COP26: Nove temas que afetam o agronegócio do Brasil
Vários assuntos em discussão na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas têm potencial para impactar as rotinas do agro brasileiro; veja alguns deles
A COP 26, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, começou em 31 de outubro e terminará na próxima sexta-feira, 12, quando teremos um balanço dos principais acordos firmados entre as autoridades de diversos países. Especialistas consultados pelo “Hora H do Agro” afirmam que o agronegócio brasileiro tem conseguido criar uma imagem positiva ao comunicar dados e ações sustentáveis que estão sendo adotadas aqui no país e ao aderir a acordos, como o de redução de metano. Veja um resumo das discussões da primeira semana que importam para a cadeia produtiva do agro e, por consequência, para o consumidor como: o acordo de metano, a declaração internacional para proteção das florestas e as discussões sobre os pagamentos de créditos por serviços ambientais. Esses temas foram debatidos e analisados pelo presidente da Embrapa, Celso Moretti, e pelo presidente executivo da CropLife Brasil, Christian Lohbauer, no painel “Hora H do Agro” apresentado pela jornalista e colunista da Jovem Pan, Kellen Severo. Acompanhe ponto a ponto:
Imagem do Agro na COP 26
O Brasil chegou na conferência do clima com o desafio de melhorar a reputação internacional, arranhada pelo desmatamento ilegal e incêndios florestais. A impressão é que a imagem do país está melhorando à medida que novos compromissos ambientais são firmados e ações práticas de sustentabilidade são adotadas e comunicadas por governos, associações e empresas. Uma das metas do Brasil é reduzir em 50% a emissão de gases poluentes até 2030 e zerar a emissão de carbono até 2050. “Esses anúncios foram um balde de água fria naqueles que pensavam que o Brasil iria ficar nas cordas”, afirmou Celso Moretti, presidente da Embrapa. Segundo Moretti, esses acordos também são importantes para reforçar a visão positiva do agronegócio na COP 26, já que, por vezes, o setor é colocametanodo erroneamente no holofote dos debates sobre queimadas e incêndios. “O país veio e mostrou a sua força, principalmente, no agro que é pujante e inovador”, reforçou.
Demanda por Energia Limpa
O presidente executivo da CropLife Brasil, Christian Lohbauer, tem uma boa impressão dos compromissos ambientais assumidos pelos países, mas lembra que o mundo está vivendo uma ‘abalo sísmico’ nas cadeias de suprimento em função do maior ajuste energético. “O mundo está demandando energia e não tem energia limpa e barata para entregar. Como vamos lidar com isso? Tomo como um desafio de reflexão mais do que uma crítica” reflete.
Declaração de Proteção Florestal
O Brasil apoiou a declaração internacional de líderes mundiais para preservar as florestas e reduzir o desmatamento e a degradação dos solos até 2030. A ação será adotada por mais de 100 países onde estão 85% das florestas mundiais. Segundo Lohbauer, para manter a preservação da mata, o Brasil vai seguir rigorosa implementação do Código Florestal que “se não for a mais exigente é uma das mais exigentes leis ambientais do mundo”. Atualmente, a legislação brasileira estabelece que uma propriedade localizada na Amazônia só pode produzir em 20% da área, mantendo os outros 80% preservados. “Isso tem que ser entendido no cenário internacional”, afirmou o presidente da CropLife Brasil. O Brasil mantém mais de 66% do território com mata nativa preservada.
Acordo de Metano e Pecuária Brasileira
Outro item que direcionou os debates na COP 26 foi o Acordo de Metano assinado pelo governo brasileiro e mais de 100 países no qual o grupo se compromete a reduzir 30% das emissões de forma conjunta até 2030, com base nas emissões de 2020. Com isso, surgiram especulações sobre os desafios que a pecuária do país enfrentaria por ter um dos maiores rebanhos do mundo. Entretanto, a “maior causa de emissão de metano não é a pecuária mundial é a indústria”, destacou o presidente da CropLife Brasil. “Isso não significa que não temos que cuidar da pecuária”.
E esse cuidado está sendo antecipado há anos, com desenvolvimento de novas tecnologias, por isso, o acordo é visto com tranquilidade por Moretti. De acordo com ele, para empreender a redução das emissões o país continuará o trabalho de aprimoramento genético das pastagens para melhorar a digestão dos animais e, por consequência, a diminuição das emissões e prosseguirá com o uso de aditivos para serem adicionados na ração animal. Outros dois pilares de atuação também serão incluídos nas ações para compensar as emissões: expansão dos sistemas integrados de lavoura, pecuária e floresta (ILPF); e mais mais investimento em pesquisa e inovação. “O Brasil acertou em participar deste acordo com mais de 100 países e certamente saímos na frente porque temos tecnologia, conhecimento e uma pecuária sustentável”, comemorou.
