Bloqueios em rodovias afetam mais de 30 linhas de produção, diz associação da Indústria de Alimentos

Especialista explica que, se movimento permanecer, toda a cadeia de fornecimento de produtos interna do país pode ser severamente afetada

  • Por Jovem Pan
  • 03/11/2022 08h32 - Atualizado em 03/11/2022 11h42
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Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO Apoiadores do presidente e candidato derrotado Jair Bolsonaro (PL) em um bloqueio ilegal na Rodovia Castello Branco, em São Paulo Apoiadores do presidente e candidato derrotado Jair Bolsonaro (PL) em um bloqueio ilegal na Rodovia Castello Branco, em São Paulo

Os bloqueios das rodovias feitos por manifestantes bolsonaristas e contrários à eleição democrática de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já afetaram, até o momento, mais de 30 linhas de produção, que estão paradas ou com o risco de parar, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA). Em nota, a entidade informa que, se os bloqueios forem mantidos, a partir desta quinta-feira, 3, há risco de descarte de, no mínimo, 500 mil litros de leite por dia pelos principais fornecedores de apenas uma indústria associada. Segundo a ABIA, os descartes ocasionados pelas paralisações nas estradas podem causar prejuízos milionários para a economia, impactos na inflação, além de um desserviço aos esforços empreendidos pela sociedade no combate à insegurança alimentar. O vice-presidente da ABIA, Márcio Milan, diz que uma das maiores preocupações é com produtos que possam estragar no meio do caminho: “Uma das preocupações que nós temos é, principalmente, com relação às lojas que se abastecem do Ceasa. Para que essas lojas se abasteçam, há a necessidade que os produtores façam a entrega desses produtos no Ceasa. E, essas entradas no Ceasa não estão ocorrendo, consequentemente, esse produto tendo a falta sentida. E a preocupação também é com relação ao que vai acontecer com esses produtos, que eventualmente vão se estragar ao longo da cadeia. Se, de um lado, a gente tem uma certa insegurança alimentar, do outro existe a possibilidade de vários produtos se perderem ao longo da cadeia, gerando desperdício”, diz.

Os empresários dizem que o fechamento de rodovias compromete severamente o acesso das indústrias às matérias-primas e insumos essenciais à produção e impede a distribuição de todos os tipos de alimentos, inclusive leite em pó e fórmulas infantis. Ainda há relatos de falta de combustíveis em diversos locais do país como São Paulo, Distrito Federal, Pará, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) registrou um movimento abaixo da média em seu maior entreposto. A redução já era esperada, em função do feriado de finados no meio da semana, mas foi impactada também pelos bloqueios das rodovias. De acordo com a Ceagesp, entre meia-noite e 18 horas desta quarta-feira,2, seis mil veículos deram entrada no local. Na quarta-feira da semana passada, sem feriado e bloqueios, foram 11.711. De acordo com a direção do entreposto, a tendência é de normalização e, até o momento, não há desabastecimento.

Para o especialista em gestão de transportes Leonardo Benitez, os efeitos das manifestações nas cadeias de suprimentos precisam ser monitorados com atenção. “Eu não acredito que a gente chegue no nível em a gente chegou em 2018, mas a tendência é que, se continuar a paralisação um pouco maior do que a gente tem hoje, já vai começar a ter esse risco, essa inflação. E a gente está falando de alimento, que é um item básico, mas, por mais que a gente fale só numa questão econômica, existe uma questão de cidadania, uma questão individual de trânsito de pessoas, transporte de equipamento para hospital, remédio… Todas as cadeias de suprimento estão sofrendo em cima disso. Esse é um dos exemplos quando a gente fala desse descarte. Eu vi carga de animais vivos parada no trânsito. Tem uma série de exemplos que afetam, e que a gente acaba tendo um ou outro só na mão, mas o mercado inteiro. a cadeia inteira de suprimentos, por ser interligada, acaba sofrendo”, explica.

*Com informações do repórter Daniel Lian

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