Para o Brasil, a dívida importa mais do que a eleição de Biden

Mesmo com o resultado da eleição americana sendo importante, no caso do Brasil, a fragilidade das contas públicas pode segurar ou impulsionar a cotação do dólar

  • Por Samy Dana
  • 10/11/2020 12h59 - Atualizado em 10/11/2020 13h00
Itaci Batista/Estadão Conteúdo Cédulas de R$50 colocadas em sequência Dívida pública bateu recorde e chegou a 90,6% em setembro

Vencidas as eleições americanas pelo democrata Joe Biden, muitas análises passaram a ressaltar possíveis dificuldades que o Brasil pode enfrentar envolvendo a questão ambiental, principalmente a Amazônia. Biden, afinal, se pronunciou a respeito, criticando o Brasil durante a campanha. E uma série de interesses, como dos agricultores americanos e ambientalistas, ameaça mesmo criar novos problemas. Mas um movimento no mercado nesta segunda-feira, 9, indicou que essa talvez não seja a maior das preocupações para o país no momento. No meio do pregão, o dólar chegou a cair 3%. Era o efeito Joe Biden, como os investidores apelidaram a influência do presidente americano eleito sobre a moeda no Brasil e no mundo.

Dólar

  • 10h      -3%
  • 17h      -0,04%

Mas o dólar acabou fechando o dia com 0,04 de queda, estável. O recado do mercado: mesmo com o resultado da eleição americana sendo importante, no caso do Brasil, a fragilidade das contas públicas pode segurar a cotação do dólar. Ou impulsionar, como disse o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, prevendo que o dólar pode chegar até R$ 7 em janeiro se o governo não der um sinal claro de como ficam as contas públicas. Já o vice-presidente, Hamilton Mourão, trouxe outra previsão sombria, a possibilidade de que as agências cortem a nota do país.

A dívida pública, perto de 90% do Produto Interno Bruto pode mesmo ser uma espécie de freio para a queda do dólar ou até a recuperação. Mesmo que o governo americano se enfraqueça em outros países, o estado das contas públicas serviria para segurar as cotações mais altas no Brasil. E o Brasil corre o risco de ficar de fora não só de um período de dólar baixo, com o novo presidente americano, como até da retomada mais forte das economias com uma vacina para a Covid-19.

Em 2020, a tolerância foi alta com os gastos públicos diante da necessidade do combate aos efeitos da pandemia. Mas com a volta ao normal que a vacina promete, ainda que os governos possam ser pressionados a gastar por mais um tempo para acelerar a recuperação, o foco passa a ser o equilíbrio fiscal. Se o Brasil não cortar gastos e nem fizer reformas, pode não ver saída para atrair investimentos e ficar mesmo para trás. Chega a ser repetitivo falar nesse assunto o tempo todo, mas não tem nada mais importante no momento. Há esperança do fim da pandemia, mas para o Brasil aproveitar, vai precisar das contas sob controle.

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