Editorial – Punição para Bolsonaro!

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 24/06/2016 16h47
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O deputado Jair Bolsonaro durante sessão do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados que instaurou nesta terça-feira (16) processo por quebra de decoro contra o deputado Foto: Wilson Dias/Agência Brasil Wilson Dias/Agência Brasil Jair Bolsonaro - AGBR

Entrei numa porfia com alguns amigos que se querem liberais ou libertários por causa da decisão da Primeira Turma do STF, que, por quatro votos a um, aceitou denúncia contra o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) por incitação ao crime de estupro.

Apoio sem reservas a decisão, sempre lembrando que Bolsonaro não foi ainda condenado. Apenas se aceitou uma denúncia. Existe a chance de defesa, um bem que inexiste na sociedade que ele abriga, em que torturador é herói.

O evento indica que tipo de sociedade queremos e até onde os não esquerdistas, a exemplo de seus antípodas, também se estendem em franjas éticas. As do PT, por exemplo, se tornaram tão longas que, na sua morte, o partido já não sabe definir o próprio caráter.

Fato e circunstância: em 2003, a deputada Maria do Rosário (PT-RS) interrompeu uma entrevista de Bolsonaro à RedeTV!, em que defendia a maioridade penal aos 16 anos. Ela o chama de “estuprador”. Uma injúria. Ele responde: “Eu jamais iria estuprar você porque você não merece”. Ameaça de agressão mútua. O vídeo está neste endereço.

Onze anos depois, no dia 9 de dezembro de 2014, num debate parlamentar, Bolsonaro está criticando conclusões da Comissão da Verdade, defendidas havia pouco por Maria do Rosário. Ela se levanta para sair, um direito seu. Ele, então, chama a sua atenção: “Não saia, não, Maria do Rosário, fique aí! Há poucos dias, você me chamou de estuprador no Salão Verde, e eu falei que eu não estuprava você porque você não merece. Fique aqui para ouvir”.

O “poucos dias”, reitero, fazia 11 anos.

Três amigos liberais contestaram a minha posição argumentando em favor da “liberdade de opinião”. Fiquei feliz que não tivessem privatizado o liberalismo –ou eu teria de tentar outra coisa… Eu os desafiei a reescrever com as próprias palavras a opinião de Bolsonaro. Ninguém aceitou porque, de fato, não há opinião ali. Uma coisa é a resposta dada a quente, no calor do embate. Outra é disparar a mesma fala 11 anos depois.

As palavras fazem sentido. Se Bolsonaro diz que Maria do Rosário não “merece” ser estuprada por ele porque a despreza, está dizendo o evidente: há as que merecem. E as mulheres que ele admira correm mais riscos. Exagero na interpretação? Não! Em entrevista ao Jornal “Zero Hora”, foi inequívoco: “Ela não merece [ser estuprada] porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia. Não faz meu gênero. Jamais a estupraria”. Fosse Rosário, a seu critério, boa e bonita e fizesse seu gênero, então sim.

Se os não esquerdistas não souberem a diferença entre crime e liberdade de expressão –que não é um direito absoluto porque nenhum é–, deixarão para as esquerdas culturais, hegemônicas mundo afora, a tarefa de confundir liberdade de expressão com crime.

O episódio não prova nem a existência da cultura do estupro nem a vertente censória do politicamente correto. É bom que certas conquistas da civilização não sejam tidas como um valor dos nossos inimigos. Aprendi isso com Trótski, que contestava Lênin mentalmente, segundo a biografia de Isaac Deutscher. Vai ver me falta boa literatura política para entender o espírito indômito de Bolsonaro e o valor da imunidade parlamentar.

Que ele se desculpe e admita seu erro ou que seja punido exemplarmente por aquilo que praticou: apologia do estupro –mas não de todas as mulheres, claro! Só das boas, bonitas e que fazem seu gênero.

PS: Antes que sugiram que estou tentando administrar a minha reputação para ganhar a admiração de quem me detesta, leiam o que escrevi neste espaço sobre esse caso no dia 19 de dezembro de 2014.

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