Editorial – Trump nos tristes trópicos?

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 03/03/2017 13h58
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TRU37 WASHINGTON (ESTADOS UNIDOS) 21/02/ 2017.- El presidente de los Estados Unidos, Donald J. Trump, habla para los medios tras finalizar su visita al Museo de Historia y Cultura Afroamericana, en Washington (Estados Unidos), hoy, 21 de febrero de 2017. EFE/Kevin Dietsch **Pool** EFE/Kevin Dietsch EFE - Donald Trump

Que Lula tentasse se recuperar dos escombros do PT e da sua própria biografia era, convenham, o esperado. Que tão cedo, réu em cinco processos, voltasse ao jogo eleitoral… Isso só é possível com a contribuição de todos os erros de alguns de seus adversários. Que a demonização da política, comandada pela Lava Jato e pela direita xucra, resultaria, na prática, numa espécie de absolvição precoce do PT, bem, para vê-lo, é preciso ter olhos treinados pela memória e por alguma teoria. Não se aprende a fazer análise política ganhando “likes” no Facebook.

Há dias, em artigo em “O Globo”, o cineasta José Padilha escreveu 27 ditos “enunciados” sobre o que chamou de “mecanismo de exploração da sociedade brasileira”. Título: “A importância da Lava Jato”. Deltan Dallagnol compartilhou o texto nas redes sociais, incluindo, claro!, trecho do Enunciado 22, que exalta “o fato de que uma investigação potencialmente explosiva caiu nas mãos de uma equipe de investigadores, procuradores e de juízes rígida, competente e com bastante sorte.” Faltou chamar de “linda”.

O cineasta vai fazer uma série sobre a operação para a Netflix. Segundo a voz de um de seus diretores, a empresa “reconhece o talento de José Padilha em transformar os eventos atuais ainda em constante evolução em narrativas atraentes, e ele está bem posicionado para documentar este momento importante na história do Brasil”.

Sem dúvida! Então você precisa ler ou reler os 27 postulados. Eles já me foram enviados por esquerdistas, centristas, direitistas, paraquedistas… É o emplastro Brás Cubas da política, que vai aliviar a “nossa melancólica humanidade”. Segundo o autor, “na base do sistema político brasileiro, opera um mecanismo de exploração da sociedade por quadrilhas formadas por fornecedores do Estado e grandes partidos políticos”. Padilha sustenta que “o mecanismo viabilizou a eleição de todos os governos brasileiros desde a retomada das eleições diretas, sejam eles de esquerda ou de direita.”

É o que dizia o Lula do mensalão. É o que diz o Lula do petrolão. Por isso as esquerdas querem financiamento público de campanha. Ah, em 2002, o Apedeuta era ainda mais rigoroso do que Padilha: tonitruava que o Brasil era governado pela mesma elite desde as Capitanias Hereditárias.

No item 21, compartilhado por Dallagnol, lê-se: “Como as leis são feitas por congressistas corruptos, e os magistrados das cortes superiores são indicados por políticos eleitos pelo mecanismo, é natural que tanto a lei quanto os magistrados das instâncias superiores tendam a ser lenientes com a corrupção”.

Nada escapa. A redemocratização foi obra dessa conspiração. É o que sempre sustentou a direita fascista.

O autor vai além: “O Brasil atual está sendo administrado por um grupo de políticos especializados em operar o mecanismo e que quer mantê-lo funcionando.” Logo, entenda-se, o desmonte dessa estrovenga terá de ser feito por pessoas desvinculadas do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Parece-me ser tarefa para procuradores, certo?

Vamos enforcar o último Montesquieu com a tripa do último John Locke.

Segundo o artigo de Padilha, todos os avanços institucionais do país, desde a redemocratização, foram financiados e definidos pelo “mecanismo”. Os comunas de antigamente chamavam isso de “O sistema”. Nem a esquerda nem a direita mais rombudas haviam relido antes a história do Brasil pela ótica exclusiva do crime.

Surgiu uma nova economia política. Em breve, na Netflix.

Ah, sim! Os prestidigitadores já têm a arma mortal contra Lula – caso a Justiça não o condene antes: criar um “Trump dos Trópicos”. Só não põem na conta os tristes trópicos. 

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