Autoridades cobram ações do governo contra escassez de remédios para UTIs

Prevendo um ‘cenário trágico’ nas próximas semanas, prefeitos e governadores recorrem ao Ministério da Saúde para suprir a falta de sedativos, anestésicos e bloqueadores musculares

  • Por Jovem Pan
  • 19/03/2021 09h23 - Atualizado em 19/03/2021 15h45
ALEXANDRE GONÇALVES/ISHOOT/ESTADÃO CONTEÚDO - 03/03/2021 Paciente sendo retirado da ambulância O Ministério da Saúde requisitou à indústria os estoques de medicamentos usados para intubar pacientes, como sedativos, anestésicos e bloqueadores musculares

O prefeito de Ipaussu, no interior de São Paulo, vive um drama. Quase sem vagas nos hospitais da região, Sergio Filho também corre contra o tempo para encontrar profissionais e remédios. “Não somente obter todos os equipamentos para UTIs, mas, agora, a grande dificuldade, além dos profissionais, também são os insumos e medicamentos para manter a demanda na nossa região”, conta. A falta de insumos imprescindíveis para enfrentar a Covid-19 é iminente de Norte a Sul do Brasil. A Frente Nacional de Prefeitos enviou um ofício ao presidente Jair Bolsonaro e ao Ministério da Saúde cobrando ações para suprir a escassez de oxigênio hospitalar e de sedativos usados na intubação de pacientes graves da doença. Jonas Donizette, presidente da entidade, prevê um cenário ainda mais trágico nos próximos dias. “Alguns remédios subiram até 10 vezes o valor do preço. O gestor, o secretário, o prefeito, fica em uma situação muito difícil, porque depois também pode ser acusado de superfaturamento. Então é importante que o governo federal garanta o fornecimento dos medicamentos por um preço justo.”

O Fórum Nacional de Governadores pediu a compra emergencial de 11 medicamentos. O governador do Piauí e presidente do Consórcio Nordeste, Wellington Dias, defende um acompanhamento mais rigoroso dos estoques pelo governo federal. “Já são 18 Estados, por exemplo, que têm dificuldade com a escassez de bloqueador neuromuscular, e são medicamentos essenciais para quem está sendo tratado em UTI, em leito clínico. Queremos que se tenha mais que o monitoramento, que se tenha medidas para aquisição a nível nacional pelo Ministério da Saúde”, disse. Uma pesquisa do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo mostra a gravidade da situação. Ao todo, segundo o estudo, 77% dos profissionais que atuam nos hospitais relatam a falta de sedativos nas unidades. Outros 53% dizem que não há equipamentos de proteção suficientes. O presidente do Conselho, Marcos Machado, atribui a escassez ao desequilíbrio entre a oferta e a demanda. “Pela alta da demanda, pelo custo porque aumentou exorbitantemente, inclusive não sei se precisava todo esse aumento de preço, mas subiu em demasia também. Grande procura, alta de preços e também por escassez de mercado.”

O Ministério da Saúde requisitou à indústria os estoques de medicamentos usados para intubar pacientes, como sedativos, anestésicos e bloqueadores musculares. A presidente da Associação de Medicina Intensiva, Suzana Lobo, afirma que essas drogas são fundamentais nas unidades de terapia intensiva. “Não é possível tratar esses pacientes sem esses medicamentos. Seria desumano, compromete fortemente a segurança do paciente, o conforto e pode levar a consequências psicológicas e físicas”, afirmou. De acordo com mapeamento feito pela Agência nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), 22 medicamentos utilizados em UTIs para Covid-19 estão em falta. Em reunião com representantes de hospitais nesta quinta-feira, a agência reguladora prometeu flexibilizar procedimentos para que esses insumos sejam disponibilizados mais rapidamente, sem prejuízo da eficácia, qualidade e segurança.

*Com informações da repórter Caterina Achutti

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