Pagamentos por Serviços Ambientais
As discussões para que produtores comecem a receber por serviços ambientais não é vista com otimismo. Tanto o presidente da CropLife Brasil, quanto o da Embrapa, acreditam que ainda há um longo caminho a ser percorrido, pois a questão gira em torno de onde virá o dinheiro para o pagamento?. Provavelmente, “dos cofres nacionais não vai sair”, afirma Lohbauer. Mesmo ponto levantado por Moretti. Hoje, o Brasil tem 550 milhões de florestas e matas nativas sendo protegidas, com quase 30%, segundo a Embrapa, dentro das propriedades privadas, mas não há como dizer “quanto vale e de onde virá esse recurso” para compensar os produtores.
Mercado de carbono
Na mesma linha da economia verde e da compensação por ações ambientais está a regulamentação do mercado de carbono. As conversas estão em fases iniciais, mas a cada dia ganham mais espaço, especialmente na Conferência do Clima. Segundo Celso Moretti esse tipo de negociação está acontecendo pelo mundo, um exemplo, está em execução no centro financeiro em Londres, na Inglaterra. Aqui no Brasil, o debate caminha lentamente, porém, há alguns bilhões de reais envolvidos com crédito de carbono gerado pelos CBIos, do Renovabio – programa voltado para produção de biocombustíveis. Mas, segundo Moretti, “pela força do agro, pela agricultura de baixo carbono que nós temos, ainda estamos aquém do que podemos”. Já Lohbauer lembrou que por ser um jogo de papéis de mercado é importante ter uma regulação internacional definida para trazer clareza às negociações, do contrário “corre o risco de tirar a credibilidade do negócio, o que seria muito ruim.”
Soja brasileira não é fruto do desmatamento
Por mais que o Brasil apresente seu dever de casa e fale da sustentabilidade do agro na COP, parece que sempre haverá alguns mitos a serem desfeitos. Um deles é o de que a soja produzida e exportada vem de áreas desmatadas irregularmente da Amazônia. Uma informação errada e disseminada pelo mundo já que “de 1% a 2% da produção de soja está dentro do bioma amazônico”, lembrou Christian Lohbauer. “Acho que as pessoas precisam estudar geografia”. Moretti comunga dessa mesma percepção sobre o desconhecimento do tamanho do Brasil. “99% dos nossos produtores respeitam a legislação, trabalham dentro da legislação”, diz.
Segundo ele, esse tipo de mentira se combate com informação e dados que não mentem e deixam claro que ⅔ do território do país é preservado. “Corresponde a mais de 130 vezes o território da Dinamarca, mais de 11 vezes o território da Espanha e mais de 9 vezes o território da França”, lembra. Além disso, o presidente da Embrapa não ignora que há sim um problema de desmatamento ilegal no país, mas é coisa de criminosos e não agricultores ou pecuaristas.
Sustentabilidade do agro
Justamente por isso, a Embrapa tem apresentado e reforçado os dados da produção agropecuária brasileira sustentável durante a COP 26. Contudo, a percepção do presidente da entidade, Celso Moretti, tanto na Conferência como em outras reuniões é de uma falta de conhecimento da comunidade internacional sobre os dados reais da produção do país e das regras do Código Florestal.
Por isso, ao mostrar os levantamentos, as tecnologias em uso pelos agricultores e pecuaristas ele busca destacar que é possível alcançar uma realidade de preservação e produção simultâneas. “O Brasil está mostrando cada vez mais e melhor para o mundo que temos uma agricultura baseada em ciência e dados que suportam nossas afirmações”, argumentou.
Agro pós COP 26
A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas ainda tem mais uma semana de discussões e outros acordos e compromissos devem ser selados, mas o produtor brasileiro deve se preparar para os impactos que virão após o encontro. Para Lohbauer, a mensagem permanente da COP 26 ao produtor é justamente a tecnologia, considerada sinônimo de sustentabilidade. O agro será cobrado pelo uso de defensivos, biodefensivos e insumos cada vez mais eficientes e utilizados de forma cada vez mais profissional”, argumentou. E sem nenhuma dúvida, o presidente da Embrapa vê a continuidade da produção sustentável do país e essa é uma “premissa” da atualidade. Moretti destacou que “o agro já vem em uma jornada de descarbonização” e vai nesse caminho, fato que deve continuar sendo comunicado e “vamos seguir falando”, garantiu.
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