Samy Dana: Em meio à crise, IPOs passam a ser alternativa de financiamento

“Nova temporada de IPOs” acontece em momento que obtenção de crédito está mais difícil

  • Por Samy Dana*
  • 21/07/2020 09h03 - Atualizado em 22/07/2020 14h17
Pixabay Investimentos

Em janeiro, a expectativa era de que 2020 seria o ano dos IPOs, sigla em inglês para oferta primária de ações. Seriam os 12 meses com mais ofertas de ações desde 2007, antes do estouro da bolha imobiliária. Naquele ano, 64 empresas entraram na então Bovespa. A expectativa para este ano era de que, se o número de lançamentos não teria como ser batido, as 35 ofertas de ações encaminhadas mostrariam que a bolsa brasileira se tornou de vez uma opção para as empresas se financiarem. Mas então surgiu o coronavírus. Junto com as medidas de isolamento em todo o país, veio uma queda forte do Ibovespa, de 30%,  e o anúncio de que muitas empresas estavam adiando as ofertas de ações. Os meses se passaram e os IPOs estão de volta. E e em grande estilo. Segundo o banco americano Morgan Stanley, a expectativa é de que R$ 70 bilhões estejam a caminho da B3 com os IPOs que serão realizados até o começo de 2021.

No último dia 13, a empresa de gestão de resíduos Ambipar fez sua estreia na bolsa depois de um IPO que levantou R$ 1,080 bilhão. Seguiu a empresa All Park, única a fazer oferta de ações durante o isolamento, em maio. Mas a cereja do bolo deve ser a Caixa Seguridade. Na semana passada, o braço de seguros da Caixa Econômica Federal anunciou ter recebido sinal verde da empresa para o maior IPO desta leva, com a expectativa de obter R$ 50 bilhões com a venda de ações.

Antes da pandemia, quatro IPOs foram realizados no ano: da Locaweb, empresa de hospedagem de websites; da Priner, que presta serviços de engenharia industrial, e de mais duas construtoras, Mitre Realty e Moura Dubeux.  Juntas, arrecadaram quase quatro bilhões de reais no total. Agora o cenário mudou. Se antes essas empresas planejavam entrar na bolsa na expectativa de melhora da economia, a B3 passou a ser vista como alternativa de financiamento em um momento em que crédito está muito mais difícil – e caro – de se conseguir.

O ponto em comum é que empresas e investidores amadureceram sobre o papel das ofertas de ações. Houve um momento em que era comum um papel ser ofertado e subir 50% no primeiro dia de negócios. Muitos investidores entravam nos IPOs para vender na estreia e embolsar os lucros. Agora, os papéis oscilam menos ao chegar à bolsa. Estão sendo comprados para ficar na carteira, o que é mais saudável para o mercado.

*Samy Dana é economista e colunista na Jovem Pan.

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