Editorial: Tarados morais das mais diversas vertentes saem contra o impeachment para combater “a direita”

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 04/12/2015 16h47
BRASÍLIA, DF, 04.12.2015: DILMA-DF - A presidente Dilma Rousseff participa do encerramento da 15ª Conferência Nacional de Saúde, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília (DF), nesta sexta-feira (4). (Foto: Alan Marques/Folhapress) Alan Marques/Folhapress Dilma Rousseff

Vigaristas intelectuais das mais diversas vertentes resolveram vir a público para denunciar aquele que seria um grande “complô da direita” contra o governo Dilma. É mesmo? Onde está a direita? Ela vive de quê? Apresentem-me, por favor, a direita.

Ela vive de juros estratosféricos?
Ela vive de financiar vagabundos para conseguir obras púbicas?
Ela vive de juros subsidiados do BNDES?

Digam-me, por favor, onde está a direita.

Até uma tal Associação Brasileira de Ciência Política, com esse nome ridiculamente pomposo, resolveu emitir uma nota contra o impeachment. Entrei no site do grupo. Sabem quem são os diretores? Eu conto: Leonardo Avritzer, Carlos R. S. Milani, Maria do Socorro Braga, Silvana Krause, Renato Perissinotto, Rebecca Albers, Ricardo Borges, Celso Vaz e Rachel Meneguello.

Boa tarde a todos! Nunca ouvi falar! Leio os bons da área. Nunca foram citados. Essa gente não existe. Monta uma ridícula associação de “ciência política” e sai expelindo regras por aí. A propósito: por que um cientista político precisa pertencer a uma corporação de ofício? Um trabalho intelectual de pensamento e análise, que é necessariamente individual, é exercido em sessões coletivas?

Quando vocês se reúnem, brincam de quê? de “Macaquinhos”??? Ou é masturbação coletiva?

Cadê a direita?

Se ela vive de juros, então está com o PT. Está com Dilma.
Se ela vive de obras públicas, então está com o PT. Está com Dilma.
Se ela vive de subsídos do BNDES, então está com o PT. Está com Dilma.

É um lixo moral e intelectual acusar a suposta ilegitimidade do impeachment porque ele partiria de Eduardo Cunha. Ora, este é apenas o presidente da Câmara. A ação não é dele. Os peticionários são outros. Aliás, os peticionários são milhões de brasileiros.

É um vexame sem par que coroas pançudos, que estariam obrigados pela vida a ensinar algumas coisas aos jovens, recebam de Kim Kataguiri, do MBL, de 19 anos, uma lição de funcionamento das instituições.

Em artigo na Folha de hoje, ele escreve:
“Parte da imprensa quer fazer parecer -e isso ficou muito claro pelas capas dos jornais desta quinta (3)- que o processo de impeachment é uma batalha entre o bem e o mal. O bem, é claro, é a presidente Dilma.
Segundo a narrativa do adesismo, o impeachment é uma mera investida revanchista de Eduardo Cunha, que não conseguiu o apoio do PT para se salvar no Conselho de Ética da Câmara.
(…)
Depois de três gigantescas manifestações, uma caminhada simbólica de São Paulo até Brasília e um acampamento que permaneceu por mais de um mês em frente ao Congresso Nacional, o impeachment tornou-se pauta para a classe política. Não havia mais como ignorá-lo. O barulho do Brasil perfurara a bolha que isola Brasília.
Ainda assim, o discurso da imprensa não era o de que a população brasileira havia, pela primeira vez em muito tempo, pautado o debate do Congresso. Construíram uma narrativa na qual a legitimidade de qualquer pedido de impeachment provinha de quem ocupa a presidência da Câmara.
“Ok, vocês estão pedindo o impeachment da Dilma. Mas e o Cunha? Ele pode acolher? Não tira a legitimidade do pedido?” Parece que os jornalistas esqueceram o fato de que o presidente da Câmara dos Deputados é o único que pode acolher tal pedido contra a presidente Dilma.
(…)

Canalhice intelectual
Mas o auge da canalhice intelectual está em cair de joelhos diante de Dilma, mas fazê-lo criticamente: “Ah, eu deploro esse governo, mas impeachment de Cunha, não”.

Ora, se o impeachment pertencesse ao presidente da Câmara, Dilma estaria vivendo dias de glória.

Até os bispos da Igreja Católica, para não variar, resolveram dizer sandices. A Comissão Brasileira Justiça e Paz, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB, questiona os motivos que levaram Cunha a aceitar o pedido de abertura do processo de impeachment de Dilma Rousseff.

A comissão da CNBB diz que a atitude do presidente da Câmara “carece de subsídios que regulem a matéria” e que a sociedade está sendo levada a crer que “há motivação de ordem estritamente embasada no exercício da política voltada para interesses contrários ao bem comum”. Para a conferência, “o impedimento de um presidente da República ameaça ditames democráticos, conquistados a duras penas”. A comissão diz ainda que “é preciso caminhar no sentido da união nacional, sem quaisquer partidarismos, a fim de que possamos construir um desenvolvimento justo e sustentável”.

A CNBB precisa melhorar a reza e a política. Não é um mero acaso o óbvio declínio da Igreja Católica no Brasil. Como a gente vê, quando uns não estão fazendo coisas nefandas com crianças na sacristia, outros tantos estão a violar o direito de milhões de ter um governo que respeite as leis. Que estes também vão brincar de “Macaquinhos” e deixem o Brasil em paz, buscando Justiça.

No fim das contas, o que temos aí é a convergência das mais variadas correntes de esquerda em defesa de seus aliados intelectuais.

Isso ainda não é o pior que esse pensamento pode produzir, não. É apenas a versão atual e local de uma deformação moral bem mais antiga.

Durante décadas, intelectuais de esquerda do mundo inteiro fecharam os olhos para os crimes do stalinismo e do maoísmo na União Soviética e na China, respectivamente. Achavam que denunciá-los seria tirar do povo a esperança na revolução. Enquanto isso, Stalin matava 35 milhões de pobres, e Mao, 75 milhões.

Mas os ditos intelectuais não davam o braço a torcer. Afinal, tinham de combater “a direita”, “os reacionários” e “o imperialismo”.

Bando de delinquentes!

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