Editorial: Dilma e Lula decidem se dar o abraço de afogados. Querem saber? Eu acho é bom!

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 03/02/2016 16h00

Dilma defende Lula e critica "insinuações" de investigação da Operação Lava Jato

Fotos Públicas/Ricardo Stuckert/ Instituto Lula (Fotos Públicas) Dilma defende Lula e critica "insinuações" de investigação da Operação Lava Jato

Consta da mitologia criada sobre Dilma Rousseff que ela foi, como vou dizer?, professora de marxismo. Eu duvido um pouco. Em primeiro lugar, porque, fora o tatibitate do Marx escrevendo sobre ideologia ou relendo a história, aquele troço não é simples — o que não quer dizer que seja nem bom nem correto. Mas fácil não é. Se, hoje, já bastante madura, a presidente tem um raciocínio notavelmente confuso, a gente pode imaginar como era quando tinha pouca experiência. Como sabemos, ela sempre perde a luta para a sintaxe.

Raciocínio confuso costuma combinar com escolhas igualmente atrapalhadas. Dilma chegou a ter a chance de se salvar, já escrevi aqui, lá pelo começo do ano passado. Deveria ter apeado do PT, enviado ao Congresso uma emenda parlamentarista e proposto um governo de coalizão. Não o fez. Preferiu se agarrar ao partido. Está afundando junto com ele, e continuo a achar que não conclui o seu mandato. O “esfriamento” do impeachment me parece aquela bonança que antecede a tempestade. O povo de verdade ainda não disse o que acha da crise.

A imagem de Lula se desintegra, se esfarela. E não porque alguém conspire contra ele, mas porque, a gente nota, o homem se mostra incapaz de dar explicações convincentes. E que se note: isso só está em curso porque, finalmente, alguém teve a ousadia de cobrar. E, como se sabe, até agora, não foi Rodrigo Janot, não foi o Ministério Público Federal. A Operação Triplo X, no que diz respeito a Lula, por enquanto, é apenas um trocadilho.

Eis aí. De novo, com um pouco de inteligência política, só um pouquinho, Dilma poderia tentar passar pela porta estreita e tentar se descolar de Lula. Ocorre que ela se cercou de conselheiros… lulistas! E estes a convenceram de que ela só se salva se ele se salvar. Por mim, acho o conselho excelente porque intuo que todos eles naufragarão juntos.

Nesta quarta-feira, na abertura do ano legislativo, Jaques Wagner, ministro da Casa Civil, conclamou parlamentares da base a fazer a defesa de Lula. O ministro disse aos aliados que o ex-presidente é alvo de uma perseguição e que a história de Lula “precisa ser respeitada”. Para muitos, a fala de Wagner teve um tom de desabafo, quase um pedido de ajuda.

Wagner só ecoava a cascata dos petistas no Senado, que decidiram argumentar abertamente não em favor de Lula, mas, até onde dá para entender, de sua inimputabilidade e, pois, da impunidade.

O petista Jorge Viana (AC) presidiu a primeira sessão do ano e mandou brasa, prestem atenção:
“Vamos tratar o presidente Lula com respeito porque ele merece o respeito por tudo de bom que fez pelo nosso povo, pelo nosso país. Vamos deixar o presidente em paz com sua família, sua esposa, Marisa, para que ele possa ter o direito de uma vida depois de ter sido presidente da República”.

Como? Observo que Viana nem mesmo se ocupou de declarar que Lula é inocente. Pede que o deixem em paz em razão da sua biografia. Também fazendo de conta que nenhuma suspeita pesa contra o ex-presidente, Humberto Costa (PE), líder do partido no Senado, afirmou: “São ataques sistemáticos, que têm como objetivo desqualificá-lo como homem público e desconstruir a imagem de um presidente que deixou o cargo nos braços dos brasileiros, com mais de 80% de aprovação popular”.

Questão: se Lula tivesse deixado o poder com 100% de aprovação, isso lhe daria o direito de pairar acima das leis? A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), investigada numa operação parente da Lava Jato, também resolveu dar a sua opinião, aí com um pouco menos de, vá lá, sagacidade do que os outros. E provocou: “Talvez vocês pudessem acusar o Lula de ter tirado 40 milhões de pessoas da miséria, de ter feito o maior programa de investimento em moradia popular que este país de já teve”. Digamos que assim seja: Lula está se enrolando todo por isso?

Eis por que, apesar da aparente calmaria, eu duvido que Dilma vá conseguir sair do sufoco e salvar o próprio pescoço. Os petistas ainda não se deram conta do quão velho e ultrapassado é esse discurso. Vá às ruas, converse com as pessoas comuns, vejam a quantas anda a imagem daquele que eles insistem em tratar como demiurgo.

Em vez de se livrar da mistificação e recomendar a seus ministros que se mantenham longe dessa operação, que coisa de governo não pode ser, Dilma se deixa convencer de que ela só será salva se Lula conseguir recuperar o seu prestígio.

Não é um sinal de inteligência política.

Querem saber? Dado o que eles pensam, eu acho é bom.

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