Bares que fizeram história fecham as portas por causa da pandemia e setor projeta difícil retomada
Estabelecimentos comerciais nas áreas centrais e boêmias de Rio de Janeiro e São Paulo precisaram encerrar atividades após décadas por causa da falta de movimento e renda
Cadeiras levantadas, mesas vazias, copos no balcão e portas fechadas. Dentro da Casa Villarino, um dos berços da bossa nova, no centro do Rio de Janeiro, restou apenas as boas memórias. O bar que selou a parceria entre os músicos Tom Jobim e Vinícius de Moraes, em 1956 e foi palco de encontros de grandes personagens da boemia carioca não resistiu aos impactos da pandemia. A proprietária da casa, Rita Nava, explica que o esvaziamento dos escritórios na região pesou para o fechamento do local. “Com isso, a cidade esvaziou. Hoje é uma zona comercial que poucas pessoas moram aqui e isso afetou muito, afetou a cidade toda, muitos lugares fecharam e a gente também demorou muito a tomar essa decisão, mas achou que diante da viabilidade econômica era a melhor solução”, explica. O drama se repete em todo o país. A associação brasileira de bares e restaurantes estima que na cidade de São Paulo, 12 mil estabelecimentos fecharam as portas em definitivo e mais de 70 mil trabalhadores perderam os empregos.
A fachada simples do Pasv, tradicional restaurante localizado na Avenida São João, em São Paulo, é símbolo de um ano em que milhares de estabelecimentos não resistiram aos estragos causados pela pandemia. Conhecido pelos clássicos pratos da gastronomia espanhola, a casa que funcionava há cinquenta anos encerrou definitivamente as atividades. O retrato de hoje representa toda a agonia de um dos setores que mais sofreram no ano. O presidente-executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, Paulo Solmucci, diz que o setor pagou uma conta maior pela falta de gestão das autoridades. “Nós encerramos um ano vivendo em momentos de restrições novas, muitas dificuldades, com mais da metade das empresas com contas atrasadas, com quase todos os funcionários vivendo em uma insegurança enorme porque não sabem se têm um emprego, nós estamos abrindo o ano sem saber se estaremos de portas abertas ou não, mas o pior de tudo: vivemos um ano de governantes absolutamente desrespeitosos, não só com o nosso setor, mas com a sociedade”, afirma. No Rio, o sindicato de bares e restaurantes informou que o faturamento dos locais está entre 50 e 60% dos valores anteriores à pandemia.
Os estabelecimentos mais afetados são os localizados na região central da cidade, como o Villarino, de Tom e Jobim. Para a Rita, sobrou o lamento. “Em todas as cidades do mundo, a cultura está no centro, porque é onde tudo começa. Aqui a gente em museus, o teatro, tudo aqui. As igrejas lindíssimas que tem aqui e não vem ninguém”, afirma. O núcleo de São Paulo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes prevê queda de 50% no faturamento dos estabelecimentos no mês de dezembro. A razão da estimativa de perdas é a suspensão da liminar concedida à entidade, que liberava a venda de bebidas alcoólicas para restaurantes associados à após as oito horas da noite.
*Com informações do repórter Vinícius Moura
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