Schelp: Bolsonaro coloca vacina em dúvida para justificar fracasso do governo

Questionamento do presidente sobre a eficácia da CoronaVac foi tema de debate entre comentaristas do programa ‘3 em 1’ desta sexta-feira, 22

  • 22/01/2021 18h18 - Atualizado em 22/01/2021 19h17
DHAVID NORMANDO/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO - 18/12/2020 Jair Bolsonaro Jair Bolsonaro questionou efetividade da Coronavac

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta sexta-feira, 22, em conversa com jornalistas na porta do Palácio da Alvorada que “não há nada comprovado cientificamente sobre essa vacina aí”, em referência à CoronaVac, único imunizante contra o coronavírus em aplicação no Brasil até o momento, que é desenvolvido pelo Instituto Butantan com tecnologia da farmacêutica chinesa Sinovac. Cientificamente, segundo estudos publicados na revista The Lancet, tanto a vacina do Butantan quanto o imunizante desenvolvido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com a Universidade de Oxford são efetivos contra o vírus. As falas de Bolsonaro sobre a vacina foram tema de debate entre comentaristas do programa “3 em 1”, da Jovem Pan, nesta sexta.

Diogo Schelp considera a fala de Bolsonaro como contraditória e lembra que testes clínicos feitos dentro e fora do Brasil foram feitos seguindo todos os critérios científicos. “Se a Anvisa concluiu que está aprovada, então tem eficácia. A Anvisa não teria aprovado essa vacina se ela não fosse suficientemente eficaz para imunizar o cidadão e se não fosse segura”, explica. Ele aponta que a necessidade de acompanhamento e as observações da agência ocorrem porque o pedido para uso foi feito de forma emergencial. “Bolsonaro tem alguns motivos para colocar em dúvida a vacina: a primeira é justificar o fracasso do governo em conseguir as doses, o segundo motivo é a dificuldade de conseguir os insumos na China, esse problema diplomático que a gente tem acompanhado, e o terceiro é minimizar o protagonismo que o governador João Doria teve para conseguir a primeira vacina que o Brasil está aplicando”, assegura. O jornalista acredita que a demora para criar uma vacina fez com que a retórica contra os imunizantes fosse requentada, mas vê que “conforme a vacinação avança, isso vai ficar para trás”.

Rodrigo Constantino diz que Bolsonaro foi correto ao questionar sobre a vacina. Para ele, ligar o movimento anti-vacinas ao discurso contra a CoronaVac é uma “narrativa deliberada de quem quer desgastar o presidente e de alguma maneira enaltecer quem virou o antípoda do presidente”, se referindo ao governador de São Paulo, João Doria. “O que eu quero chamar a atenção é de como a politização vem destruindo e interditando o debate. Criaram uma narrativa infantil de que um representa a ciência e a preocupação com as vidas humanas enquanto que o outro é obscurantista, insensível, genocida, sociopata e só pensa em se reeleger, enquanto na verdade a turma que fala em nome da ciência tem adotado várias medidas drásticas, e uma delas é o lockdown, que não é científico”, opina. Constantino colocou também o Instituto Butantan sob suspeita de estar “cooptado” pelo governo de São Paulo e de ter sido politizado após afirmar que “salvou vidas” imunizando brasileiros.

Para Marc de Sousa, Bolsonaro leva em consideração o relatório da Anvisa ao questionar a eficácia da CoronaVac. Segundo ele, no documento, a agência reguladora aponta “incertezas e riscos” e lembra que o estudo ainda está em andamento. “Se o estudo ainda está em andamento, nada está comprovado mesmo”, relativiza. Ele também enfatiza o trecho que fala que os dados são insuficientes para estabelecer conclusão e mostrar eficácia sobre as formas graves. “Com toda essas dúvidas a Anvisa liberou e ela se justifica dizendo que só faz isso por causa do cenário de caos da pandemia e faz uma recomendação na última frase do relatório que a autorização é condicionada ao monitoramento das incertezas e às avaliações periódicas”, pontua. Ele lembra, porém, que é importante vacinar, já que a vacina é uma das poucas ferramentas hoje para tentar controlar a pandemia.

Confira o programa “3 em 1” desta sexta-feira, 22, na íntegra:

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