Apesar de baixa no preço do diesel, impacto da inflação ainda afeta população, avalia economista

De acordo com o especialista, mesmo que a redução do preço do combustível impacte positivamente na economia, isso não significa que os preços vão diminuir e aliviar o bolso do consumidor

  • Por Jovem Pan
  • 12/08/2022 09h58
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Foto: ROMILDO DE JESUS/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO - 4/1/22 Tabela de preço de combustível em posto de Salvador Combustíveis são um dos principais vilões para a inflação da economia brasileira

O novo valor do diesel nas refinarias passa a valer a partir desta sexta-feira, 12, depois de, pela segunda vez em duas semanas, a Petrobras reduzir o valor do derivado do petróleo, que ficou R$ 0,22 mais barato para as distribuidoras. Para falar do impacto desta decisão na economia, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou o professor do Instituto de Economia da Unicamp, Marco Antônio Rocha. De acordo com o especialista, mesmo que a redução do preço do combustível impacte positivamente na inflação, isso não significa que os preços vão diminuir e aliviar o bolso do consumidor: “Embora a inflação internacional esteja bem elevada, o Brasil já vem sofrendo com um processo inflacionário desde o final de 2020, sobretudo devido a uma certa má administração da taxa de câmbio pelo Banco Central. A gente teve uma série de reduções agora, inflação parece que deu uma aliviada, o que era esperado para o segundo semestre. Mas o impacto de 2021 e 2021, com a inflação de dois dígitos, na renda disponível da população já foi muito significativo”.

“A população já absorveu uma perda de poder de compra muito significativa e um alívio na inflação não significa uma redução de preço, significa apenas uma estabilização dos preços nesse patamar já bem elevado. Estamos com cerca de 40 milhões de pessoas passando fome, com risco de soberania alimentar. Então não é uma redução que vai trazer um alívio nesse cenário. Isso traz um certo alívio pro governo, principalmente com a proximidade das eleições. Pelo menos pausa um certo derretimento da popularidade devido a um cenário inflacionário. Mas o impacto, a perda de renda e a perda de qualidade de vida da população já foi sentida”, argumentou. O economista avaliou que a redução do preço foi acertada, mas ponderou que o valor do diesel ainda está elevado em comparação aos patamares internacionais: “Temos que lembrar que o valor que chega agora na refinaria, após a redução, ainda é cerca de 55%  mais elevado do que o valor do diesel no começo do ano. A gente está tendo uma série de reduções que está compensando uma série de aumentos que teve. Estamos nos aproximando de um nivelamento com o preço internacional. E isso ocorre devido à queda do preço internacional do petróleo e uma certa estabilização da taxa de câmbio. Mas o preço do diesel está em um valor superior do que ele era em maio, que chegou a R$ 4,90 o litro”.

O professor da Unicamp ainda ressaltou que a série de aumentos do preço do diesel, desde 2021, impactaram diretamente no crescimento da inflação, que ainda tem os efeitos sentidos pela população. Além disso, para Marco Antônio a redução o preço do combustível nas bombas deve ser moderada: “É um valor bem alto, que onera uma série de cadeias produtivas do Brasil. Lembrando que o transporte rodoviário é o modal logístico mais importante do Brasil e isso vem sendo um dos principais vilões da inflação, não só no preço dos combustíveis, mas sobretudo no preço dos alimentos como estamos vendo. A gente espera agora que com uma certa calmaria no conflito da Ucrânia e a taxa de câmbio tendendo a se valorizar, que o preço do diesel sofra novas reduções… Depende de como o consumidor vai sentir isso. A gente tem que lembrar que a cadeia de combustíveis, da refinaria ao varejo, varia muito em termos do grau de competição ao longo da cadeia. Como no varejo é mais pulverizado essa competição, muitas dessas margens foram espremidas no processo de elevação do preço. Pode ser que o varejo tente recompor algumas margens de lucro nesse momento. E o consumidor, dependendo da região, sinta um pouco menos a redução. Mas ela deve chegar rápido, até semana que vem, na maior parte das localidades”.

A respeito da expectativa de redução do preço do petróleo internacionalmente, com o fim gradual da guerra na Ucrânia, o economista ressalta que os preços não retornarão ao patamar anterior ao conflito: “Dificilmente a gente vai ter um cenário que o barril vai chegar, a curto prazo, novamente ao patamar de US$ 60, como estava antes da pandemia. A gente tem que lembrar que, mesmo que a guerra se encerre, as sanções comerciais à Rússia devem permanecer por um tempo, e isso ainda produz alguma turbulência do cenário internacional. A gente está vendo uma série de movimentações geopolíticas da China em relação à Rússia, afetando o Oriente Médio e reorganizando o Oriente Médio por causa disso. Não deve chegar ao preço do auge da guerra, de US$ 125, US$ 130, mas deve se estabilizar em um preço relativamente alto em comparação ao que a gente viu, por exemplo, no começo de 2020”.

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