONTEÚDO - 21/09/2017 Lula Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está fazendo corpo-a-corpo com o eleitorado no Norte e Nordeste.

Você tem acompanhado os discursos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva? Assim como a maioria das pessoas, têm se surpreendido com o radicalismo de suas mensagens? Será que agindo assim ele conquistará os votos de que precisa, ou já acreditou no resultado das pesquisas e se sente tão à vontade que ousa dizer o que lhe vem à cabeça? Vamos rever um pouco da nossa história recente. O ano de 2019 ficará para sempre como um período especial. A população foi às ruas pedindo a aprovação da reforma da Previdência. Houve manifestação contrária, sim, mas nada quando comparada aos movimentos favoráveis. Talvez essa tenha sido uma das maiores provas de amadurecimento da sociedade. Como estava não poderia continuar.

Um fato tão ou mais inusitado foi a aprovação da reforma trabalhista em 2017. O presidente Michel Temer ostentava baixíssima popularidade. Ainda assim, com sua experiência de longos anos presidindo a Câmara dos Deputados, soube como conquistar o apoio do Congresso para aprovar uma reforma importante para maior liberdade de ações entre patrões e empregados. Outra Emenda Constitucional relevante foi promulgada pelo Congresso em 2016, que limita por 20 anos os gastos públicos. O objetivo é impedir que as despesas de determinado ano não sejam superadas pela inflação do ano anterior.

Cumprindo promessa de campanha, o presidente Jair Bolsonaro praticamente eliminou as invasões do movimento dos trabalhadores sem-terra (MST). Contribuiu para esse resultado a posse estendida de arma, que permite aos proprietários rurais andar armados até os limites de suas terras. Também a concessão de títulos de propriedade, pois sendo donos do local esses pequenos agricultores não teriam mais motivo para participar de invasões. Essas foram algumas vitórias que permitiram maior governabilidade do país e condições para o livre funcionamento do mercado. Como as mudanças mexeram com a vida dos brasileiros, em certos momentos parecia impossível que fossem concretizadas. Passados alguns anos essas reformas e diretrizes se mostraram acertadas.

Lula dá a impressão de ter sido tomado por uma crise de sincericídio. Depois que saiu da cadeia, seus pronunciamentos têm assustado até os próprios correligionários. Alguns petistas e membros de outros partidos de oposição ao governo estranharam as atitudes do ex-presidente. O líder esquerdista fala abertamente em seus discursos que vai revogar as reformas Trabalhista e da Previdência. Deixa claro que acabará com o teto de gastos. Abrirá as portas para o MST. Eliminará as escolas cívico-militares. Continuará emprestando dinheiro para os países governados pela esquerda, e que não pagaram os empréstimos recebidos durante os mandatos petistas. Criticou os religiosos, os militares, os policiais, a classe média e os agricultores. Não sobra pedra sobre pedra!

Se, por um lado, esses discursos agradam os seguidores situados na fronteira extrema da esquerda, por outro, assustam os eleitores que ainda estão indecisos, ou que já optaram pela candidatura de Bolsonaro. Na verdade, mais que promessas de campanha, a impressão é a de que ele faz ameaças. Lula é um político experiente. Apesar de muitos não acreditarem nos resultados das pesquisas que são divulgadas pelos mais diferentes institutos, o certo é que a “jararaca” está mais viva que nunca. Provavelmente ele tem algum objetivo com esse tipo de mensagem. Além de suas aparições no mínimo estranhas, a ex-presidente Dilma também deu sinal de vida afirmando que a meta é a de introduzir o socialismo no Brasil. Houve ainda uma declaração de Leonardo Boff, conhecido teólogo e filósofo de longa data, que sempre defendeu o socialismo, dizendo que “se voltar à presidência, Lula fará um governo radical”. Afirmou ainda que o ex-presidente teria um discurso político conciliatório durante a campanha, mas fará uma revolução se eleito.

O que se nota é a falta de sutileza da esquerda em pregar o que deseja verdadeiramente se tomar o poder. Em campanhas passadas nós nos lembramos bem do “Lulinha paz e amor”. Essas ideias radicais socialistas eram camufladas com eufemismos, que, de certa forma, envolveram aqueles que se opunham ao radicalismo do líder sindicalista. Na minha atuação como professor de oratória dos mais importantes líderes políticos brasileiros jamais vi esse tipo de comportamento.  As exceções ficam por conta dos pequenos partidos de extrema esquerda que não têm chances de vencer eleições. Vamos aguardar o resultado. Se Lula conseguir sucesso com esse tipo de discurso, será uma grande surpresa. Dizem certos analistas que, se o petista continuar falando desse jeito, acabará por se transformar no maior cabo eleitoral de Bolsonaro. Siga pelo Instagram: @polito 

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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