Editorial: Esquerdas desistem do confronto por precisão, não por boniteza

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 10/03/2016 16h54
Rovena Rosa/Agência Brasil Manifestação organizada por movimentos sociais e sindicais contra o impeachment de Dilma

Escrevi aqui. Não ousem deter a marcha dos pacíficos. Escrevi aqui: não desafiem a força da mansidão, porque, como está em Gálatas, contra ela, nem mesmo as leis são eficazes. Os pacíficos e os mansos de espírito já venceram a ditadura militar no Brasil. Contra eles, não houve lei eficaz. Os que optaram, por exemplo, pela luta armada só contribuíram para recrudescer o regime e conferiram uma suposta autoridade moral a quem não tinha nenhuma.

Os que se cansaram do regime petista e de sua rotina de desrespeito às leis e às instituições não abrirão mão, pois, da luta pacífica. E se, contra os pacíficos, os mansos e os justos, nada podem as leis, tampouco pode a força bruta.

As esquerdas, ao menos oficialmente — e é na prática que vamos ver o efeito de sua decisão — anunciaram o cancelamento de suas manifestações para este domingo, 13, quando muitos milhares de pessoas sairão às ruas em defesa do impeachment, cobrando, em nome da lei da Constituição e da ordem, que este governo seja apeado do poder.

A Juventude do PT, a UNE (União Nacional dos Estudantes) e os ditos movimentos sociais desistiram de rivalizar com os manifestantes pró-impeachment. Os esquerdistas dizem agora ter tomado a decisão para evitar possíveis confrontos com manifestantes anti-Dilma.

O encontro “Sem Medo de Ser Feliz – Pela Diversidade e Democracia” foi remarcado para o domingo seguinte, dia 20 de março. Os organizadores afirmam que o evento será um encontro apartidário e cultural, com shows e presença de artistas e, claro!, de bloquinhos de Carnaval.

“O sapo não pula por boniteza, mas porém por precisão”, diz um provérbio capiau recolhido por Guimarães Rosa. Acho bom e prudente que as esquerdas tenham recuado, mas não pensem que o fizeram movidas pelo bom senso. Foi a necessidade.

A notícia de que elas pretendiam sair às ruas para rivalizar com os que são favoráveis ao impeachment foi contraproducente pra elas; rendeu efeito contrário. O objetivo era assustar as pessoas. O que o monitoramento do governo constatou foi o contrário: a ideia do desafio fez com que crescessem enormemente os anúncios de adesão ao aos marcados para este dia 13.

Os petistas e as esquerdas não estão se dando conta de que se chegou, definitivamente, ao fim de uma era.

Para onde quer que se olhe, constata-se o fim do governo. A simples conjectura de que um ministério pode ser dado a Lula apenas para lhe garantir o foro especial por prerrogativa de função indica a falência. O fato de um investigado pelo Ministério Público Federal e denunciado pelo Ministério Público Estadual ter tomado as rédeas, na aparência ao menos, da luta contra o impeachment é a confirmação de que Dilma já não governa.

E que se note. O PT já apeou do governo Dilma faz tempo. Já anunciou que não apoia a reforma da Previdência. Já anunciou que não aceita o corte no Orçamento. Já deu a sua receita para o futuro: aumentar os gastos públicos.

Ou por outra: Lula não anda todo buliçoso por aí para salvar Dilma. A luta, hoje, é apenas para manter o controle da máquina pública, vital para o PT, e, com ela em mãos, manter as condições de chantagear o processo político.

Ocorre que o país, crescentemente, se dá conta de que não tem mais um governo. Está submetido hoje a um interventor investigado, que não foi eleito por ninguém. E por isso também muitos milhares estarão nas ruas neste domingo.

As esquerdas, em suma, recuaram porque o contraste seria humilhante e se evidenciaria, também pela ocupação do espaço, que uma minoria tiraniza uma maioria.

Uma minoria que vai cair.

Ah, sim: como se vê, no dia 20, as esquerdas pretendem unir a defesa do PT com bloquinho de Carnaval. Sem cachaça, já não reúnem ninguém. O pão tá pouco, tomem circo e bêbados. Faz sentido! É a cara do PT — sem querer desrespeitar os bêbados profissionais, é claro!

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