‘Não vou mais me candidatar a deputada estadual’, diz Janaína Paschoal
Em entrevista ao programa ‘Direto ao Ponto’, deputada sinaliza preferência a uma vaga no Senado e afirma que o presidente Bolsonaro pode ‘errar no tom, mas não tanto nas ações’
Deputada estadual mais votada do Brasil nas eleições de 2018, Janaina Paschoal (PSL) afirmou nesta segunda-feira, 30, que não pretende tentar a reeleição para o cargo. Segundo a parlamentar, o principal motivo é a decisão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) que julgou, por unanimidade em julho desde ano, inconstitucional a Lei da Cesárea, de sua autoria, e que dava as gestantes do SUS o direito de decidir pelo procedimento mesmo sem indicação médica. A lei entrou em vigor em agosto de 2019, e causou polêmica entre médicos, entidades e órgãos de saúde. “Para mim foi uma questão ideológica. O politicamente correto hoje é dizer para a mulher fazer o parto normal. As mesmas mulheres que dizem ‘meu corpo, minhas regras’ entendem que uma mulher não consegue decidir qual o parto que quer ter. Por essa decisão não vou mais me candidatar a deputada estadual. Os desembargadores não tem noção do que foi aquela decisão pra mim, foi uma poda”, afirmou Janaina em entrevista ao programa Direto ao Ponto, da Jovem Pan. No entanto, segundo a parlamentar, isso não significa que vai deixar a vida política. Se tivesse que tomar uma decisão hoje, ela se candidataria ao Senado. “Acho que tenho o perfil, e o Senado tem competências que considero importantes, de freio para o Supremo Tribunal Federal (STF), aconselhamento pra quem está na presidência, seja quem for. É um grupo menor, mais ponderado, mais sênior”, explicou. Janaina foi sabatinada pelo apresentador Augusto Nunes e por Vitor Brown, apresentador do “Os Pingos nos Is”, Paula Leal, editora do site da Revista Oeste, Conrado Corsalette, editor-chefe do Nexo Jornal, e Roberta Paduan, jornalista especializada em política com passagem pelas revistas “Veja” e “Exame”.
Advogada e professora de direito penal na Universidade de São Paulo (USP), Janaina se projetou nacionalmente depois de ser co-signatária do pedido de impeachment que culminou com a queda da petista Dilma Rousseff da Presidência da República. Nas eleições de 2018, ela foi uma das maiores apoiadoras da candidatura de Jair Bolsonaro, mas críticas pontuais ao presidente, aos filhos dele e a alguns dos principais aliados a colocaram em rota de colisão com o governo federal. De acordo com ela, a decisão de apoiar Bolsonaro em 2018 foi meramente “estratégica”, como uma forma de tirar o Partido dos Trabalhadores (PT) do caminho. “Se você me perguntasse um ano antes [das eleições] se eu votaria em Bolsonaro, eu falaria ‘você está louca’. As ideias e pensamentos dele nunca tiveram nada a ver comigo. Ele nem participou durante o processo de impeachment, só para dar aquele voto grotesco no final. Tive que fazer uma escolha estratégica”, afirmou a deputada.
Chegando perto do segundo ano de mandato de ambos, Janaina acredita que a popularidade de Bolsonaro tem caído. Além das polêmicas envolvendo os filhos, ela cita a dificuldade em governar “para uma pluralidade”. “Durante a campanha procurei conversar com ele acerca da necessidade de, chegando ao poder, governar para uma pluralidade. Minha esperança é que ele entendesse o tamanho da missão e buscasse se aprimorar, mas não fez essa busca. Não migrou daquela condição de deputado temático. Um deputado pode ser temático, um presidente não”, pontuou. Além disso, outra crítica à gestão de Bolsonaro é em relação ao combate à corrupção. Segundo ela, esse é um ponto que o presidente “traiu os seus eleitores”. Como exemplos, a parlamentar citou as sanções ao juiz de garantias dentro do pacote anticrime, e ao parágrafo 316 do Código Penal, que embasou a decisão do ministro Marco Aurélio Mello para soltar o traficante André do Rap. “Houve uma união de pessoas interessadas em fragilizar o sistema de combate a corrupção”, afirmou. Para ela, a única explicação para essa incoerência do presidente seria a investigação sobre o seu filho Flávio Bolsonaro (Republicanos), acusado de comandar um esquema de “rachadinha” em seu gabinete da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), quando era deputado estadual.
Bolsonaro pode ‘errar no tom, mas não nas ações’
Sobre as atitudes do governo federal durante a pandemia da Covid-19, Janaina disse que Bolsonaro “erra muito no tom, mas não tanto nas ações”. De acordo com ela, o presidente foi um dos primeiros a defender o tratamento precoce para a doença — embora tenha sido com hidroxicloroquina, medicamento sem comprovação científica. Para a parlamentar, existe uma politização em torno do coronavírus e uma tentativa de desacreditar o presidente, tratando-o como anticientífico. “Se ele não falasse essas grosserias, se olhássemos só as ações, ele não tem sido tão anticiência. Jamais defendi a cloroquina, mas eu tenho um pouco de preocupação com a terminologia científico, é ideológico dizer que é científico ou que não é científico. Não consigo achar que ele tenha errado tanto no mérito, mas erra na forma reiteradamente”, pontuou. Questionada sobre a possibilidade da vacina ser obrigatória, Janaina ressaltou que vê a discussão com preocupação, e que, no seu entendimento, a Constituição já prevê que uma pessoa não poderia ser forçada a tomar. “Você educa, faz campanhas, e a pessoa decide se vacina ou não. Acho que é uma discussão histérica, que foi politizada tanto por Bolsonaro, quanto por Doria [governador de São Paulo].”
Neste domingo, 29, aconteceu o segundo turno das eleições municipais de 2020. Na visão de Janaina, as urnas deram um recado de “ponderação”, bem diferente de 2018, quando candidatos com visões mais radicais foram eleitos. “É um sinal que a histeria que chegou com 2018 não foi bem recebida”, afirmou a deputada. Para ela, o eleitor tem a expectativa de votar e “ficar em paz”, o que não se concretizou com a vitória do atual presidente. “Em 2018, as pessoas foram eleitas, mas seguem trazendo problemas. O povo quer votar e ter paz, por isso quis votar no mais ponderado, que está mais acostumado com a política”, destacou. Ao ser questionada em quem votou em São Paulo, cidade onde mora, Janaina respondeu que pensou em anular o voto, pois as propostas dos candidatos “não atendiam as suas expectativas”, mas no fim “não teve coragem” e votou em Bruno Covas (PSDB), reeleito com 59,38% dos votos.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.