Dilma não quer conversa com a realidade

  • Por Jovem Pan
  • 20/07/2015 09h43

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Divulgação House of Cards

Reinaldo, então Dilma ressurge um pouco mais forte nesta segunda (20)?

Se a vida fosse como sonham os petistas, esta segunda começaria sob novos auspícios. Aquele que o governo tinha como seu principal inimigo está, obviamente, acuado pela acusação do lobista Julio Camargo e pela avalanche de notícias negativas que a ela se seguiu. Refiro-me obviamente a Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara. Antes que siga, uma nota.

É evidente que o principal inimigo do governo nunca foi Cunha — ele acabou se tornando, mas não era. As forças que mais atuam contra Dilma são a herança maldita do PT, que durará gerações, a incompetência política do governo e, num outro plano, Luiz Inácio Lula da Silva, que desestabiliza a presidente em seu próprio terreno.

Querem um exemplo? Se Dilma não tivesse atravessado a rua só para ser derrotada por Cunha na eleição para a presidência da Câmara, as relações certamente teriam sido outras. Mas a mulher não quis conversa com a realidade.

Vamos seguir. Na quinta, Camargo muda a versão de uma série de depoimentos anteriores e diz ter pagado, sim, propina a Cunha. No sábado, já é manchete de jornal uma investigação que busca ligar o deputado a algumas contas secretas no exterior — e olhem que se trata de investigação, em tese, sigilosa. Como esse tipo de especulação não vem à luz da noite para o dia, quem preparou esse segundo material para ser divulgado só estava à espera do primeiro. Ou por outra: estava tudo pronto para ser vazado, só aguardando que Julio Camargo fizesse a denúncia. Eis aí.

Os jornalistas se divertem associando a figura de Cunha ao sinistro Frank Underwood, da série “House of Cards”. Pois é… A julgar pelo que está em curso — e na hipótese de que a associação faça algum sentido —, então ele não está só, não é mesmo? Há mais “Franks” à solta, como se pode ver. O boato que circula é que as contas podem estar relacionadas a Cunha. “Podem”… E se não estiverem? Bem, isso não importa. O trabalho já está feito.

Retomo Volto ao ponto. Ainda que não se diga alto e com todas as letras, os magos do Palácio já dão Cunha como carta fora do baralho. Agora, para arremate, só aguardam que Rodrigo Janot ofereça denúncia contra ele. Se o Supremo aceitar, avança-se um pouco mais. O procurador-geral pode dar uma ajuda final com uma ação cautelar para que ele se afaste da presidência da Casa. O que quer que faça Cunha agora será tratado como coisa de gente ressentida, que foi pega com a boca na botija. Aliás, CPIs que, pela regra, têm de ser instaladas já entraram na lista das retaliações. Frank Underwood pode assumir várias faces e estar em vários lugares, não é mesmo?

Ainda é cedo para decretar, como fazem os petistas e alguns analistas, a morte de Cunha, mas é fato que o Planalto cravou um tento e tanto, há muito buscado, há muito esperado. Voltemos a esta segunda-feria: seria o dia de Dilma anunciar o novo amanhecer. Mas com o quê?

O que o governo tem a oferecer? É evidente que a hipótese do impeachment ficou um pouco mais distante, ao contrário do que supõem muitos. Sem a prova material, inequívoca, de que Ricardo Pessoa foi coagido a fazer doações ao PT, é difícil que o TSE casse a diplomação de Dilma Rousseff. E Janot, até aqui, não demonstra interesse em pedir que se abra ao menos um inquérito para apurar a atuação da presidente, conforme autoriza jurisprudência do Supremo.

Assim, o que sai reforçada até agora é a possibilidade de Dilma permanecer mais três anos e meio no poder. Pra quê? Como diria Ascenso Ferreira, o poeta pernambucano, “pra nada!”.

Há uma possibilidade de a investigação sobre Cunha, ao fim e ao cabo, depois de muito tempo, dar em nada? É claro que há. Vai que Camargo estivesse falando a verdade antes de ser ameaçado, não depois… É que a natureza do jogo não é distinguir culpados de inocentes, mas manter o controle da máquina do estado.

Dilma ressurgirá mais forte nesta segunda.

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