Advogado diz que conduta dos PMs em Paraisópolis ‘não tem relação’ com mortes
De acordo com ele, a tragédia aconteceu por causa do ‘tumulto’
O advogado dos 31 policiais militares envolvidos na tragédia de Paraisópolis, Fernando Capano, disse neste sábado (8) ao Jornal da Manhã que “não houve nexo de causalidade” entre a conduta dos agentes e as nove mortes ocorridas durante a operação. Ontem, a Corregedoria da PM julgou legal a atuação dos policiais durante o baile da D17, ocorrido em 1º de dezembro.
“Eu tenho falado desde o início que, para mim, a atitude dos policiais não tem nexo de causalidade com as lamentáveis mortes dos jovens que ocorreram em Paraisópolis”, afirmou Capano. De acordo com ele, a tragédia aconteceu por causa do tumulto. “O local é ruim para ter uma aglomeração de sete, oito mil pessoas.”
Ele ainda chamou o episódio de “lamentável” e lembrou que “não se pode criminalizar as vítimas, nem o movimento”. Os jovens, que tinham entre 14 e 23 anos, tinham lesões compatíveis com pisoteamento.
Capano explicou, no entanto, que o inquérito ainda não está totalmente finalizado, pois quem faz a homologação é a Justiça Militar. Além disso, existe um julgamento na Justiça comum que, para o advogado, deve ser encerrado nas próximas semanas. “É exatamente a mesma coisa, com as mesmas provas. Acho que o relatório produzido será o mesmo, mas tudo isso ainda será objeto de crivo da Justiça Militar”, concluiu.
Fotos e vídeos
Vídeos gravados por moradores e divulgados à imprensa mostraram PMs encurralando dezenas de pessoas em vielas e batendo com cassetetes. Capano assegurou que as imagens não são referentes à operação do baile da D17.
“No dia da ocorrência, não temos imagens de qualquer tipo de ação brutal da PM”, afirmou. “Os vídeos são de ocorrências anteriores, do mês de outubro. O próprio inquérito comprovou que as imagens não diziam respeito àquele dia.”
O advogado reforçou a versão da Polícia Militar de que agentes se dirigiram ao local do baile atrás de dois fugitivos que estavam em uma motocicleta e que teriam atirado contra a polícia e causado correria na multidão. Ele disse, inclusive, que áudios do Centro de Operações da PM comprovam isso.
Moradores da comunidade, no entanto, negam essa versão e dizem que a operação parecia premeditada e que seria uma vingança contra a morte de um policial ocorrida no mesmo local, um mês antes.
Afastamento
No dia 10, o governador João Doria afastou os 31 policiais que participaram da operação. De acordo com Capano, os agentes devem continuar nas funções administrativas por até seis meses. “Há um regramento que qualquer policial envolvido em ocorrência cujo resultado seja morte precisa ser afastado, até para preservá-lo do ponto de vista psicológico. Nenhum policial sai às ruas para matar, eles saem para preservar a vida.”
Entretanto, ele acredita que, caso o inquérito seja solucionado da maneira como está sugerindo a Corregedoria, os policiais possam voltar aos seus postos.
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