Collor contesta Janot e ofende mãe do Procurador

  • Por Jovem Pan
  • 06/08/2015 12h17
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Fernando Collor de Mello como presidente de comissão no Senado Antonio Cruz/Agência Brasil Fernando Collor de Mello em comissão no Senado

Reinaldo, então o senador Fernando Collor voltou aos tempos intrépidos daquele presidente Collor que foi impichado?

Ai, ai…

“Lupus pilum mutat, non mentem” O lobo muda de pelo, mas não de ideia, de caráter, de personalidade. Em português, já escrevi aqui, outra versão se popularizou: “O lobo muda de pelo, mas não de vício”.

O senador Fernando Collor (PTB-AL), um dos investigados da operação Lava-Jato, fez nesta quarta um discurso de 18 minutos na tribuna do Senado contra Rodrigo Janot, procurador-geral da República — que certamente lhe será grato, já digo por quê. Apontou o que considerou desmandos dos procuradores — duas vezes se referiu à força-tarefa como “grupelho”, defendeu-se das acusações que lhe faz a turma, discursando com aparente serenidade, de forma pausada.

Mas sabem como é a natureza do escorpião — ou, sei lá, do lobo. Ao sustentar que os carros apreendidos em sua casa pertencem a suas empresas e têm origem lícita, fez uma pausa, não se conteve e, entredentes, mas de forma muito clara, disparou contra Janot: “Filho da puta!”.

“As empresas têm contrato social, estão devidamente registradas na Junta Comercial, têm atividades de acordo com o que define a legislação. Se existem parcelas em atraso, é uma questão comercial que diz respeito a mim e ao credor, não podendo jamais, em tempo algum, sob risco de uma grave penalização judicial a quem afirma, que tal atraso se deva ao não recebimento de recursos escusos. Afirmações caluniosas e infames! Filho da puta”.

Pois é…

Não se pode cassar de ninguém, nem de Collor, o direito de se defender também politicamente, que é o que ele faz na tribuna do Senado. Mas é aceitável que se manifeste desse modo? Ele reclama, por exemplo, de uma indústria de vazamentos de informações que teriam origem na Procuradoria. Que exponha lá, afinal, os seus motivos. Mas, ao partir para a baixaria, fala mais de si do que de seus desafetos. É lamentável!

O senador reclama, por exemplo, que, nesta terça, seus assessores receberam telefonemas de jornalistas às 10 da manhã para saber se ele diria alguma coisa sobre parecer de Janot, que se opunha à devolução dos carros, que ele, Collor, havia solicitado ao Supremo. Emenda, então, o senador:

“Às 15 horas de ontem, meu advogado foi recebido pelo Ministro Teori Zavascki, a quem deveria ser dirigido o parecer e dado conhecimento exclusivo. Disse o ministro que, até aquele momento, não havia recebido nenhuma comunicação do procurador-geral”.

E então conclui o senador: “Portanto, vejam os senhores que informações que correm sob ‘segredo de justiça’ foram vazadas seletivamente, de forma criminosa, pelo procurador-geral da República aos meios, antes mesmo que o ministro relator do Supremo Tribunal Federal tomasse delas conhecimento!”.

Collor acusa a existência de um conluio entre a Procuradoria e veículos de imprensa e diz que Janot contratou uma empresa de comunicação, a Oficina da Palavra, para organizar os vazamentos. Ele diz haver irregularidade na contratação dessa empresa e afirma que a imprensa se nega a apurá-las. Em socorro de sua tese, lê trechos de uma carta que servidores da Secretaria de Comunicação Social do Ministério Público Federal encaminharam, no dia 6 de março deste ano, a Janot (leiam o trecho citado por Collor no pé deste post). De fato, há lá uma serie de acusações contra a Oficina da Palavra.

Collor não escondeu o objetivo de sua intervenção. Quer que seus pares rejeitem o nome de Rodrigo Janot. Afirmou:

“Pois bem, senhor presidente, volto então a perguntar, como tenho feito há meses desta mesma tribuna: há ou não há uma sórdida estratégia midiática promovida pela Procuradoria-Geral da República? Por tudo isso, a responsabilidade institucional do Senado Federal, quando da apreciação do nome indicado pela presidente da República ao cargo de procurador-geral da República, será ainda maior. É preciso que todos, parlamentares, mídia e população, abram os olhos para muitos dos aspectos que estão por trás dessas investigações.”

Desde quando era presidente da República, Collor é um de seus principais inimigos. A questão é saber se, com o discurso desta quarta, arranjou mais aliados ou mais adversários para a sua causa. A resposta, depois da grosseria inaceitável, me parece óbvia.

*

Trecho da carta que servidores da Secretaria de Comunicação Social do Ministério Público Federal enviaram a Janot, em que reclamam da atuação da empresa “Oficina da Palavra”, reproduzido por Collor em seu discurso.

“Em dezembro de 2014, em conversa com o Procurador-Geral da República, manifestamos nossa preocupação com o cenário que se projetava com a contratação da Oficina da Palavra e com a forma como as mudanças vinham sendo implementadas, mas julgamos que era possível dar um voto de confiança à Administração. Contudo, nossas expectativas foram frustradas.

(…)

A análise que fazemos é de que a estratégia adotada tem redundado em uma série de ações questionáveis, que prejudicam a imagem e a reputação institucional. Essas ações também se revelam contrárias aos princípios constitucionais, como o da impessoalidade e da publicidade; aos preceitos da comunicação pública; e às diretrizes institucionais, em especial da transparência e do profissionalismo.

É perceptível, e nos causa perplexidade, o descontrole sobre as informações decorrentes da Operação Lava Jato, que redundaram em vazamentos e, segundo a imprensa, colocam em dúvida a legitimidade da atuação institucional e dão margem a questionamentos acerca do tratamento diferenciado que se tem concedido a determinadas empresas de comunicação.

(…)

Mesmo nos mais diversos círculos de convivência, a instituição tem sido ridicularizada e sua isenção questionada, por conta de declarações e imagens consideradas demagógicas e personalistas.

Este não é o primeiro período turbulento e de grande repercussão pública que assola a instituição. Podemos lembrar os acontecimentos decorridos durante os trabalhos do mensalão. Naquela ocasião não ocorreram vazamentos nem a imagem institucional foi denegrida como está acontecendo no momento presente.

(…)

Não podemos esquecer que o Ministério Público Federal é uma instituição pública e fundamental para a democracia e a cidadania. Portanto, suas ações não podem prescindir de uma comunicação pública baseada na ética, na transparência e na verdade. Portanto, gostaríamos de saber se é estratégia:

a: dar acesso a informações extremamente sensíveis para uma empresa privada cuja finalidade precípua é obter lucro?;

b: vazar informações para os grandes veículos de comunicação?;

c: fornecer informações em off e privilegiar determinados veículos de comunicação?;

d: não divulgar antes nos canais de comunicação do próprio Ministério Púbico Federal informações de grande interesse público, como o envio ao Supremo Tribunal Federal a lista dos ocupantes de cargos públicos suspeitos de envolvimento na Lava-Jato?;

e: é correto priorizar a quantidade em detrimento da qualidade da exposição?;

f: é correto desprestigiar a comunicação pública e substituí-la por barganhas e estratégias próprias da comunicação mercadológica a fim de conseguir capas de jornais e destaques em jornais televisivos?”.

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