Oyama: ‘Bolsonaro não quer ir à guerra, quer desviar foco dos problemas relativos à família dele’

Fala do presidente sobre usar ‘pólvora’ quando acabar a ‘saliva’ na relação com os Estados Unidos foi tema de debate entre os comentaristas do 3 em 1 desta quarta-feira, 11

  • Por Jovem Pan
  • 11/11/2020 18h20 - Atualizado em 11/11/2020 18h49
GABRIELA BILó/ESTADÃO CONTEÚDO Presidente fez comentário sobre pólvora em coletiva sobre volta do turismo ao país

Ainda sem reconhecer a vitória do democrata Joe Biden nas eleições dos Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar as falas dele sobre a Amazônia em evento público nesta terça-feira, 10. “Assistimos há pouco um grande candidato a chefia de estado dizer que se eu não apagar o fogo na Amazônia, ele levanta barreiras comerciais contra o Brasil. E como nós podemos fazer frente a tudo isso? Quando acaba a saliva, tem que ter pólvora”, afirmou. A fala, que repercutiu internacionalmente, foi amenizada pelo vice-presidente Hamilton Mourão, que afirmou que Bolsonaro estava usando um “aforismo antigo” na sua colocação. O assunto foi tema de debate dos comentaristas do programa 3 em 1, da Jovem Pan, desta quarta-feira, 11.

Segundo a jornalista Thaís Oyama, nem mesmo os assessores do presidente ou o chanceler Ernesto Araújo sabiam a origem da colocação de Bolsonaro. Para ela, o presidente usa uma tática diversionista para desviar a atenção de problemas reais que assombram o governo dele. Entre eles, o fantasma de uma hiperinflação anunciada por Paulo Guedes poucas horas antes, as mortes pelo novo coronavírus e os escândalos familiares. “Esses factóides ocupam um espaço imenso nos jornais, ocupam um espaço grande em programas de debate como o nosso aqui e ajudam a tirar o foco dos problemas que de fato incomodam o presidente. E o maior problema que incomoda o presidente hoje é a situação do filho dele, o Flávio Bolsonaro”, pontuou, lembrando da denúncia que ele e a esposa, Fernanda Bolsonaro, receberam pelo Ministério Público do Rio de Janeiro na última semana e dos desdobramentos do caso da rachadinha da Alerj.

O comentarista Paulo Figueiredo Filho afirmou que as reações à fala de Bolsonaro ganharam contornos cômicos na internet e que a imprensa tratou a fala como uma “coisa de garoto de ginásio” ao esperar uma resposta dos EUA. “O que eu gostei mais dessa polêmica toda foram os memes na internet, engraçadíssimos”, afirmou. Segundo ele, Bolsonaro cumpriu uma das regras mais antigas das relações internacionais ao fazer a suposta ameaça com poderio militar. “O que ele está dizendo é que o assunto é sério no Brasil e que o país está disposto a tudo para defender a sua soberania. Agora, se o presidente da república não defender a soberania nacional quando ela for ameaçada explícitamente, quem é que vai defender a soberania nacional?”, questionou, afirmando que o raciocínio de que o Brasil perderia uma guerra facilmente para os EUA é “raciocínio de quem está jogando super trunfo e videogame”.

Para Josias de Souza, o descompromisso de Bolsonaro com a agenda liberal proposta por ele ao lado do ministro Paulo Guedes pode ameaçar até mesmo o projeto de reeleição dele para 2022. “O governo está às voltas com problema reais, o congresso está paralisado e fica o presidente a fazer frases ridículas, criando polêmicas do nada e seu ministro da economia zonzo, com a agenda paralisada e sem saber o que fazer. Em um cenário como esse não dá para achar que o mais interessante, o mais notável, o mais digno de nota são os memes que aparecem na internet. O Brasil está sendo conduzido por um governo sem norte”, afirmou, analisando que o “único feito” do governo em quase dois anos foi a reforma da previdência, cujo aporte financeiro que economizaria em uma década foi “engolido pela pandemia” em menos de um ano.

Confira o programa 3 em 1 desta quarta-feira, 11, na íntegra:

 

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