Com derrota de Garcia, dinastia tucana no governo de São Paulo chega ao fim

Ida de Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT) ao segundo turno da disputa encerra hegemonia de quase três décadas do PSDB à frente do maior Estado do país

  • Por Jovem Pan
  • 03/10/2022 15h41
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LECO VIANA/THENEWS2/ESTADÃO CONTEÚDO - 23/08/2022 Palco com Edson Aparecido (distante do testo), José Serra e Rodrigo Garcia; atrás, um painel da campanha de Serra Rodrigo Garcia, aposta do PSDB para este ano, ao lado de José Serra, ex-governador de São Paulo

A ida de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT) para o segundo turno das eleições para governador de São Paulo marca o fim da dinastia do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) no Estado. Em 38 anos desde a redemocratização do Brasil, o PSDB conquistou sete mandatos do governo de São Paulo. Desde 1995, todos os governadores eleitos eram do partido, com breves intervalos no poder por renúncias dos políticos ao cargo para disputar a Presidência. Candidato tucano nessas eleições, Rodrigo Garcia ficou de fora da corrida ao conquistar 18,40% dos votos, com uma diferença de mais de quatro milhões para o petista, que ocupou a segunda colocação. O ex-ministro da Infraestrutura e o ex-prefeito da capital paulista receberam, respectivamente, 42,32% e 35,70%. O PSDB não contava com um nome forte para representar o partido na corrida eleitoral após a saída de João Doria, que havia deixado o cargo de governador para concorrer à Presidência. Contudo, ele desistiu da candidatura em razão da falta de apoio no partido e de sua alta rejeição. Garcia foi filiado ao Democratas por 27 anos e entrou no PSDB apenas em 2021, para assumir o governo de São Paulo no lugar de Doria. O neo tucano, inclusive, não fazia questão de esconder que não estava na corrida ao Palácio dos Bandeirantes para defender o legado do PSDB. “Não estou aqui para defender a continuidade do PSDB. Eu estou aqui para defender São Paulo. Estou filiado ao PSDB como a democracia exige”, disse em sabatina do Jornal Jovem Pan.

Políticos do PSDB que ocuparam anteriormente o cargo de governador de São Paulo tinham uma boa reputação na região durante seus mandatos, mas também foram implicados em esquemas de corrupção, o que acabou desgastando a imagem do partido. A dinastia tucana foi iniciada por Mário Covas, governador de 1995 a 2001, sem investigações públicas de corrupção. Ele foi sucedido por Geraldo Alckmin, que esteve no cargo de 2001 a 2006. De acordo com um levantamento do Datafolha de 2004, Alckmin foi considerado o segundo melhor governador do país. Em 2006, obteve 68% de aprovação, seu melhor índice. Observando as pesquisas em 1995 e 2006, Alckmin foi um dos poucos governadores bem avaliados, de acordo com o próprio Datafolha. Cláudio Lembo (então do PFL) assumiu brevemente o governo em 2006 após Alckmin renunciar para concorrer à Presidência. José Serra (PSDB) foi eleito governador de São Paulo em 2006. Ele chegou a ser o quinto governador mais bem avaliado do país, de acordo com uma pesquisa do instituto realizada em 2009. Serra deixou o cargo após o primeiro mandato para concorrer à Presidência, mas foi derrotado por Dilma Rousseff (PT). Em 2012, concorreu à Prefeitura de São Paulo, mas foi derrotado por Fernando Haddad (PT). O ex-ministro da Saúde não voltou a concorrer ao governo de São Paulo. Em 2020, foi acusado de lavagem de dinheiro por ter recebido vantagens indevidas da Odebrecht entre 2006 e 2007, enquanto era governador. Em 2021, o STF encerrou a investigação, inocentando o tucano. Alberto Goldman (PSDB) também assumiu brevemente o governo de São Paulo quando seu colega de partido renunciou ao cargo, em 2010.

Alckmin voltou a ser eleito em 2010, quando enfrentou crises em diversos setores e viu sua popularidade cair. Mesmo assim, conseguiu ser reeleito na eleição seguinte. Em 2018, cumprindo uma espécie de tradição, que transforma o governador do maior Estado do país em presidenciável, o então chefe do Executivo paulista tentou chegar à Presidência da República. O entusiasmo com sua postulação era evidente: no primeiro turno, o tucano reuniu o núcleo duro do Centrão em sua coligação. À época, Ciro Nogueira (PP), Marcos Pereira (Republicanos) e Paulinho da Força (Solidariedade), apoiaram a candidatura do atual vice de Lula. O resultado, porém, foi pífio, com Alckmin amargando uma quarta colocação, com menos de 5% dos votos. No mesmo ano, o então prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), bateu Márcio França (PSB) e chegou ao Palácio dos Bandeirantes. Apesar do esforço para trazer a vacina para o Brasil, Doria deixou o governo com altos índices de rejeição, o que contribuiu para o desgaste na imagem de Rodrigo Garcia, seu vice, que assumiu o posto em abril. O atual governador tentou se cacifar como um nome independente, longe da polarização exemplificada por Haddad e Tarcísio e apostou na força da máquina tucana para crescer na reta final de campanha e desbancar um dos adversários. Com o revés do domingo, 2, o tucanato vive um dos seus piores dias, vê uma dinastia de três décadas chegar ao fim e o fantasma do ostracismo bater em sua porta.

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