Puxado pela alta da inflação, auxílio emergencial perde poder de compra em mais de 70%
Com valor mais baixo que no início e sem reajuste à inflação, recurso atualmente só permite comprar 23% dos itens da cesta básica
O auxílio emergencial não tem mais o mesmo efeito desde o início da pandemia. O benefício do Governo Federal vem perdendo o poder de compra em mais de 70%, resultado puxado pela alta da inflação. Criado em abril de 2020 para ajudar a população desempregada no país, o benefício bateu recorde negativo de 78,7%. O valor mínimo de R$ 600, por exemplo, conseguia comprar uma cesta de itens essenciais para uma família carente e ainda sobrava um pouco. O auxílio oferecido no início da pandemia pelo governo variava entre R$ 600 e R$ 1.200, dependendo de cada perfil. Os valores eram divididos em parcelas. Sem previsão de retorno das atividades 100% presenciais, o governo voltou a oferecer o recurso à população, mas com os valores bem mais reduzidos. Agora, o benefício vai de R$ 150 a R$ 375. Hoje, o valor mínimo do auxílio emergencial só consegue comprar pouco mais de 23% de uma cesta básica essencial, que hoje já custa R$ 650. Os valores da cesta básica são calculados pelo Dieese, departamento intersindical de estatística e estudos socioeconômicos.
Segundo o IBGE, hoje o benefício deveria ser de R$ 701,66 para acompanhar a inflação e repor as perdas. Entretanto, o governo não está disposto a manter isso. O ministro da economia Paulo Guedes já indicou que não pretende mais estender o auxílio emergencial à população. Jeferson Mariano, economista do IBGE, confirma os fatores que diminuíram o poder de compra do principal auxílio às famílias carentes durante a pandemia. “Inflação acumulada em 12 meses já ultrapassa 9,5%, já estamos quase chegando a dois dígitos, e o mais complicado ainda, especialmente para a população que acessa esse benefício, é que essa inflação está muito concentrada em itens que fazem parte da cesta básica. Se pegarmos a inflação acumulada e observarmos os itens que mais subiram, pelo menos os dez ou quinze primeiros são de alimentação e gás de cozinha”, afirma.
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É necessário criar medidas de segurança econômica para que o cenário nesse segundo semestre apresente uma evolução satisfatória no poder de compra dos brasileiros. Ainda segundo Jeferrson Mariano, as medidas devem estar voltadas para a cesta de consumo dos principais alimentos. “Parece que há uma pressão no câmbio bastante intensa ainda. Está entrando esse período de bandeira extra, com relação à cobrança de energia elétrica, então há um impacto no custo de produção para as indústrias e também no salário das famílias, a questão dos gastos, o salário não vai dar conta de fazer frente a esses novos gastos, por exemplo o aumento da energia elétrica. E o grupo da alimentação vai continuar sofrendo essa pressão, por conta do custo das matérias primas e a estiagem que ainda está bastante intensa”, afirma. Entre abril de 2020 e agosto de 2021, a inflação medida pelo INPC ficou em 11,1%. O INPC é o índice calculado pelo IBGE para medir a inflação para famílias que ganham entre um e cinco salários mínimos.
*com informações do repórter Maicon Mendes
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