Editorial – Lula como chefe da organização criminosa, da “propinocracia”. É esta denúncia que Brasil espera

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 26/09/2016 18h20
Brasília - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assiste a presidenta afastada, Dilma Rousseff, fazer sua defesa durante sessão de julgamento do impeachment no Senado ( Marcelo Camargo/Agência Brasil) Marcelo Camargo/Agência Brasil Luiz Inácio Lula da Silva acompanha discurso de Dilma Rousseff no plenário do Senado - ABR

À medida que a Operação Lava Jato vai revelando os meandros da organização criminosa que tomou conta do país, o que vai se revelando de maneira clara, inequívoca, didática, com poucas chances lógicas para o contraditório, é que o PT, cujo chefe inequívoco sempre foi Luiz Inácio Lula da Silva, se estruturou para:

a: liquidar com os outros partidos;
b: dividir o Brasil com sócios do capital privado;
c: eternizar-se no poder — nesse caso, o complemento era a reforma política.
Que coisa! Dia desses estranhei aqui que esquerdistas inteligentes — sim, os há — ainda tentem negar o caráter no PT. No dia 19 de setembro, um deles, Celso Rocha de Barros, escrevia um artigo na Folha em que se podia ler o seguinte, prestem atenção (em vermelho):

Tudo indica que Lula recebeu favores das empreiteiras, e as autoridades estão cumprindo seu dever quando investigam a natureza desses favores. Mas a história mais ampla sobre política brasileira que foi contada na quarta-feira é muito ruim. Ela parece ser a base para a acusação de que Lula era o “comandante supremo” da “propinocracia”. Isso não vale.

Na visão do procurador Deltan Dallagnol, o PT montou um sistema de distribuição de cargos e propinas que garantiu uma “governabilidade corrompida”, visando a “perpetuação criminosa” do PT no poder. No centro do esquema estaria Lula: sem ele, nenhum dos envolvidos teria sido nomeado para seus cargos. A roubalheira teve como fonte propinas cobradas do cartel das empreiteiras.

Se Lula estivesse no centro do esquema, como argumentou o procurador, poderíamos supor que sua presença nessa rede fosse fundamental para manutenção. Talvez isso seja eventualmente demonstrado, mas os dados disponíveis não o sugerem.

Tanto o cartel das empreiteiras quanto os aliados que venderam seu apoio ao PT já estavam no ramo antes de 2003. O cartel financiou a campanha de todos os partidos esses anos todos. Só o PT lhes ofereceu favores em troca? Os fisiológicos apoiaram FHC por oito anos, deslocaram-se em massa para o PT até recentemente e agora passaram todos para o lado de Temer. Foi só durante a era petista que essa necessidade de proximidade com a máquina pública foi motivada por interesses escusos?”
(…)
Retomo

Esquerdista inteligente que é, Celso Rocha de Barros não exercita a negação. Oh, ele admite que, tudo indica, houve, sim, privilégios. Mas, como se nota, recusa o essencial: a organização criminosa e a particularidade do projeto petista. E por que o faz? Assim, ele pode manter a sua crença. Os crimes dos petistas teriam sido todos contingentes, a exemplo do que já fizeram outros partidos.

Não, senhor! Não há nada de errado — E EU JÁ DISSE ISSO AQUI — com aquele organograma exposto por Deltan Dallagnol naquela infeliz entrevista coletiva. Ele só era um despropósito naquela hora, apresentado por aqueles motivos. Se e quando Lula for apontado como o chefe da organização criminosa, que seja, então, exposto. A minha restrição, como ficou claro aos alfabetizados, foi quanto ao método. Não se apresenta um troço daquele para depois acusar alguém de ter recebido R$ 3.738.738 em benefícios indevidos, ora essa!
Ou por outra: não se põe o carro adiante dos bois.

Ora, o que revela a 35ª fase da Operação Lava Jato, batizada de “Omertà”, numa referência à lei do silêncio que vigora na máfia? O projeto de privatização, sim, do estado. O grupo Odebrecht pode ter sido o mais íntimo e próximo de Lula e do PT. Mas, como se sabe, não foi o único.

Volto-me para Celso Rocha de Barros: o que se tem aí caracteriza ou não uma “propinocracia”?
É um espanto do cinismo que o PT tenha se tornado notório por ser um partido contrário às privatizações, não é mesmo? É do balacobaco que seu seus bate-paus, seus asseclas e seus comandados saiam às ruas para denunciar uma conspiração privatista, que seria representada pelo governo Temer.
Ora, ora… Por que é que o PT quer um estado gigante? Porque, no comando dessa poderosa máquina, o partido poderia, então, exercer o poder de fato, punindo ou beneficiando parceiros segundo as necessidades do partido e de sua elite dirigente.

“Ah, isso é ilação sua, Reinaldo, e de outros que pensam como você!” Errado! A esta altura, os fatos estão dados de maneira absolutamente inequívoca.

É claro que outros partidos e outras lideranças se beneficiaram da estrutura criminosa. É evidente que as empreiteiras negociaram com outros partidos. Mas é preciso ter claro qual legenda e qual grupo se estruturaram para que a nova cara do estado brasileiro fosse esse condomínio em que o núcleo dirigente de um partido e uma elite empresarial eleita governariam, de fato, o país, num projeto sem tempo para acabar.

O tal “povo”, nesse tempo, iria recebendo alguns caraminguás e sendo chamado a referendar o modelo nas urnas a cada quatro anos.
Lula como chefe da organização criminosa! É essa a denúncia que o país espera.

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