Governadores adorariam fugir de encontro com Dilma

  • Por Jovem Pan
  • 28/07/2015 09h46
  • BlueSky
Wilson Dias/Agência Brasil Presidente Dilma durante a 48ª Cúpula do Mercosul e Estados Associados

Reinaldo, agora Dilma quer fazer uma reunião com 27 governadores na quinta-feira. E aí?

E aí nada.

Ai, ai…

Há coisas, como costumo escrever aqui, que nem erradas são. Apenas não existem. A “política de governadores”, que Dilma pretende ressuscitar, foi enterrada junto com a República Velha. E todas as tentativas de retomá-la, desde aquele tempo, deram em nada. Como dará de novo agora.

A presidente pretende reunir os 27 chefes de Executivos estaduais na quinta-feira para que eles conversem com as respectivas bancadas federais de seus Estados, tentando impedir a aprovação da chamada “pauta-bomba” — medidas que provocariam um rombo no caixa, a exemplo do tal aumento de 56%, em média, concedido ao Judiciário, que ela teve de vetar.

Qual é a justificativa para o encontro, tecnicamente procedente, mas politicamente inócua? Reajustes concedidos a funcionários federais e gastos impostos à União acabam, invariavelmente, impactando nos Estados. É verdade. A questão é saber qual é o real poder de fogo dos governadores nas bancadas federais. Os alinhamentos que se dão no Parlamento são de outra natureza. Nem mesmo o Senado está sujeito a uma influência muito forte dos governadores. A orientação partidária e as afinidades por setor da economia ou por convicção acabam tendo mais influência.

De resto, a tal pauta-bomba é mero pretexto. Dilma está querendo é dar uma demonstração de força política num momento em que se considera que cresceu a possibilidade de ter sequência uma denúncia contra ela na Câmara, já que, por enquanto ao menos, o governo avalia que é altíssimo o risco de o TCU recomendar a rejeição das contas. Também esse tema ficará fora da pauta, mas, como se sabe, presente.

Os governadores estão numa saia-justa. É provável que compareçam. Por outro lado, prefeririam ficar longe desse cálice. Nenhum chefe de Executivo estadual é hoje tão impopular como Dilma. O receio óbvio é que a impopularidade dela os acabe contaminando e que, vistos todos juntos, sejam considerados corresponsáveis pelo momento notavelmente ruim por que passa a economia.

A presidente pretende fazer a reunião na quinta, dia 30, quase antevéspera de ir ao ar o programa político do PT, no qual ela vai falar. O panelaço, apitaço, buzinaço e outros superlativos do descontentamento pátrio já estão convocados. Dez dias depois, há o protesto, que já se aposta gigante, do dia 16 de agosto. Ninguém estava disposto a posar agora ao lado de Dilma, mas sabem como é… No federalismo à moda brasileira, em que presidente da República é quase imperador absolutista, fica difícil recusar.

Já dá para antever o desânimo. Os governadores adorariam fugir, mas Dilma faz questão de dar “um abraçaço” neles, como diria Caetano…

  • BlueSky

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.